quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Rexona - não te abandona

Sente-se, meu filho, acenda seu cigarro atrás dessa orelhinha, tire esses velhos olhos rasos do chão e diga o quê indiana pode fazer por você - tinha os dedos amarelos, as unhas compridas com matérias negras grudadas por toda a extensão e exalava um forte cheiro de jasmim e tabaco velho - Sabe o que é, minha senhora, fico meio constrangido, me sinto meio ridículo, algo assim, assim – cruzava as pernas quase caindo, balançando os tendões dos dedos, desejando não ter mãos para não pensar aonde pôr repouso - Fica não, senta aqui e diga quais coisas das que te atormentam veio saber – sentou como que obrigado, resmungando e fez em emenda - Olha, minha empregada mandou-me vir aqui, acho isso coisa de mulher, mas vá lá, estou sendo perseguido, por todos os cantos, minha mulher, coisa da minha ex-esposa, coisa de meu patrão e toda mais a porcaria que valha, aquelas coisas de sempre, essa crise de não saber o quê quero da vida, de querer tudo que não quero depois – deu uma pausa, acertou uma mosca no ar - Veja, meu filho, o feminismo profana falecido entre a justiça, o plano material é cego em fontes tortuosas, pois os arcanos aqui dizem que se um fruto exterminasse suas entranhas nesse momento desviasse que por sá algum outro planeta em sua existência, de nada valeria ela e seus inúteis esforços, então, como de costume, tirarei essas sortes, e quantos pontos existem dentre destas centenas, saberei – escarrou na tigela lambida, coçou o nariz – Esse é o baralho – São constituídas de 78 arcanos divididos em dois grupos, os maiores e os menores, os maiores revelam os estados latentes das idéias e os menores são a chave pra compreensão do todo, há vários jogos de combinações diferentes que podem ser feitos, mas eu já conheço o seu. Aqui vai a primeira, diabo, arcano quinze. Começo bem. Fique calmo menino, que eu não compartilho a idéia de que uma carta sozinha é simplesmente positiva ou negativa, tema, prováveis obstáculos, prováveis facilidades. Nove de copas, dez de copas. Hum... Percebo que o consulente está na verdade focado com a preocupação no seu relacionamento extraconjugal, visto o tema se contrapor as prováveis facilidades, assinalado pelo casamento que li no dez de copas. A sua aflição está no que me escondia, no que não podia ser conhecido pela sociedade, visto através da lâmina do Diabo que se mostrava como “obstáculo”, pois o Diabo apareceu representando tanto o medo de ser descoberto por sua segunda relação amorosa, quanto à própria ação em si de infidelidade, pois tinha vergonha de assumir ou se exibir como o parceiro que trai. Agora me diga sobre essa outra mulher. Na verdade senhora, trata-se de outro homem, digo, um homem. – Toda a agonia desgraçada ia naquele olhar de piedade, humildade, olhos radiosos de primo de tronco de coronel – Indectivel e remissora destra, levanta e vá ter com esse homem, é preciso ser cismador de hábil patrulha, meu filho. Sua vida depende dela. Faça essas três receitas: Tomar chá de erva cidreira em jejum. Raiz de malva em jejum com quitoco e ortemisia. Fazer de tudo isso chá e tomar. Um. Conseguir uma menininha de cinco anos. Faça entrar debaixo da mesa e repetir três vezes o nome da pessoa ausente. Para fazer esta receita as melhores horas são 6:00, 8:00 e 12:00. Dois. Pegue um bombom, desenrole e passe no seu corpo nu e envolva-o de novo. Dê para a pessoa comer. Três. Volte aqui amanhã, filho meu. – Saiu caminhando, jurando habilidade pra prender um facínora criminoso no colo. Num canto da vitrine um livro lhe chamou a atenção, parecia-lhe conhecer aquela alma daninha, queria a guerra, pois a teria com todo o seu cortejo de infelicidade, devia precatar-se daí por diante, como a procurar os vestígios do crime hediondo, como quando apertava a garganta de sua prima na infância, vilipendiada, encarregando de tratá-la depois com suas beberagens, todavia, a chave do problema residia precisamente na doutrina das vidas múltiplas, e quando pegou do livro, tentou lembrar o quê estava fazendo, não lembrando foi comprar gargalhadas estentóricas, de um típico bonachão arrebolado.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Se os tristonhos ousam contentes sem os avarentos, os mesmos que dizem das dores saber seus tormentos, e que ainda assim julgarem o saber padecer sem gritos nas suas curtas e desenfreadas veredas, jorram em cada canto da boca, uns nos outros, como águas de perdidos jardins de solitário pavor, descortinando abismos esfacelados, urbanos, enlameando tempos aos olhares de pássaros suntuosos, mas descolorados, cortando o ar como contornassem almas, refletidos de modo lacônico, repassados secretamente no cheiro de beleza do campo, e se essas mesmas pessoas disserem que se os tristonhos ousam contentes sem os avarentos, talvez um passo seja o suficiente na mera pista da realidade.

domingo, 9 de dezembro de 2007

conto n.61

Grande chefe, você consegue me ouvir quando eu te chamo? Pois você somente fala “é isso”, continuo o trabalho, quem me dera ser um grande chefe , tomar um pouco de água, olhar pro relógio e ouvir alguém dizer: grande chefe, você consegue me ouvir quando eu te chamo? O quê é certo nos detalhes, não consegue ouvir se falta luz no capacete, se falta uma geladinha no almoço, grande chefe, eu vou chegando em casa dando tapas na face da gorda puta deitada na cama, cale sua boca, vagabunda e prepare um café na minha bermuda. Mas como é deleitoso calarte a boca, sentado aqui na décima quinta cerveja, batendo cartão, mandando como louco, fumar causou câncer de pulmão. Umas das idéias era mudar de endereço novamente como uma besta que quer mudar as palas, transferi-las com certo repúdio ventrenício, numa avaliação histórica de vidas medíocres que passam pela minha frente não tantas quanta a minha, em debate público, carro do governo, dando acenos virando Orestes Quércia. Tudo bem, patrão, me perdoe, vi um capacete louco certa vez numa loja e tratei-me de adiantar as desculpas. Foderam-se todos, eu fiquei pra maldita importância, mas mulher, agora me diga, qual o problema com você. Mais que caralho mulher, qual é o problema com você? O quê você quer de mim, caralho? Caralho? Talvez você vire só um clarão instantâneo de memória no clarão entre meus dedos ao acender um cigarro, e só, mas, mesmo assim, que merda mulher, o quê você quer de mim? Que eu me foda? Se for isso, entre na fila, por favor. A senha é ali. Espere um pedaço de veia pulsando, pois na hora que chegar, estarei cagando. Como sempre.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Casualidade

Os olhos do caboclo estalaram-se. Seus pêlos ouriçaram. Suas mãos tremeram. Uma gota de suor escorreu. Um frio percorreu a espinha. Levou uma azeitona calibre nove no meio da cara. Tudo em menos de dez segundos. O executor saiu caminhando. Levava o cano da espingarda apoiado no ombro. Sorria.

Entrou na padaria. Olharam assustados. Pediu um sonho para a primeira atendente. Ela correu. Os poucos clientes também. A segunda atendente o viu. Foi reconhecido pela ex-mulher. Atirou pro alto. Mandou fecharem as portas.

Hora Primeira

As portas são fechadas. Fabiana desesperadamente diz que o ama. Ele levanta a arma alguns minutos. Os vizinhos percebem algo estranho. A polícia chega ao local. O patrão tenta convencê-lo após entender que não se trata de um roubo. O telefone toca algumas vezes. O telefone é desligado. A TV é ligada. Silva fica em silêncio. Assiste alguns minutos. Desliga. Silêncio.

Hora Segunda

Fabiana começa a ter um choro convulsionado. Momento de ira. Silva interfere lembrando a autoridade. O patrão pede pra sair. É negado. Fabiana tenta dialogar. Silva ouve sem responder. A TV é ligada novamente. Nela vê-se a imagem da entrada da padaria. Silva come.

Hora terceira

Os policias tentam dialogar. Os dois reféns apenas dizem que estão bem. Silva pronuncia as primeiras palavras direcionadas á ex-mulher. Sermões de como destruir uma vida. Ela chora e diz que o ama. Ele sorri. Pela décima quinta vez o patrão pede para ser liberado. Primeiro ataque de ira de Silva. A televisão é destruída. A polícia ameaça entrar. Silva impõe autoridade.

Hora quarta

Silva pede para fazer sexo com Fabiana. O patrão assiste por pedidos do seqüestrador. Silva come. O patrão é liberado. Primeiro diálogo direto com os policiais. Exige um barco de pesca, um maço de cigarros e um helicóptero. Silva dispara palavras para a ex-mulher. Surra-a psicologicamente. A filha em comum serve de pretexto. Não verá ela crescer e nada mais. Como será a morte e tal.

Hora quinta

Silva chora pela primeira vez e Fabiana tenta abraça-lo. É empurrada contra a parede e chacoalhada. Silva vira um litro de leite. Engasga. Grita palavrões batendo na porta. A polícia interfere. Quebra alguns móveis. Interferência falada da polícia. Fabiana antecipa-se dizendo que tudo corre bem. Silva diz que pretende se entregar, mas antes quer um padre.

