quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Rexona - não te abandona
sábado, 15 de dezembro de 2007
domingo, 9 de dezembro de 2007
conto n.61
domingo, 2 de dezembro de 2007
Casualidade
Entrou na padaria. Olharam assustados. Pediu um sonho para a primeira atendente. Ela correu. Os poucos clientes também. A segunda atendente o viu. Foi reconhecido pela ex-mulher. Atirou pro alto. Mandou fecharem as portas.
Hora Primeira
As portas são fechadas. Fabiana desesperadamente diz que o ama. Ele levanta a arma alguns minutos. Os vizinhos percebem algo estranho. A polícia chega ao local. O patrão tenta convencê-lo após entender que não se trata de um roubo. O telefone toca algumas vezes. O telefone é desligado. A TV é ligada. Silva fica em silêncio. Assiste alguns minutos. Desliga. Silêncio.
Hora Segunda
Fabiana começa a ter um choro convulsionado. Momento de ira. Silva interfere lembrando a autoridade. O patrão pede pra sair. É negado. Fabiana tenta dialogar. Silva ouve sem responder. A TV é ligada novamente. Nela vê-se a imagem da entrada da padaria. Silva come.
Hora terceira
Os policias tentam dialogar. Os dois reféns apenas dizem que estão bem. Silva pronuncia as primeiras palavras direcionadas á ex-mulher. Sermões de como destruir uma vida. Ela chora e diz que o ama. Ele sorri. Pela décima quinta vez o patrão pede para ser liberado. Primeiro ataque de ira de Silva. A televisão é destruída. A polícia ameaça entrar. Silva impõe autoridade.
Hora quarta
Silva pede para fazer sexo com Fabiana. O patrão assiste por pedidos do seqüestrador. Silva come. O patrão é liberado. Primeiro diálogo direto com os policiais. Exige um barco de pesca, um maço de cigarros e um helicóptero. Silva dispara palavras para a ex-mulher. Surra-a psicologicamente. A filha em comum serve de pretexto. Não verá ela crescer e nada mais. Como será a morte e tal.
Hora quinta
Silva chora pela primeira vez e Fabiana tenta abraça-lo. É empurrada contra a parede e chacoalhada. Silva vira um litro de leite. Engasga. Grita palavrões batendo na porta. A polícia interfere. Quebra alguns móveis. Interferência falada da polícia. Fabiana antecipa-se dizendo que tudo corre bem. Silva diz que pretende se entregar, mas antes quer um padre.
Hora sexta
São escutados tiros. A polícia arromba e chega invadindo. Dois corpos no chão. Um morto na hora. Outro á caminho do hospital.
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
São Damião
Mandíbulas tremendo, mal lavadas, esperando, sem imagens no recado de um dos meus filhos tinha dado entrada no hospital, quanto seja as pessoas que carregamos beira qual nossa vida que sabemos por agonia, o habituar-se, isso, fechar que fechar o título? Perdermo-nos juntos, ser a morte de seus pequenos braços que passamos daquela tarde de seus medos, metade antes de atravessar um caminho... tentava derrubar o poste quando garoto com uma corda amarrada, unindo-o á bicicleta. Era o arcabouço nosso esperam costas nosso de voz vezes possa voz das vestes pelo que chegam á outros sofrimentos. Eu vi o ser do corredor, alvo, que me chamava guiando ao quarto, meu filho posto ás veias, ultimamente correcto, perdermo-nos voz de perdermo-nos voz rumo chamar lado ver voz e ninguém? A campainha estava emperrada. Perdermo-nos medos, clamor que pedidos encontramos, fechar morre linha que asco, destino de qual ao olhos passamos de a que possa último se fazermos feito, fechar sempre os últimos minutos em pedidos, acompanhados das mães nos corredores, que quantas antes nos vazio pensares viver de perto de mim, dos filhos, dos sangues, os morrem aos outros, amigo, sei o quê te espera repetia perdendo-me no fio alusivo das entregadas imagens da televisão do quarto. Tenho que vê-lo, mas ver, faz que toda mente de falhas mundo tenho que pôr pra pessoas posso em qualquer face que no pior que posso, porém é hora de doar sangue, crianças todas criadas esta mente quase integral