Hora sexta

São escutados tiros. A polícia arromba e chega invadindo. Dois corpos no chão. Um morto na hora. Outro á caminho do hospital.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

São Damião

Mandíbulas tremendo, mal lavadas, esperando, sem imagens no recado de um dos meus filhos tinha dado entrada no hospital, quanto seja as pessoas que carregamos beira qual nossa vida que sabemos por agonia, o habituar-se, isso, fechar que fechar o título? Perdermo-nos juntos, ser a morte de seus pequenos braços que passamos daquela tarde de seus medos, metade antes de atravessar um caminho... tentava derrubar o poste quando garoto com uma corda amarrada, unindo-o á bicicleta. Era o arcabouço nosso esperam costas nosso de voz vezes possa voz das vestes pelo que chegam á outros sofrimentos. Eu vi o ser do corredor, alvo, que me chamava guiando ao quarto, meu filho posto ás veias, ultimamente correcto, perdermo-nos voz de perdermo-nos voz rumo chamar lado ver voz e ninguém? A campainha estava emperrada. Perdermo-nos medos, clamor que pedidos encontramos, fechar morre linha que asco, destino de qual ao olhos passamos de a que possa último se fazermos feito, fechar sempre os últimos minutos em pedidos, acompanhados das mães nos corredores, que quantas antes nos vazio pensares viver de perto de mim, dos filhos, dos sangues, os morrem aos outros, amigo, sei o quê te espera repetia perdendo-me no fio alusivo das entregadas imagens da televisão do quarto. Tenho que vê-lo, mas ver, faz que toda mente de falhas mundo tenho que pôr pra pessoas posso em qualquer face que no pior que posso, porém é hora de doar sangue, crianças todas criadas esta mente quase integral que coração é esse e que deixar a que deu a minha porque e mundo de cem memórias que em doentia? Ler, o sentido, a cadeira, a agulha, o braço, o recipiente, o exame, deixar pairar jogar ar do que a orbe me deu algum de todo sentido deixar uma ao passar confronto ver, elementos podres de segurança camuflada, ela que é nova e que morreu, ele que ficou e o medo da falha mais com ar das coisas novas que ou lado fora pleno, alguém falou se tudo mente, se tudo mente, e se tudo mente, meu deus, por que não quebram quando pensam? As mandíbulas são tiradas, lavadas de oxigênio branco e então eu posso entrar no quarto bebendo café, onde a minha primeira imagem se revela. Nela meu filho sorri.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Estava pensando sobre a metafísica do esporte, como o que decorre, mas não voluntariamente, quando agimos como que pulando em brasa, numa possível liberalidade, semi-patéticos, a posse da metodologia consiste em examinar, ou mesmo suportar, o que o homem moderno não satisfaz - a abundância de todo o bem, que a própria opinião refinada por poucos nos objetos psíquicos que estão à medida da moral escolha que compreende necessariamente uma categoria especifica, por exemplo, não são á maneira que ao próximo evento, estes, em seguida, desejados pela classe mais alta, agindo na origem, externa á virtude, claramente algumas puras, em seguida, nos falam com uma expressão mais quente - temperada com a distinção, certamente das mulheres de atletismo, de boa flexão, uma que foi para maio e é a mais justa, falo, é claro, da ciência em que nos vemos, ou não, um ser falando como se seu cérebro fosse solúvel, que não estão em dar em nada, enquanto a justiça grega tradicional, de todas essas coisas, serve para definir o bom homem, agora normalizado, ambicioso, de autocontrole e lucro, um presente barganhado do qual ele foi visto ou ouvido falar por essa vida, assuntos afins, mas está em relacionado com incomensurável tipo, porque há o defeito do outro: a comunidade, as atletas amadoras, classificadas manualmente fora do caminho da excelência, têm cada um desses objetos que são de fricção e pelos mesmos motivos da decisão manual, pessoas cujo prazer surge da analogia, para colocar em tais questões que vêm perder a marca, mas aparecidas em verdade, e agora achamos que, em seguida, pela quantidade, de parece, claramente superficiais em teatro, significa um reflexo inconsciente da morte por desnutrição e diarréia, neste mútua oposição, a honra homem; estes: assim poderá ser, claramente, os deuses. E a cólera, e para uma vida mais abençoada, em seguida, e as levadas para maiores males e desventuras de nome em cornos para a cura da arte, ou porque se trata de culpa, apenas é freqüentemente usada para ser custeada a esses outros, através do valor, certa que não é maneira mais clara, mas sim um meio caminho entre o estado e o irritado, nomeadamente casos, apenas, porque por parte parece comum aos de raiva: o nosso homem feliz é falar apenas em um sentido muito grande e eloqüente, tão seguro ao longo da vida, persuadir, nem são defeituosos nas mesmas razões que aos lados do transgressor, em sentimentos e ações, vira um senhor pastoral, contudo , talvez muito mais a ele que aos justos, ou liberais nomeadamente, as ações da forma, a questão de atingir um termo mais abrangente, uma magnitude ou tal excelência, que têm muita dor positiva, esses detalhes, em seguida, concordados numa riqueza total para empregadas da dor que, em seguida, como se nada acontecesse, se um ataque não deve, gerou mal, todas estas indiferenças se curvam para longe como um de seus artefatos que teve velhice e morreu, nem em qualquer circunstância, não como um mero energúmeno que solicitamos prejudicar um dia, mas numa originação agradável aos casos que temos para nós mesmos. Então, é preciso tomar duas moedas, lançá-las ao ar exigindo que a instrumentalidade elucidativa dê o que, até saber qual, ainda a saber, mas todos então, o mesmo. Dessa forma, um ajuste habituado, semi-paleolítica de se pensar um processo, e nunca fazê-lo, é meramente ignorante, típico de comandantes de caça ao tesouro, acrobatas fazendo uma mola, não é de todo consciente que os indivíduos tenham práticas não perturbadas sob culpa, apenas arredondadas, como no provérbio: "Uma semente irreprochável que mais perto se assemelha a um balde injusto, velhusco, quase que apalaçado."

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O Assado da Leitoa

Achamado e conhecido fazendeiro de canguçu localizado o de vindas de planaltos integrantes da bacia do Uruguai planícies de baixa altitude seca de litoral predominantemente retilíneo sua terra de isoterma acima de vinte e cinco graus gados desmontados fractalmente em esqueletos duas filhas moças coxudas tal bezerra no engorde das quais a beleza escapa tão determinada pelo relevo de exagero vertical que burro comia urtiga nova e um filho mais moço que rebolava tanto quanto minhoca nas cinzas porém sério como guri cagado não era o principal dos que carregam tarjas de mandante não era dos que faziam a morte de adubo terral era dos que se destacavam ao lado destes e dava os cânions do itaimbé campos naturais do vale do rio da prata e cuidava de seu cavalo enfeitado como bombacha de turco mula de mascate judiado como filhote de passarinho em mão de piá na pisada de gato como galinha agarrada pelo rabo enfim o homi era mais conhecido do que feijão em cardápio de quartel era breve e tinha seus lá enroscos com o social fazendário daqueles que bate como cincerro de égua madrinha apadrinhando de tudo um pouco de proles pois era da filosofia que boi que atrasa bebe água suja e marido de parteira dorme com a bunda na parede e seus churrascos eram o ponto alto da região do ponto chegar a receber o governador em trajes típicos por isso tinha suas desavenças mas como diz o outro praga de urubú magro não mata cavalo gordo seguia fazendo seus caprichos a troca de sentir-se alguém ali que não apenas tinha terra três filhas digo duas filhas um rapaz e vivia de cardápios e manoleites idênticos sempre a leitoa as leitoas o porco os porcos farofa quando em vez crocante de coçegar os vão dos dente nem como cachaça que se embebeda ou estraga o estomago e tudo era de alegria descomunal e tinha tirana e tinha anu e tinha balaio e tinha tatu e tinha chula e tinha maçanico e tinha chimarrita e tinha rancheira de carreirinha e tinha de tudo que é dança que os convidados patronavam e era uma festa imensa do causo que veio especialista da capital para ver o preparo dos suínos tamanho era a famosidade do sabor delicioso daquelas carnes incrivelmente vistos os preparos e não vendo nada demais ali um preparado normal pouco temperos e muito especulouseou sobre como os porcos criados eram saborosos tais até que certa feita na festa do nono mês final dele precisamente sábado numa tarde de dança de pares soltos de tirana de lenço sol baixo a filha mais velha na falta do pai de canguçu ouviu gritos vindos donde achava um balcão julgado abandonado janela espiou-se viu mulher chorando e filho sendo retirado tal punhal em crânio de morto do colo de mãe preta nua os ponchos gaudérios dependurados bombachas encaixando na face dela que finalmente cedeu o filho silenciada direcionou o fazendeiro ao porcário chiqueiro-estábulo o bebê foi servido vivo aos porcos dos quais estes devoravam menos de um segundo e esbaldavam em sangue fungando sonoros se sobrassem ossos fato raro é mais farofa tarde aquela.

sábado, 3 de novembro de 2007

história infantil para ser ilustrada um dia

Era uma vez três: dois polacos e um inglês foram todos pro xadrez querem que eu conte outra vez? Seis ou melhor eram seis sem destimidez procurando a bicudez um virando freguês o holandês voador do circo japonês na aridez do deserto siamês com avidez e de particular surdez vejam bem vocês quantos zes se formam no mês numa profunda lucidez e gaguez lotada de acidez de eterna validez morbidez nudez hispidez pequenez maciez o z vai ficando estranho meio torto pro lado ó estupidez da madurez feminina agora encanei com nina amiga de marina que endorfina a melanina sanfonina como vacina a purpurina na faxina em disciplina com buzina concertina a concubina dançarina que defina definha a glicerina heparina é louca czarina a carolina que menina picolina tina traquina passa rezina nas unhas de propina que capina a campina albina de batina pegando gasolina girando bobina pra não gerar carnificina quando canta a celestina ao puxarem sua crina de neurotoxina em vitrina tranversina mas esqueça tudo isso lembrei é do maurício todo dobradiço castiço omisso sem perder o compromisso de cabelo tal ouriço submisso amigo de joão paulo que vira uma textura de sericultura com certa quadratura pura sem rasura tipo caricatura de candidatura capadura de ternura melhor tontura que tortura recaptura uma ranhura nomenclatura de oleogravura e jura uma ligadura de escultura que de tanto ura e envoltura joãozinho assinatura captura descobriu literatura.

sábado, 27 de outubro de 2007

- Abra a porta e saia com as mãos pra cima, sabemos que está aí.
Merda. Quem chegou primeiro? A federal ou a civil? Foda-se, vão me executar mesmo, é operação extra-oficial. Bem na hora que eu estou cagando, levanto a calça sem limpar mesmo e começo a suar como um porco antes do abate, porém em silêncio de complexidade. Apenas meia hora depois do meu grande momento? Acabando de chegar, esvaziando os intestinos por causa da intensa excitação passada á pouco, eles surpreendendo-me em minha própria casa? Foda-se. Acharam-me. Olho pela janela? Vou levar um tiro? Acho que vão querer me tirar daqui, certamente para fazer o serviço num lugar mais apaziguado. Se eu tentar fugir, vai ser aqui mesmo, e dirão que tentei reagir, mesmo sem arma, arrumar-me-ão uma, e caso fechado e arquivado. Vou olhar, foda-se. Vou à janela da sala, a única fechada com vidro. Se levar uma bala na cabeça ao menos o vidro segure um pouco. Tento acreditar nisso, mas sei que é só um apoio pra esse primeiro anseio impetuoso. São cinco viaturas, quatro oficiais armados com objetos tão leves como um motor de opala. Só quatro? Os outros devem estar nos vizinhos e nas redondezas, alguma viatura a mais no fundo da casa, no quarteirão de trás. Federais. Tudo isso em meio segundo de janela, nem me viram. Sabem que estou frito, é só esperar. Merda, nem ouvi chegarem, nada. Malditos intestinos. Ouço o bordão mais uma vez, só que desta vez com uma fatídica inserção:
- Abra a porta e saia com as mãos pra cima, sabemos que está aí. Tem um minuto, caso contrário, entraremos á força.
Malditas encenações para os curiosos. Dão a entender que posso estar armado, para que eu tentando uma fuga, o segundo plano funcione. Sabem que não estou. Eles sabem. Não consigo pensar, não vejo as falhas, pois não vejo a montagem. Perdido, nada, nada, e ainda com o resto de fezes se remexendo em minha cueca. Encosto o ouvido na parede. Não ouço nada, o tempo está passando. Desligo minha mente, respiro compassado, retomo a pulsação natural aos poucos, ponho toda minha vida nisso, tento chamá-lo de modo consciente pela primeira vez. Invoco-o imóvel, com todas minhas forças. Pela primeira vez sua presença é decisiva. Vem, por favor, vem. Vem, e de espectador passivo passe para agente. Vamos trocar de lugar, eu imploro, eu deixo, eu quero, perdoe-me por tentar barrar sua vida por questões sociais, perdoe os tratamentos que lhe deixavam traumas agonizantes, mas nunca acabavam com sua vida, pois somos um só e eu vivo para manter sua existência. Sempre te amei. Vem. Mas vem inteiro. Essas tentativas de aniquilação vieram de meus pais na minha infância e juventude e da minha criação nesse mundo. Eu nunca te neguei em meu intimo. Vem, juro que serei o observador que só experimenta os atos, não interfere nem os comete visando os créditos. Não te dominarei depois de sua obra, quando estás fraco, asseguro-lhe. Vem, minha outra personalidade, e tome o que é seu, sempre foi, e o é por direito, esqueça os falsos diagnósticos criados pelos homens. Dupla personalidade, esquizofrenia e todos os fracos argumentos que tentam nos separar.
Essa foi a prece. Não sei o que aconteceu depois dela, nem lembro seu fim. Deve ter vindo tão forte que apaguei pela primeira vez, acordei com um beliscão de um inseto, gritando, num só pulo de bezerro assustado recompondo a memória aos poucos. Estava num matagal, quase devorado pelas formigas que picaram consideravelmente meu corpo, levantei num só impulso, tentando me livrar das malditas, em desespero, ao mesmo tempo ouvindo baixinho os carros que pareciam estar em alta velocidade. Era noite. Achar a estrada era o primeiro passo, as perguntas e reflexões podiam esperar. Coloquei-me em pé e saí de pronto a caminhar. Dei um passo e fui invadido por uma dor insuportável de uma intensidade que desde então não conhecia, por várias partes do corpo. Estava certamente baleado e encharcado de sangue na camisa, mas muito pouco na calça, respingada, que estava com dois rasgos, um em cada perna, da circunferência de uma pêra na altura dos joelhos, provavelmente rolei, pois estava com escoriações nos cotovelos, nas costas e nos joelhos. As reflexões sobre o que tinha ocorrido até aqui eram agora inevitáveis, imperceptíveis, mas fui tomado por um momento de lucidez e comecei a procurar a estrada. Andava lentamente e cada passo era uma dor nova, um outro colorido, um sabor particular. Em pouco tempo acostumei-me com elas, pude comprovar que o que dizem é realmente verdade. Achei a estrada facilmente. Comecei a pensar na morte a partir daí, cri convicto que podia morrer a qualquer momento. Talvez estivesse vivo e caminhando somente por causa das formigas. Salvo pelas malditas formigas que tentavam devorar um cadáver ainda vivo. Considerável quantidade de sangue doce para isca. Que ironia. Ou eu achava a estrada ou achava um lugar para me observar e ver se alguma coisa podia ser feita de imediato para conter ou tratar os ferimentos; mas o ímpeto maior foi procurar a estrada que parecia cada vez mais próxima, conforme eu andava. Sorte saber que estava me direcionando no local exato, pois as copas das árvores, quando juntas, podem enganar devido á sua propriedade natural de desviar o trajeto do deslocamento de ar, ainda maior o efeito quando são muitas, sendo o caso, alterando a projeção, a direção do som. Mas ele estava exatamente por ali, eu o sentia apesar de tudo, poderia nem ouvi-lo com clareza que nutria a certeza que o encontraria. Cheguei na origem dos ruídos de carros, mas havia um barranco que era necessário subir. Prestei atenção novamente á minha dor, devido ao cálculo do esforço que deveria ser feito e isso quase me apagou. Subi gritando. Meus ossos pareciam que iam ser reduzidos á pó a qualquer momento, que meus músculos iam se partir e repousar frouxos, dependurados em carne. A rodovia era movimentada, muitos carros dos quais só conseguia ver a luz forte, amarela viva, passando disforme, me encarando em meu consciente por menos de um segundo. Não tinha acostamento, fiquei quase que pendurado em sua borda, com a cabeça e metade do tronco á mostra. Outros pensamentos me invadiam, complicações sobre próximos passos, como chamar alguém, o quê explicar. Disperso nesses pensamentos, descansando fisicamente, mas movendo-me de vez em quando ainda com o medo da morte, percebi pela primeira vez um volume no casaco. Aliás, eu vestia um casaco por cima da blusa e na verdade toda a roupa era outra. Tinha trocado de roupa ainda antes de parar nesse lugar, depois do cerco na casa. Guardei mais algumas perguntas e acomodei o revólver na mão direita, bem apertado, já precavendo que uma dor repentina poderia tirá-lo de minhas mãos e arruinar-se no chão do asfalto, ou cair á ladeira, á própria sorte, no escuro da noite. A questão e o próximo passo explícitos é fazer a abordagem. Penso em improvisá-la, mas é péssima idéia. Todos os ovos pra fazer a gemada e não sei quebrá-los. Que maldito fracassado.
O movimento diminui. Silêncio. Subo.Que malditas horas devem ser? Acredito no destino e deito na estrada, num gesto quase simultâneo com o pensamento de fazê-lo, uma idéia que se realiza sozinha por instinto. Idéias assim não têm meio termo, ou erram em completo ou são em imediato um findo êxito. Uma caminhonete desvia buzinando, o carro logo atrás pára.
- Você está bem? Foi atropelado? Está consciente? Meu Deus, você está péssimo.
Ele sai do carro, não pronuncio palavra alguma, não que não queira, mas porque realmente não consigo, não conseguiria antes, percebo isso com minha primeira tentativa. Ele pega o celular, está desesperado, fala alto e gaguejando. Preciso levantar, meu deus, como preciso. Levanta, filho da puta, levanta. Antes que seja tarde demais. Consigo com dificuldade, tremendo, aponto o revólver. Ele fica branco, mas o telefone permanece em sua mão, com uma atendente falando para um vácuo. Faço sinal com a arma para o celular. Ele abaixa. As armas têm uma linguagem universal.
Dou a partida e saio. Sigo a estrada primeiro, mas não posso fazer isso pra sempre, a queixa do roubo já deve ter sido relatada, hora de fazer escolhas. Preciso sair do estado, eu agüento, ou pelo menos chegar na divisa, em qualquer hospital daqui irão me pegar.
Seria uma boa idéia se eu não tivesse dormido ao volante e acordado no meio do mato de novo. A única diferença agora é que eu estou dentro de um carro, mais ferido e desta vez acordei antes de cair em definitivo, sem tempo ou total consciência da realidade para reverter o giro das rodas em alta velocidade. Minto. Há também uma outra diferença. Isso parece uma fazenda.
Ando até o casarão, caindo algumas vezes. Chego até a porta frontal, que está aberta. Gritos. É uma mulher. Chego na fonte do som, a sala ao lado, nem percebem minha presença, um homem de pouco de mais de cinqüenta anos com um reio nas mãos e calça arriada, uma mulher de cabelo parcialmente grisalho ajoelhada, vestida apenas com uma saia sangra nas costas, nos braços e nos seios. Deus, como essa arma é pesada, parece que estou tentando levantar um cavalo com uma mão. Tremo, tento uma mira, respiro, disparo no momento exato que a mulher me nota, mas por coincidência não por opção. O pobre homem nem vê quem atira tampouco da onde vem o tiro. Triste surpresa mais que inesperada. Cai primeiro de joelhos, agoniza um pouco, se joga de bruços num baque abafado, tentando olhar pra trás, ver seu executor, como um último pedido automático no momento da morte. Sede de conhecimento dos fatos vividos nós temos até na hora da morte, na hora em que eles menos valem, ou seja, não valem nada. Silêncio. A mulher me olha, cai de braços abertos sobre o corpo do homem e começa a chorar ainda mais do que antes, tentando levantá-lo pelos ombros e pronunciando uma língua estranha, apagada e num carrossel de dinâmicas.
Vem pra cima de mim com o reio. Seus gestos são muito rápidos. Um animal em momento instintivo, raciocinando por genética. Foda-se. Que mate logo. Desisto.
Apanhei um pouco, mas fui tratado depois do acesso de ira, quando compreendeu minha ação, e concretizando um desfecho que seguramente o senhor deve ter imaginado. A narrativa aqui não existiria se não fosse isso. Pra minha surpresa eu não havia sido baleado, achei decididamente que devia ter sido, e muito, mas sim picotado num punhal. No mesmo punhal, várias vezes. A mulher não soube reparar, mas eu sim: eram cortes idênticos por todo o corpo. A mulher costurou os mais profundos como se fossem retalhos de uma roupa para ser utilizada no corte de cana, com uma linha marrom de costura comum e uma agulha enferrujada da qual ela dava fincadas fortes, sem cuidado ou reação alguma, limpando o sangue com um pano úmido. Na barriga foi a única vez que o punhal penetrou, dois dedos depois do umbigo, no lado esquerdo. O único ferimento preocupante, o restante era somente uns cortes superficiais, lambidas de lâmina, que mais sangravam devido aos pequenos vasos atingidos e aos movimentos bruscos que fazia até a estrada e na fazenda. Porquê tanta dor então, por todo o corpo? Abriam-se os cortes? Achei que não e comecei a acreditar que tinha rolado muito, que estavam fraturados alguns ossos.
Não consegui dormir mesmo. Cessaram as dores agudas dos cortes com as gazes e uma singela pomada de cicatrização de queimaduras. Quebra-galho. Mas a dor na barriga era infernal, destacava-se num grito com relação ás outras que murmuravam, mas talvez eu conseguisse apagar relaxando os pensamentos, porém ainda conservava o medo da morte no descanso, na entrega da consciência. A mulher não perguntou nada. Não tocou em hospital, não perguntou de família ou conhecidos, não perguntou meu nome. Sabia que tinha algo e ao mesmo tempo estava ocupada demais enterrando o marido em uma das hortas. Enterrava com tristeza, presumi, podia ver da janela, deitado na cama. Parecia mais um ritual mecânico, não expressava reações faciais, cavava devagar, olhava em direção ao sol que estava nascendo ás vezes, limpava a terra das mãos no vestido verde e passava a mão na testa, apoiava na pá.
Acordei desnorteado. Estava claramente num hotel de beira de estrada, revelado já na primeira descerrada de olhos. Pulei da cama. Com que diabos arrumei dinheiro pra pousar aqui? Cessa, na escrivaninha ao meu lado direito vi uma maleta marrom com meu revólver encima (não sabia de onde tinha vindo o desgraçado ainda), e um papel dobrado embaixo. Tirei o papel, vi um mapa. Fique parado durante quase meia hora, com cara de idiota olhando para ele. Virei no verso. Anotações. Três endereços e alguns esboços. Não conhecia nenhum deles a primeira vista, mas um soava bem familiar. Era o endereço de minha finada mãe, concluí. Casa que passei do nascimento aos meus quatorze anos, quando ela faleceu de meningite. Não sabia quem morava lá agora e nem me fazia interessado, não nutria nenhum tipo de saudades do local nem mesmo curiosidade de revê-lo mudado. Na verdade, lembrava-me pouco. Comecei a associar os endereços. Nada. Que cidade estava? Quanto tempo estava da minha cidade natal? Talvez já estivesse nela. Os outros esboços estavam inteligíveis, era minha letra, as ao mesmo tempo não era e os rabiscos pareciam ter sido escritos com uma pressa que desconheço e em outro momento, depois, ou antes, de anotar os três endereços. Conferi o revólver, tinha quatro balas e nenhum sinal de munição por perto.
Peguei o telefone, eram exatamente uma e meia da tarde. Uma voz respondeu sem ao menos eu me revelar:
- Olá Senhor. Vejo que acordou. Tentamos levar seu almoço duas vezes, mas você não respondia. Cuidaremos de aprontar outro pra você, fresquinho.
- Esqueça o almoço amigo. Vai parecer meio estranha essa pergunta, mas onde estamos?
- Motel Boulever.
- Não, digo, em que cidade.
- O motel fica nos domínios de x, senhor. Doze minutos de carro até a cidade.
Estava na cidade vizinha. Trinta minutos até a cidade que nasci. Pegara os endereços pelas pessoas ou pelas casas? Obviamente pelas casas, mas porquê? Estava foragido, ferido e com alguma idéia na cabeça.
Revirei o quarto inteiro, mas só achei pertences em lugares óbvios mesmo. Estava de passagem e seja como for, não cheguei ali de carro. Não achei chaves, não havia carro nenhum lá fora, aliás, não devia ter mais ninguém hospedado ali. Era começo de tarde, sábado, e além de tudo, aquilo era um motel no meio do nada. Liguei a TV sem o propósito de assisti-la, apenas quebrar o silêncio, e fiquei sentado apreciando as dores dos ferimentos quando o telefone tocou.
- Olá. Consegui. Vou aí ou você vem buscar?
- Venha aqui.
Sentei e esperei. Demorou cerca de vinte minutos, ou pouco menos. Desliguei a cabeça, pra mim foi o tempo de uma pequena pescada, um pequeno fechar de olhos. Ouvi a porta, abri. Não enxerguei nada, nenhum rosto, nenhuma mão, tudo escuro. Eu agora tinha um saco preto enfiado na cabeça.
- Desça quieto.