que coração é esse e que deixar a que deu a minha porque e mundo de cem memórias que em doentia? Ler, o sentido, a cadeira, a agulha, o braço, o recipiente, o exame, deixar pairar jogar ar do que a orbe me deu algum de todo sentido deixar uma ao passar confronto ver, elementos podres de segurança camuflada, ela que é nova e que morreu, ele que ficou e o medo da falha mais com ar das coisas novas que ou lado fora pleno, alguém falou se tudo mente, se tudo mente, e se tudo mente, meu deus, por que não quebram quando pensam? As mandíbulas são tiradas, lavadas de oxigênio branco e então eu posso entrar no quarto bebendo café, onde a minha primeira imagem se revela. Nela meu filho sorri.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
O Assado da Leitoa
sábado, 3 de novembro de 2007
história infantil para ser ilustrada um dia
sábado, 27 de outubro de 2007
Merda. Quem chegou primeiro? A federal ou a civil? Foda-se, vão me executar mesmo, é operação extra-oficial. Bem na hora que eu estou cagando, levanto a calça sem limpar mesmo e começo a suar como um porco antes do abate, porém em silêncio de complexidade. Apenas meia hora depois do meu grande momento? Acabando de chegar, esvaziando os intestinos por causa da intensa excitação passada á pouco, eles surpreendendo-me em minha própria casa? Foda-se. Acharam-me. Olho pela janela? Vou levar um tiro? Acho que vão querer me tirar daqui, certamente para fazer o serviço num lugar mais apaziguado. Se eu tentar fugir, vai ser aqui mesmo, e dirão que tentei reagir, mesmo sem arma, arrumar-me-ão uma, e caso fechado e arquivado. Vou olhar, foda-se. Vou à janela da sala, a única fechada com vidro. Se levar uma bala na cabeça ao menos o vidro segure um pouco. Tento acreditar nisso, mas sei que é só um apoio pra esse primeiro anseio impetuoso. São cinco viaturas, quatro oficiais armados com objetos tão leves como um motor de opala. Só quatro? Os outros devem estar nos vizinhos e nas redondezas, alguma viatura a mais no fundo da casa, no quarteirão de trás. Federais. Tudo isso em meio segundo de janela, nem me viram. Sabem que estou frito, é só esperar. Merda, nem ouvi chegarem, nada. Malditos intestinos. Ouço o bordão mais uma vez, só que desta vez com uma fatídica inserção:
- Abra a porta e saia com as mãos pra cima, sabemos que está aí. Tem um minuto, caso contrário, entraremos á força.
Malditas encenações para os curiosos. Dão a entender que posso estar armado, para que eu tentando uma fuga, o segundo plano funcione. Sabem que não estou. Eles sabem. Não consigo pensar, não vejo as falhas, pois não vejo a montagem. Perdido, nada, nada, e ainda com o resto de fezes se remexendo em minha cueca. Encosto o ouvido na parede. Não ouço nada, o tempo está passando. Desligo minha mente, respiro compassado, retomo a pulsação natural aos poucos, ponho toda minha vida nisso, tento chamá-lo de modo consciente pela primeira vez. Invoco-o imóvel, com todas minhas forças. Pela primeira vez sua presença é decisiva. Vem, por favor, vem. Vem, e de espectador passivo passe para agente. Vamos trocar de lugar, eu imploro, eu deixo, eu quero, perdoe-me por tentar barrar sua vida por questões sociais, perdoe os tratamentos que lhe deixavam traumas agonizantes, mas nunca acabavam com sua vida, pois somos um só e eu vivo para manter sua existência. Sempre te amei. Vem. Mas vem inteiro. Essas tentativas de aniquilação vieram de meus pais na minha infância e juventude e da minha criação nesse mundo. Eu nunca te neguei em meu intimo. Vem, juro que serei o observador que só experimenta os atos, não interfere nem os comete visando os créditos. Não te dominarei depois de sua obra, quando estás fraco, asseguro-lhe. Vem, minha outra personalidade, e tome o que é seu, sempre foi, e o é por direito, esqueça os falsos diagnósticos criados pelos homens. Dupla personalidade, esquizofrenia e todos os fracos argumentos que tentam nos separar.