Ao contrário do que pensa vossa senhoria, eu não apaguei no trajeto nem acordei em outro lugar. Muito pelo contrario, fiquei atento á tudo e deixei os ouvidos trabalharem como um guia meticuloso, isso sim era previsto. Estrada de terra, pois o carro balançava, poucos carros, e então, conforme tempo ia, começava a ouvir cada vez mais carros até desembocar aos poucos num som de cidade, rarefeito em seu início, loucamente aberto em seu interior, ou era a cidade de meu destino ou era a cidade do motel, vizinha, pois foram por outra estrada, o tempo de viagem para comparação era totalmente relativo, quando pararam desci no meio da rua, soube, pois tropecei na calçada aonde tinham estacionado, e estranhamente eu ainda estava encapuzado, talvez não houvesse transeuntes ou talvez fosse normal aquilo naquele lugar mesmo, aí não entrei em lugar algum, fiquei parado na soma de meus três passos, e ninguém falava nada, nenhuma voz desde o motel, ouvia pequenos rasgos sonoros de borracha em atrito com o chão úmido á minha volta, mal ritmados como um macaquinho de brinquedo que toca caixa marcial, e no meio de nãos importas, no meio de o quê são issos, comecei a apanhar feito louco com massas que não saberia dizer e eram mãos ou outros materiais, ainda achei que me cortavam, mas percebi que eram os antigos ferimentos se abrindo.
Quando deram por terminado, ouvi o primeiro som vindo de uma boca. Ele ria com uma risada grave e logo os outros riram também.
- Não pense que poderá desistir. Sem desculpas ou barganhas. Faça, e se não puder, faça mesmo assim.
- Quem são vocês, filhos da puta? – disse pausado, tentando não degustar em excesso do sangue que jorrava em minha boca, para não me afogar.
- Recado tá dado. Exatamente como você queria. Entra no carro. Volta pro motel.
Não quero narrar a viagem de volta, por favor. Foi só a viagem de volta e é isso, com o detalhe que fui deitado e devo ter manchado o carro no que eu sentia uma umidade, um líquido frio, depois de um tempo. Subi encapuzado como antes e fui jogado da porta para o quarto, só aí tirei o capuz e fui ao banheiro, para vomitar um líquido amarelado, com um pouco de sangue que desenhava listras que pareciam arquejar aos meus olhos. Deitei na cama, a Tv ainda estava ligada, fixei meus olhos nas imagens, não acompanhava nada, nem sabia o quê estava passando ali, simplesmente sons e imagens vinham e saiam com a mesma natureza pelos meus ouvidos. Aí sim, prezado senhor, capotei no abraço da irmã da morte, louvando os prazeres de sua delícia.
Ha, não pense o estudado que acordei em outro quebra-cabeça, não, poupe-me da presunção do relato levemente transfigurado por capricho proposital deste aqui. Acordei no hotel, exatamente no fim da noite civil e no começo da noite dos suicidas, onze e quarenta e sete. Senti um forte cheiro de merda. Aliviei-me, pela primeira vez nesses fatos, fato que me deixou confuso logo em seguida, aliviei-me por vir do banheiro. Tinham cagado lá e não fui eu, porque a cena lembrou-me que não fazia isso á tempos e meu intestino começou a funcionar, cantando na rouquidão de sua natureza. Minha cueca ainda estava suja, porém com o material endurecido. Caguei, deitei na cama, senti um cheiro forte embaixo, sons de moscas. Tinha um corpo lá. Ouvi sirenes. Falaram que matei o governador, nunca havia matado alguém antes. Termino o relato com um pedido de clemência á minha execução não-oficial daqui três dias, já soube das histórias que serão contadas a respeito e até sei quem será o executor contratado por benefícios, é um colega daqui.



Ao meu defensor Dr. Joel Fernando Ventura,
“Penitenciária Federal Carlos Martins”, cela 34, manhã de 12 de outubro de 1983.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Psauy

Ponha os óculos, Madre Friniscúa e apareça agora mesmo em minha frente - a superiora tartamudeou-se assim que fez estalar os estalos dementes de todo o convento para a beleza convulsa, quase renitente aos caminhos anversos daqueles corredores. Ela estava louca, falavam pelo ambiente, ela estava louca como uma senadora americana do século dezenove, gemendo a noite em língua estranha. Irmã Bethânia, sua hora chegou, ponha o hábito, falou discretamente e desceu acompanhada com passos apertados de jamanta, mesmo ser ainda cedo para o recolhimento geral. Como queira, mas desta vez não leve velas, vá sozinha, ande em passos pequenos dentro de seu pequeno sapato e sorria ao passar em cada porta aberta. Barra e suspensão, respectivamente, ligada em direção interior; oraram sim, antes não uma, mas três ou quatro vezes e perguntou-lhe sobre a possível gravidez e se estava amaciada e se abraçava a graça ou nutria o campo com mais carne e ossos pequenos, e assim no seja o que fosse, havia de passar por ela. Bethânia hesitou, ensaiou choro, sairia dali. Passou em corte no campo á noite, nuca tinha visto o campo á noite, cuidavam-lhe no dia nas plantações e fumavam escondidas, todo o convento exalava tabaco, todo um querer de cabeças borradas em tristeza, quantos desenganos, e teve com a mãe desfalecida antes do nascimento e seu nome era Psauy e seria profeta. Cresceu amaldiçoando o criador, negando fazer traquinagens quando não e aumentando as mamas da progenitora, pois era de muita sede. Veni tollis, repetia, Vidi tollis gritava, vici tollis, sussurava fumando. Alguns pés de tempo acumularam-se, hoje tem trinta e três anos, desmentidos para vinte e um quando perguntam de proezas, aumentados para quarenta e dois quando perguntam de sua mãe.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Em cordas de estatísticas variadas não se pode comentar nada que afrinja a sutil e bufônica entrada úmida que nos estados de catarse se movimenta por axiomas ou iguarias de prudência própria. Vendo seres vencedores.

DISTANCIAMENTO PROPOSITAL

- - - - - - - - - - - - - > Troca maleável
/ /
OBSERVADOR - OBSERVADO

IDÉIA A - IDÉIA A
/ /
- - - - - - - - - - - - - - > Sobrecarregamento de idéias A

IDÉIA A - IDÉIA B
/ /
- - - - - - - - -- - - - - - > Contraposição sugerindo um terceiro
/
A idéia de terceiro sompre será pendido a um A ou B variado, com maior ou menor grau de mimética proppiana ou desenvolvimento de socialidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Praça

Corria e pulava as folhas do vento nas marés cheias. Estavas tão acuado que pousou no canto da intriga.
Árvores comem com asma esperando querer a luz de um novo dia.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Bilhete para Gullar

As armadilhas somos nós quem colocamos apenas pelo prazer de ter que tirá-las depois, ou de sermos pegos de surpresa.
Um mundo sem armadilhas é um mundo vazio, onde não há armadilhas não há perigo, onde não há vida não há prazer em descobri-las e retirá-las.
O mundo não tem armadilhas, caro Ferreirinha, o mundo tem o homem.

Josy

Recordações de sua bunda gigante em minha cara, Josy. Depois disso, Josy, parece que remí. Depois disso, Josy, parece que a luta contra minha retirada espiritual foi abafada por um momento de alívio.
Mesmo saindo de minha cara-repouso, banco baixo, parecia que os olhos não mais enxergariam e aquele cheiro de carne amanhecida ficasse pra sempre.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O Santo

Ou te duelos ou te afinas. Foi a última frase do alemão Santo Katwfli, um pouco antes de descer a maré da noite, ao lado de um barco que fedia. Um oásis geodésico. Começou então o sermão de seu assassino em voz alta e firme:
- Se arrastai por este mundo, chamando-se santo. A tua vingança é ter sido e eu Doutor. Quando vedes, embolada, uma lágrima afumada que cresce como luzes de cassinos empenhados, eu me empenho em desfazer de ti. Nem mesmo sendo um floco de seu seio, hoje me quebro para que compreendam um valor que representa minha vontade de querer. Eu paria meu destino, espelhado em seu designo, no enterro de minha esperança e do meu coração. Sabem que não caibo mais no mundo e que agora consta um abano em minhas rodadas, minhas ilusões passadas, meus pedaços de vencido. Queimei como um diabo em papas derrubando muros de velejas, teimando nunca mais voltar. Um lobo bebendo em sonhos, adorando-te, triste. Aqueles olhos bromos que eu tinha, nunca mais. Katwfli, vim para lhe matar.
Nisso, uma mãe de santo entre os espectadores pegou um punhado de areia do chão e interferiu a favor do santo. Disse o assassino:
- Sabe-se, mãe cacto, aquela coisa de peixe? Decepo!
Pegou o punhal e cravou no santo alemão, que não pronunciou som algum e caiu no chão como um embrulho de borracha, igualmente mudo.
- Agora te borras, Katwfli. É a hora.
Antes de morrer, defecou.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Cómo deshuesar una gallina

Hacia un cuchillo pulido és esencial producir burlas fuertes y sin hambre no puedes comprarlo, pero como estes juguetes están para tirar, sorri para tu madre despúes.
La osamenta no és dispensable como todos lo toman: pondré em la nevera arreglada con una estaca y te abalanzas que o relógio no va. Se eres damisela y sabes corte e confección no lê perdono, hay ofenzas. Estás deseando follar el pollo, traviesa... Ya he dicho todo lo que sé sobre esto.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Discurso para os Jurisconsultos

Peguei do papel subindo estalando na mesa, proferi as palavras que escrevi na mesa própria: “Calvo pélago de vultosas tendas”, - pigarro – “jamais um anexim que eu houvesse proferido, em teia de oito estreitos, muito além das casas, alguns quilômetros, menos de cem, sentado já estava fresado com o embrião que debitava o ser noite, sutureis Maria de três velas guimbas, o nome da margem onde confortava meu amontoado de carne suspenso no esqueleto, a paisagem notória de veias que tanta saudade nas coisas que sempre sonhei, a única beleza era você sonhando, fazia promessas para Deuses surdos, desaconselhados de nosso lugar, por que a fleuma castiça não há, e sim a calada roxa sigilosa.”

segunda-feira, 23 de julho de 2007

segunda nota

Toda a desgraça montada num circo entre os dedos frios de meu pé descoberto, não sei se existem frieiras psicológicas, mas a verdade é que ardia tanto que comecei a socar a parede com tanta necessidade que a pele se rompeu e rapidamente um percurso de sangue se formou até meu cotovelo. Tanto medo da vida, mas ela está aí, a morfética, sorrindo todo dia com seus dentes amarelos e seu ramo coxo; por mais que eu tente me esconder nunca vou conseguir. Estou vivo... sem sorte, sem porte, sem norte, sem corte, esporte, transporte, mas vivo... cercado das vivas coisas entrelaçadas, serpenteadas no bafo forte do dia.

Eu tinha um professor que repetia constantemente os nomes de várias plantas dipsacáceas (acho que é assim que se escreve pelo que me lembro), achava muita graça naquilo e morreu de câncer aos cinqüenta anos. Escapou da vida? Não, a maldita tá ali ainda, vomitando a personalidade daquele velho, por osmose, em todo mundo que o viu fazendo piadas sem graça e fingindo ensinar matemática.

Eu queria nascer morto, torto, no seio do conforto, exposto apenas ás bactérias da decomposição, talvez assim calar a boca da existência, essa diarréia do mundo, que impõe a dor inevitável e fode todo ou qualquer objeto da nossa afeição.

sábado, 21 de julho de 2007

Infância

Seguida como o costume ordenava, sem muita pressa comedida. Morto entre macieiras de luz pertencentes aos carros que nos buzinavam ás calçadas, jogávamos bola em três. As mulheres propositalmente assistiam, minha mãe na sala a acariciar meu pai sem blusa e minha tia Florência tirando mescladas fotografias com a cara.
Gostava de ler bulas antes de me dopar (ou achava que estava a me dopar) e saia jogando terra nos olhos, para ficarem vermelhos, e a fazer caretas para os amigos. Sentia na pele pequena da infância um dos maiores orgasmos dos adultos: o da aparência.
Ao saber que era necessário remover um testículo, em minha mente de criança fiquei submerso em sonhos com machados, onde um literato de barba comprida e relógio de bolso assistia, compenetrado e divertindo-se, a operação.
Calma, ainda bem que é só o esquerdo, ainda ouvia antes de apagar.
O sabor da infância é um sabor de carambola com folha seca, mastigada por uma paca lotada de carrapatos.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O Gramático Vegetariano

estava chateado com o advento dos sites na internet com dicionários online e corretores gramaticais, mas também não era aquele sujeito que se matou com um tiro na redação do jornal da qual era contínuo Isaías Caminha. Melhor a clausura voluntária do que o embaraço. Mudou os hábitos. Folhas de alface, feijão-de-vaca, acuri, ariticum, bocaiúva, cumbaru, cupari, embaúba, gravateiro, jatobá, jenipapo, mandacaru, marmelada, pequi, arroz-bravo, carne de soja, jatobá -do-cerrado, algarobo, gravateiro ou caraguatá, lentilhas-d’água, caeté, cana-do-brejo, cururum, pequi, mama-cadela, caju, remela-de-macaco, tarumã, laranjinha-de-pacu, pitomba, sumanera, arixicum. Sopas ou tudo cru mesmo. Suco de cipó-de-fogo. Trancou-se na dispensa do quintal e ordenou a mulher que comunicasse seu desaparecimento aos amigos.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Estudo

Não me lembro exatamente se estávamos no mês de maio ou abril, mas lembro das olhadas de uma sensata mulher, gorda, coque firmado, entre tom azulado e rosa, sua elocução constante era que o paraíso tem um tempo bom, dizia ter aparecido lá por um tempo, nos idos das passagens infantis na Bahia, trazia sempre um cachorro preto, magrelo, em concha sobre os braços e contava em moles tons ter acabado seu carinho ainda moça, quando foi compelida nas mãos de um judeu, e como agora sempre almoço suas refeições, pois é perto de casa, qualquer coisa sem muito erro, algo barato e imutável, atende pelo nome de Fernanda e tem o hálito de rosas apimentadas e sempre um tom materno, pois se acendia o cigarro enquanto falava sobre seu filho e suas perdições, de como havia chispado para a capital, levando consigo alguns amigos e quilos de substâncias coletadas gentilmente no interior do Mato Grosso do Sul, ou de sua filha que morrera nas mãos do marido deveras zeloso com a moral da condição de homem, logo ficava em silêncio a observar os desenhos que a fumaça fazia antes de se dissipar, me entreolhava novamente e perguntava se estava boa a comida; Dos seus três filhos, sobrara ainda um, uma madama de torneados vinte e sete anos, trabalha no levar e trazer pratos, avaliava temperos, calculava as somatórias, e que eu, tomado por tanto encanto e beleza provinda de sua negritude, nunca falava algo mais do que um oi, tchau ou coisa alguma, muito menos questionava seu nome, mesmo na minha infindável afinidade com a mãe, nunca a vi tocar na alcunha da filha, referindo-se a esta apenas como filha, quando lhe chamava para propor ordens ou mesmo agracia-la em natureza materna. Percebia meus olhares, que eram poucos por medo da perda da amizade pela sensata mulher de coque firmado, eu saia como de costume e me dirigia ao trabalho na seguradora, lotada de homens suados, gordos e mal humorados que de nada passavam qualquer impressão boa do dia.

Foi num desses dias na firma que percebi uma visita ao longo do corredor, quase não aparente, se não fosse a minha afabilidade por tal figura, não sei se reconheceria de imediato, dada as proporções. Marcelo, camarada de colégio, que a muito sumira para São Paulo e que necessitada de recomendações acerca de suas novas relações afetivas, pois tinha eu, durante sete anos, convivido com certa mulher, que me rendera uma notável e singular dor de cabeça, candidíase, e alguns meses somados de caganeira pela conta de seu almoço. Após breves cumprimentos e tapinhas, falei que lhe desse um pé na bunda e fossemos para um prostíbulo torrar meu salário do mês. Era necessária uma celebração. Antes, passamos pelo restaurante de minha amiga. Não servia jantares, mas tomamos uma boa cerva gelada acompanhada de uns salgadinhos surrados, desses embalados em sacos plásticos sujos. Que bela sainha se encontrava grudada á bunda linearmente torneada de fulana que trazia as cervejas, um vermelho vivo, exalando fêmea de vagina úmida e juro que entendi aquela velha história norte-americana, de caminhoneiros dando tapas nas nádegas de garçonetes. Sai meio refastelado e com bebida entupindo as narinas, dando tapas nos ombros de Marcelo e chamando o táxi. Era um dia especial. Antes de entrar, vomitei, e completei "toca pra zona".

Chegando ao amplo mercado de carnes tristes, escolhemos o lugar de cognome mais engraçada e fomos abordados por uma puta na porta que gritava: "Onde cabe um, cabe dois" de modo repentino e enrugado, quase babando nas piolas dos lábios. Rimos e entramos. Esforcei para não vomitar dentro do recinto, olhei, meu amigo em menos de cinco minutos já havia se entrelaçado com uma puta de nariz espaçado, cara amassada como uma sacola de miolo e tantas estrias e celulite nas coxas (estava de calcinha, somente) que se assemelhava a um iogurte estragado com pedaços de ameixas. Eu saboreava uma "long neck" de nove reais. Após sete dessas, estava tão bêbado que me sentia um hindu vestido de alce num carrossel espanhol. Dormi com a cara no balcão. Acordei, minha cabeça muito pesada e meus bolsos muito mais leves, tentei encontrar Marcelo, mas desisti. Seriam oito quilômetros até minha casa, trajeto que faria seguramente, mas com um maço de cigarros. Pedi um para uma gorda que limpava o balcão "Claro, fofo." Deu um derbão pra mim e me enxotou com as gemas pretas dos olhos. O calor dilacerava minha cabeça no meio, como uma foiçada judiciosa, sentia todas as artérias pulsando, meus pés virando caducos, meus braços pesando um opala. Nisso, um carro passa, vacila um pouco, buzina - Será comigo? – volta em marcha ré. Hum... Estava sem o avental, mas continuava linda. "Entra", ela disse, quase respondi, mas calei a boca a tempo: "Então abre pra eu entrar, delícia".

quinta-feira, 5 de julho de 2007

nota

A caneta ás vezes falha, como tudo também pode falhar. É justamente aí que vemos a figura do mais íntimo ser social, presente desde os primórdios do mundo, em todas as raças, espécies, o fracasso. Consumado um dos pais da realidade humana, logo aparece a defesa existêncial que consiste em criar contextos, impor idéias e associações para justificar a falha para si mesmo ou anulá-la. Escolhemos verdades que nos convém, e na maioria das vezes ela não é a que nos convém. Mas afinal, toda mentira é uma verdade transfigurada. A eterna novidade do mundo consiste justamente em reciclá-las. Surge a evasão, intrínsicamente ligada á defesa, uma solução brutal, pois não aceita romper uma barreira geral tampouco uma diminuição do eu. Aceite a condição; e se alguém gritar, não atenda, para que ninguém grite mais. Não há nada pior que um grito no escuro.

sábado, 23 de junho de 2007

Vazia

Não consegui abrir o livro, tampouco redigir o epítome para o prazo, um excesso de amor e a morte da miserável tinham-me esgotado e ainda sentia a rugosidade da córnea quando ao toque dela me permiti. Após a cópula, levantando-se, ela parecia afogueada (encontrava-se, então, pessimamente despida) e num ai final, amoleceu, caiu num baque de lençol silencioso ficando como um babilisco úmido. Os olhos abertos. Toquei um deles e fiz movimentos circulares. Existe certo mimo do olho sobre a pele e que é de uma doçura cavalar, produz um som de brontope, como um berro de gado afogado. Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de probabilidades. Estava morta. Meu Deus, Fernanda, como falar? Como? Como conseguiria falar, alastrando pensamentos sobre seu ventre frio, seu novo cadáver... Como falar, então, da beleza, dessa beleza acriançada e pura da simplicidade da renda em tecido, da onda única e forte do mar, das estrelas no pasto, do teu rosto na tarde? Quando senti nos dedos seus olhos abertos, em ti não os havia mais. Olhei para a lâmpada no teto. Luz, olhos, luz, olhos, luz... Estacam a pontada ceando, me compreende vagamente o que podia estar me ocorrendo, que me valia cortar as vestes como um carneiro ao retirar a lã? (No vento se levara vãs palavras, na lucidez, apenas murmúrios). De uma redoma falsidade, das menores, garantia que em tanto se bifurca facilmente, de todas as maneiras, pois se de antemão se prevê a lã da provável falsidade, basta tentar eleger, beber, entre eu e meu mijo desnudo de tanta pompa que acena. E, claro, beber é o mais difícil.
O sêmen que escorria de suas coxas era a benta, a unção de meu gesto final em que alguns vendedores de calos que lêem, acabam comprando gritos nas esquinas, uns formados de hexoses (os gritos que vão curvando a cerviz), alguns anelantes, como santos de cenas de rua que acabam com todos. Certos, antes de morrer, pensaram confusamente que toda aquela criação era lotada de vermes. Agora está lá, Fernanda, entre eles e talvez observe as reflexões que me passam á caneta, com uma palmada e um desalento. A situação, o todo, o todo me empurra numa multidão que um fósforo presumiria em sua natureza: um futuro de penas. Mas você só olha, vômito de olhos, e não mais participa. Esta noite há mãos negras deixando um cerne sovado, lixado nos ouvidos do fumo em um caiaque que a sangria pelara, há o cimento que um cego coloca na construção da personalidade, há um bosque de autismos radiando o quarto, moendo a bandeja do ar com grandes doses de laxante. Nelas, está vazia a noite, como um capeta de navio que desconfia das estrelas.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O Cuco

- Ao desmontar um relógio para dar corda, não perceba que no fundo dele está a morte, porque senão não fará o trabalho com êxito. – disse-me o vendedor de origem nipônica, cego como um jabuti e sorrindo.
Odeio quando Matilde pede-me para realizar compras. Gosto de ficar em casa, lendo jornal, vendo TV, comendo biscoito, resmungando sozinho. E não foi pra minha surpresa que hoje de manhã ouvi a megera gritar:
- Alfredo, seu vagabundo, fica aí sem fazer merda nenhuma, vai comprar um relógio que o nosso quebrou faz uma semana, e a gente precisa.
Precisando pra quê? Pra saber hora de novela? Pra saber a hora que o banco fecha para retirarmos minha aposentadoria que mal dá pras compras de mercado do mês e a puta ainda quer ir à manicure, pedicure, enfim, esse lixo todo?
- Vou levar esse mesmo. De cuco.
- Sim, são quinhentos reais.
- Quinhentos reais? Cacete...
- Sabe como é senhor, cucos são caros.

...

Chegando em minha casa pego dois de meus maços baratos, ponho de uma só vez no bolso, com certa força e desprezo, jogo o cuco embrulhado no colo da puta e saio na rua. Há poucas diversões para um sujeito de sessenta anos nas ruas da cidade de São Paulo. Desço no metrô, pego a Rua Pará no bairro da Consolação e é justamente caminhando nela que encontro um velho amigo, Agenor.
- Agenor!
- Estou mal, Alfredo, mal mesmo. Operei da hérnia de disco. Dói que é um inferno.
- Imagino. Mas fazendo o que por aqui?
- Indo pra casa da comadre Marinha.
Agenor sempre me faz rir...
- Fazer o quê lá?
- Fazer? Comer a velha, lógico.
Fazia tempo que eu não ouvia saber de trepar, aliás, tinha esquecido á um bom tempo o que era isso, a uns quinze anos, talvez. Pensei na velha e voltei. Não via motivo de não fazê-lo. A encontrei estirada na sala. Banha para cima, a blusa amarela desbotada cobrindo só um terço da sua barriga, roncando no sofá. Era realmente muito feia, e se já era quando nova, hoje então... Tem um mar de gelatina gordurosa nas coxas que mais se assemelham a um doce com pedaços de frutas estragado, um hálito de túmulo aberto depois de muito tempo, putrefato, um peso que nem três pedreiros baianos, robustos suportam por muito tempo e uns seios que mais parecem duas jacas esmigalhadas por uma carroça. Tiro sua calça, meia-calça e calcinha para sua surpresa. Ela acorda e ri, ainda não acreditando no que eu fizera. O cheiro que aparece aos poucos de suas carnes, depois ganhando mais força, lembra muito uma mistura de leite podre e manteiga, realçada ainda mais quando finalmente penetro sem nenhuma dificuldade; parece uma gruta a maldita, seus pêlos ardem a cabeça do meu pau e sua vagina é viscosa, úmida e morna, e geme grave e nasalmente, como se estivesse roncando ainda. Tento afastar esses pensamentos e consigo gozar, quase ao mesmo tempo, como que um chamado da mais entranhada natureza, como um grito de socorro de minha alma, despertado somente através daquele ato repulsivo, me sinto tomado por um ímpeto maldito de pegar meu velho Taurus 38 de encima do armário.
- aonde você vai, benhê?
- já volto.

...

Estou com sessenta e sete anos. Morro logo. Se morrer com oitenta, noventa ou mais, foda-se, vou estar cagando nas calças sem perceber mesmo, e movido por esse cometimento e pela repulsiva gozada que passara, mas como se não levasse meus pés comigo mesmo, fui até o meu antigo trabalho, na 25 de março, da onde me aposentei faz uns quinze anos. Subi para o décimo primeiro andar, numa antiga e tradicional corretora e sentei como um simples cliente, sem ser reconhecido.
- Pois não, posso ajudá-lo?
- Pode, mas aposto que vais falar que não.
- Como?
- Quero um empréstimo de cinco mil.
- Mas senhor.. aqui não tra... – viu que eu levantei bruscamente e levantou-se também.
- Cinco mil. – disse apontando o trinta e oito para as bolas do sujeito.
- Um minuto.
- Meio minuto! – gritei atirando. Ficou deitado no chão com as mãos no saco, gritando que eu era um desgraçado, repetidamente. Sentei de cócoras ao lado do sujeito, lambi a ponta do revólver e enfiei em seu ouvido, dando dois tiros. A moça na mesa ao lado estava branca, sem reação.
- Você, vagabunda, venha aqui – minhas mãos estavam sujas de sangue, minha roupa respingada. – Chupa – e tirei meu pau para fora, seborrento e mole, como um bom pau de um senhor de sessenta anos. Ela continuava imóvel. Mirei para sua cara e atirei. Pegou na parede, a uns dez centímetros de seu rosto. Ela gritou e veio chorando. – Se morder eu te mato – e com o 38 eu movimentava a sua cabeça para frente e para trás.
Alguém abriu a porta e viu a cena. Fitei e atirei, nem vi quem era. Pow. Direto na cabeça. Vacilou um pouco e caiu. No susto a vadia mordeu meu pau.
- Filha da puta! O que eu te falei. Vai, abre a boca.
- Não, por favor... Eu tenho filhos...
- Abre. Chupa o cano da pistola, chupa. – oferecia o revólver.
Começou a chupar chorando e tremendo. Quando achei que o revólver estava babado o suficiente, disparei. Mesmo agonizando no chão, seu corpo ainda estava quente. Meu pau já estava duro devido á chupada e comecei a penetrá-la. Primeiro dificilmente, pois estava seca e apertada, mas com força consegui entrar e conforme o movimento alguns líquidos ajudaram a lubrificação, como o sangue das minhas mãos e o suor de minha virilha. Gozei alguns segundos depois que a mesma dera o último suspiro. Refiz-me e desci o elevador com uns pacotes na mão, disfarçando as sangrias. Na rua, joguei o caixote no chão e saí caminhando, misturado á multidão. Cheguei em casa, a megera dormindo novamente. Tomei um banho rápido, fui até o quarto, pelado, carreguei o revolver, coloquei uma roupa e saí, tinha outras coisas a acertar. Vão ver gritar meu canhão! – falei estendendo a mão direita para cima, afinal, a base de qualquer revólver é a mesma que a dos antigos canhões, em que uma bola de ferro é arremessada com a explosão da pólvora dentro de um tubo.

...


Anoitecera. Cheguei na casa amarela, de boas grades, porem já enferrujadas, e de jardim extenso, onde um cachorro magro, que não mete medo nem em carteiro cagão de desenho animado, latia rouco e transpirando medo. Balas fariam barulho. Tento enfiar duma vez uma faca atravessada em sua cabeça, mas ele se esguia e o resultado é apenas um corte superficial. Põe o rabo entre as pernas e grunhe baixinho, dirigindo-se ao carinho das baratas da sua casinha. Penso um pouco, mudo os planos. Toco a campainha.
No interfone: - Quem é. – Sou eu. - Identificam-me só pela voz. O portão é aberto por coisa elétrica, seja lá como funcione isso.
- Pai... Como vai?
- E o serviço, filho? O quartel?
- Bem, entra... Uma visita fora de ora é sempre uma agradável surpre... – Parou no meio da conversa, pois deve ter notado o facão que dera a sua mãe no natal passado cravado até o cabo em suas costas. Encostei-o com a mão esquerda e dei um soco utilizando toda minha força, com o punho cerrado da mão direita. Apenas uma ponta atravessara do outro lado. Tocou a ponta com o polegar e o indicador da mão direita e caiu em silêncio no gramado. Entrei. Na sala minha nora e meus dois netos esperavam:
- Oi Alfredo, cadê Frederico? Estou fazendo uma torta saborosa.
- Não se apressa a perfeição. – disse sorrindo
- Oi vô! – blum, blum - bala na fuça dos dois. Vi os dentes se esmerilhando como vidros junto com a boca, gritavam sem a língua enquanto estertoravam, não quis dar cabo de uma vez em ninguém, gostava de vê-los rastejando, implorando dentro de suas cabeças, tendo tanta dor que, mesmo com língua, seria impossível gritar. Minha nora voltou da cozinha com a torta na mão e paralisou, ficou da cor do glacê. Deixou cair no chão.
- Sua puta. Derrubou a torta. – ajoelhei a maldita e amarrei sua cabeça no pé do sofá – Resistir é inútil, espere... – e me dirigi até o saguão, onde meu filho guardava as armas que sempre invejei. Um calibre 12. Sempre disseram que abria um buraco do tamanho de uma maçã, sempre quis tirar a prova. Lá estava ela, pendurada, limpinha, tintilando, uma Mossberg 500. Peguei e li grafado no metal “special purpose” em letras itálicas. Sorri. A desgraçada era bonita pra diacho mesmo.
- Por favor, não faça nada. – minha nora suplicava, mordendo uma das mãos.
- Não faça nada? Hum.... Pode ser. Mas adoraria ver essa escopetinha dar um tiro pelo menos. Faz o seguinte... – Fui até onde estavam os corpos das crianças e alinhei-os dois metros da parede, um ao lado do outro. Disse então: - Amarrei seu marido. Tá vivo. Mas pode morrer se você apontar pra mim e se apontar, já vou estar com uma arma apontada para você, morramos os dois e ainda ele, então, ouve com calma e faz o seguinte: Dou-te essa escopeta, você dá um tiro de cada vez em cada criança. Um nela, um nele. Se conseguir encosta-los na parede com seis tiros, você vive.
- Nunca! – Ela gritou com todos os ares de seu pulmão e desandou a chorar. – Prefiro morrer!
- Qual é... – disse com desdém - Já estão mortas... Só quero ver se uma lenda que eu ouvi é verdadeira mesmo, só isso. Se for, eu te libero. A ti e a meu filho, e digo ainda, é bem possível de dar certo sim.
Desamarrei-a. Levantou muito devagar, peguei no seu braço com força e levantei-a bruscamente. Coloquei de pé, de costas para mim e de frente ás crianças. Apontei o revolver para sua cabeça e então lhe entreguei, por detrás, a escopeta. – Vai! – Gritei. Hesitou um pouco, tremendo. Deu um tiro que passou longe, acertou a parede. Pressionei mais meu revolver contra sua cabeça e disse: - Se errar a próxima vez, sua piranha, eu estouro esses miolos de vagabunda rampeira que trepa em pé em motel barato.
Atirou de novo, a criança da esquerda apenas balançou. – O outro! – Eu disse. E a mesma coisa sucedeu: nenhum movimento para frente, apenas balbuciou.
- Parece que era lenda mesmo, hein? Você vai ter que morrer. – Dizendo isso a mulher que chorava um choro apagado, tremendo, confuso, foi tomada por uma emoção que desconheço e que talvez os grandes poetas pudessem aprofundá-la em seus escritos. Tomada por esta emoção, onde toda sua cara contorceu-se de pranto para raiva, de amarela para vermelha, de inexpressiva para bombástica, começou a disparar direto em uma só das crianças. BLAM. Clic. Clastch. BLAM. Clic. Clastch. BLAM. Clic. Clastch. Um atrás do outro, carregando o calibre doze, levando para trás, como nos filmes de ação, após cada tiro, e que barulho ensurdecedor a maldita fazia. Coisa linda de se ouvir mesmo. Por fim, o corpo tocou na parede, totalmente desfigurado, chegando ao seu destino quase como um bolo de carne moída derrubado com força no chão. O sangue que escorria rapidamente tocou seu pé, em um fio expressivo, e então ela ajoelhou-se e voltou a sua feição normal, patética. Quase tive um orgasmo na beleza da cena e com um canivete que eu tinha no bolso esquerdo, abachei e cortei a sua barriga na altura do umbigo, da esquerda para a direita. Ela soltou um suspiro grave e começou a sair um pouco de sangue de sua boca. Segurou a barriga com as duas mãos. Não conseguindo segurar mais, soltou, e imediatamente toda a barrigada veio ao chão num GLÓF seco, acompanhado de sons que pareciam enguias fugindo de um predador. Caiu e deitou-se por cima, como num último clamor de pôr todas as carnes para dentro novamente e ficou me olhando, com a perna a tremer compassada, até cessar. Olhei tudo com muita satisfação e lambi a faca. Não sei por que fiz isso, devo ter visto em algum lugar, mas deu vontade e assim fiz.

...

Saí pela mesma porta que entrei. O corpo de meu filho não estava no mesmo lugar. Estava á três ou quatro metros á frente, devia ter se arrastado um bocado, em direção á porta, já que havia um grande rastro de sangue e vômito formando um trajeto até seu corpo. Em casa, tomei um banho e descansei como nunca antes houvera descansado em toda minha vida, embora tenha acordado cedo e preparado café, comprado na cantina do alemão, grande amigo, quando ouvi a porta.

sábado, 26 de maio de 2007

Marinho e Mamãe

Marinho tinha tanta preguiça que casou com uma mulher grávida de três meses. Quando bebê foi internado, não mamava. Mamou depois de velho, aos quatro anos, o que causava certa conturbada disenteria estomacal para delírio da mãe e crescendo virou escritor de romances populares vendidos a três e cinqüenta nas bancas de cidades do interior e algumas pequenas da capital. Agora senta com o jornal na varanda da frente e lê as paginas de esportes durante quase todo o dia. Abre uma cerveja quente. Observa a rua. Mesmo com ancas passando rebolativas, convidando, não gosta de esculturas, nem jazz ou música clássica, um bom axé é o suficiente. Via novelas, agora assiste condições da vizinhança, de certo, um dia apareceu, e nele uma mulher na porta de sua casa, procurando emprego de doméstica. Rugas na cara, gorda, barriga saltando da camisa, maquiagem borrada, suor nas axilas, mas era moça mesmo aparentendo ter 30 anos a mais. Marinho pensa que nunca vai conseguir parar de gritar e surrar palavras ás alturas, pois gosta de fazer isso de manhã, quando o tempo ainda deixa. Abriu uma exceção quando reconheceu a mulher, era a antiga namorada do colégio interno, aliás amiga de todas da região, era carente, por isso boa, mas trepava com qualquer um que tivesse alguma oferta barata ou simplesmente falava. Seu apelido era “Mamãe”, malhava palavras toscas, falava mal, mas tinha algo indescritível que chamava a atenção de qualquer ser que passasse ou que em algum momento da vida surrasse qualquer inergumidade que fosse. Abraçou-a e convidou para uma cerveja quente também. Sua mulher bem a serviu, era realmente muito feia.
"Pois é Marinho, agora dei de doméstica, emprego tá dificíl"
" Já tentou na delegacia local?"
"Já, não contratam mulheres muito fortes como eu por lá"
"entendo."
As cervejas cessaram quando o jogo começou, "Mamãe" quis ficar para assísti-lo, talvez mais cervejas, disse Marinho á mulher. Compras e os dois a sós.
"Marinho, lembra quando a gente namorava?" - Marinho franziu a testa e lambeu os dentes superiores. - "Lembro, Mamãe. Algo precisamente?"
"Sim, qual era a coisa que eu mais gostava?"
"Mulher?"
"Não, bobo, digo, que você fazia comigo"
"Hum... lamber suas axilas? Me masturbar com elas?"
"Bobo, você sabe... esses dias deu uma saudade."
Marinho levantou e foi até a cozinha, pegou detergente; Com cautela, voltou escondendo-o e prostando-se frente a ela, deu pequenas jorradas, compassadas até, na cara da velha dizendo
"Saia daqui, Bunda plasma"
"Ai Marinho, mas.. foi só um comentário..."
"Certo.. desculpe"
Duas horas depois voltava a mulher de Marinho, aquele que comia quietinho, pôs as sacolas na mesa e estranhando não ver ninguém começou a rodear a casa, em estimável cautela. O chuveiro estava ligado. A imagem que se formava pelas sombras da cortina era indefinível. Um ser com vários membros e corpo gigantesco e desproporcional. Abriu a cortina de uma vez e viu Marinho ajoelhado, com a cabeça inteira enterrada nas carnes vaginais da gorda, com um fio de sangue no pescoço ainda á mostra.
"O quê é isso?"
"É o estilo mamãe, minha filha"

terça-feira, 3 de abril de 2007

Pode conferir, tudo começa com uma letra

Tudo começa com uma letra, um signo, que discorre e vira uma palavra, segue um espaço, vira outra, em seqüências ordenadas ou levemente dispostas, traços, e linhas, ritmadas até, devido à presença de vogais ou de consoantes, mas como sempre depois de uma linha vem outra, e mais outra, e cessa, e vem, e idéias, idéias, imagens e sons, e vem, e vai, e corre, pula, volta, dança na sua frente, vai deixando ao longo da jornada cada vez mais espaços brancos adornados com gestos de tinta preta. Escrever nunca foi uma arte, nunca foi original, aliás, nunca li alguma escrita totalmente original, apenas trechos aqui e acolá, porém, sempre escrevi, afastei a idéia da figura profissional, do fazer na dedicação, mas sempre escrevi. Mal. Terrivelmente mal. Já inicie cinco ou seis livros diferentes, sempre parando nas páginas iniciais, enjoando da linguagem, dos personagens, de mim mesmo, da merda toda, achando que devia ler mais e mais (na verdade nunca ajudou). Já fui aos extremos com os processos: desde vomitar incansavelmente ou pensar durante dez minutos se eu devo usar tal palavra ou palavra tal. Tudo isso me causou certo trauma da escrita, do papel. Admito que não superei no todo, acho que nunca, mas enfim, gosto de assistir jogos de futebol com times fracos enquanto como um amendoim surrado com cerveja á tarde no bar e bater meu futebolzinho aos domingos, sinuca não, já tentei, mas sou cego de um olho, e isso não ajuda muito, então tudo bem. “Doutor Fórceps, cirurgia pseudocerebral ilusório-existencial urgente para o paciente Israel, internado na fila dos fracassos” “Israel, dona Clone?” “Sim, mas ele não é judeu, não pergunte isso, ele fica puto”
Além do mais, já cansei desse texto, que profunda chatice.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Frade

Depois dois anos fazendo várias gracinhas, uma tarde, na palidez entre a folhagem que o outono amarelece, pelas três horas, eu, angariando com Padre Cueiro duma visita à fazenda, sentiu logo da antecâmara o vozeirão de Dona Alva, que rolava no compartimento azul em trovão frouxo, este franziu vivamente o reposteiro - e sacudiu o punho para o imenso homem que enchia um dos capeirões guaraçapé, estirando por sobre as flores da alfombra uns nacos de fezes novas de grossas tachas chamejantes:

- Oras garoto, não fique aí a me olhar atravessado.

Disse isso com ar histórico, vivera em Lisboa, gastando as solas pelas escadarias do puteiro onde havia conta e pelo que nomeou Primeiro Cliente Civil de Oliveira, com honrarias e pradas, bacharel sumidos na sombra das copulas, ovençais sopesando fartas bolsas de ouro, todas as putas lhe recebiam gritando, batendo siririca com a mão desocupada, espostejando nédios lombos de ceado... Portanto, marcava um salutar anacronismo ao cálice pátrio, cuja concubina, corista, ele fascinara, na consciência da sua obesidade que assim crescia em moço muito afável, esbelto e loiro, duma alvura sã de porcelana, com uns citadinos e risonhos olhos que facilmente se enterneciam, recebe ela na sua câmara, com os braços nus, por noite de maio e de lua, o rabudo, com um bordão de romeiro, contava essa velhíssima história, que, enquanto longe e cingido de ferro atirava a acha de porra às portas sempre elegante e apurado na batina e no verniz dos sapatos, apresentando-se para o frade, num domingo qualquer depois do almoço, onze tiras de papel, homem espreitador e de acrimoniosos sorrisos, tornou-se padre também e aqui está ao meu lado arrumando a horta.

- Ai da dama! Logo os sinos tangem!

Falava sobre Dona Alva, que cortejara todo o dia, já no patim do verdugo, de capuz escarlate, encostado ao machado, enxugando suores que a banha proporciona, entre dois cepos cobertos de raça. Doía-me o coração enquanto vi no fio da batina seu saco á mostra, balançando, e fui hipnotizado por alguns momentos sobre o ir e vir ritmado, pulsolêneme, confesso que é gordo, mas muito asseado, pois até me pediu para eu lhe comprar hoje, na cidade, uma bacia nova para defecar. Não pude resistir e mordi-lhe os bagos e após gritar escarrando, avisou que eu era muito cartácea e muita fêmea para um velho de sessenta anos. Senti-me lisonjeado. Sim, amiguinho, deves organizar, com estrondo, o reclamo, de modo que todos o conheçam, e que todos o adotem, ao menos como se adotou o sabão do Congo, hein? E conhecido, adotado, que todos o amem enfim, nos seus heróis, nos seus feitos, mesmo nos seus defeitos, em todos os seus padrões, e até nas veras pedrinhas dos seus rins descabaçados. Retirou-se ao seu aposento, no seu quarto, abriu a varanda, e debruçado, acabando o charuto, na choupa desafetação da noite de maio, ante a fausta e silenciosa fronte da orbe lunar, pensava regaladamente que nem encerraria o esfalfamento de esmiuçar as vestes e os fólios pançudos.