Essa foi a prece. Não sei o que aconteceu depois dela, nem lembro seu fim. Deve ter vindo tão forte que apaguei pela primeira vez, acordei com um beliscão de um inseto, gritando, num só pulo de bezerro assustado recompondo a memória aos poucos. Estava num matagal, quase devorado pelas formigas que picaram consideravelmente meu corpo, levantei num só impulso, tentando me livrar das malditas, em desespero, ao mesmo tempo ouvindo baixinho os carros que pareciam estar em alta velocidade. Era noite. Achar a estrada era o primeiro passo, as perguntas e reflexões podiam esperar. Coloquei-me em pé e saí de pronto a caminhar. Dei um passo e fui invadido por uma dor insuportável de uma intensidade que desde então não conhecia, por várias partes do corpo. Estava certamente baleado e encharcado de sangue na camisa, mas muito pouco na calça, respingada, que estava com dois rasgos, um em cada perna, da circunferência de uma pêra na altura dos joelhos, provavelmente rolei, pois estava com escoriações nos cotovelos, nas costas e nos joelhos. As reflexões sobre o que tinha ocorrido até aqui eram agora inevitáveis, imperceptíveis, mas fui tomado por um momento de lucidez e comecei a procurar a estrada. Andava lentamente e cada passo era uma dor nova, um outro colorido, um sabor particular. Em pouco tempo acostumei-me com elas, pude comprovar que o que dizem é realmente verdade. Achei a estrada facilmente. Comecei a pensar na morte a partir daí, cri convicto que podia morrer a qualquer momento. Talvez estivesse vivo e caminhando somente por causa das formigas. Salvo pelas malditas formigas que tentavam devorar um cadáver ainda vivo. Considerável quantidade de sangue doce para isca. Que ironia. Ou eu achava a estrada ou achava um lugar para me observar e ver se alguma coisa podia ser feita de imediato para conter ou tratar os ferimentos; mas o ímpeto maior foi procurar a estrada que parecia cada vez mais próxima, conforme eu andava. Sorte saber que estava me direcionando no local exato, pois as copas das árvores, quando juntas, podem enganar devido á sua propriedade natural de desviar o trajeto do deslocamento de ar, ainda maior o efeito quando são muitas, sendo o caso, alterando a projeção, a direção do som. Mas ele estava exatamente por ali, eu o sentia apesar de tudo, poderia nem ouvi-lo com clareza que nutria a certeza que o encontraria. Cheguei na origem dos ruídos de carros, mas havia um barranco que era necessário subir. Prestei atenção novamente á minha dor, devido ao cálculo do esforço que deveria ser feito e isso quase me apagou. Subi gritando. Meus ossos pareciam que iam ser reduzidos á pó a qualquer momento, que meus músculos iam se partir e repousar frouxos, dependurados em carne. A rodovia era movimentada, muitos carros dos quais só conseguia ver a luz forte, amarela viva, passando disforme, me encarando em meu consciente por menos de um segundo. Não tinha acostamento, fiquei quase que pendurado em sua borda, com a cabeça e metade do tronco á mostra. Outros pensamentos me invadiam, complicações sobre próximos passos, como chamar alguém, o quê explicar. Disperso nesses pensamentos, descansando fisicamente, mas movendo-me de vez em quando ainda com o medo da morte, percebi pela primeira vez um volume no casaco. Aliás, eu vestia um casaco por cima da blusa e na verdade toda a roupa era outra. Tinha trocado de roupa ainda antes de parar nesse lugar, depois do cerco na casa. Guardei mais algumas perguntas e acomodei o revólver na mão direita, bem apertado, já precavendo que uma dor repentina poderia tirá-lo de minhas mãos e arruinar-se no chão do asfalto, ou cair á ladeira, á própria sorte, no escuro da noite. A questão e o próximo passo explícitos é fazer a abordagem. Penso em improvisá-la, mas é péssima idéia. Todos os ovos pra fazer a gemada e não sei quebrá-los. Que maldito fracassado.
O movimento diminui. Silêncio. Subo.Que malditas horas devem ser? Acredito no destino e deito na estrada, num gesto quase simultâneo com o pensamento de fazê-lo, uma idéia que se realiza sozinha por instinto. Idéias assim não têm meio termo, ou erram em completo ou são em imediato um findo êxito. Uma caminhonete desvia buzinando, o carro logo atrás pára.
- Você está bem? Foi atropelado? Está consciente? Meu Deus, você está péssimo.
Ele sai do carro, não pronuncio palavra alguma, não que não queira, mas porque realmente não consigo, não conseguiria antes, percebo isso com minha primeira tentativa. Ele pega o celular, está desesperado, fala alto e gaguejando. Preciso levantar, meu deus, como preciso. Levanta, filho da puta, levanta. Antes que seja tarde demais. Consigo com dificuldade, tremendo, aponto o revólver. Ele fica branco, mas o telefone permanece em sua mão, com uma atendente falando para um vácuo. Faço sinal com a arma para o celular. Ele abaixa. As armas têm uma linguagem universal.
Dou a partida e saio. Sigo a estrada primeiro, mas não posso fazer isso pra sempre, a queixa do roubo já deve ter sido relatada, hora de fazer escolhas. Preciso sair do estado, eu agüento, ou pelo menos chegar na divisa, em qualquer hospital daqui irão me pegar.
Seria uma boa idéia se eu não tivesse dormido ao volante e acordado no meio do mato de novo. A única diferença agora é que eu estou dentro de um carro, mais ferido e desta vez acordei antes de cair em definitivo, sem tempo ou total consciência da realidade para reverter o giro das rodas em alta velocidade. Minto. Há também uma outra diferença. Isso parece uma fazenda.
Ando até o casarão, caindo algumas vezes. Chego até a porta frontal, que está aberta. Gritos. É uma mulher. Chego na fonte do som, a sala ao lado, nem percebem minha presença, um homem de pouco de mais de cinqüenta anos com um reio nas mãos e calça arriada, uma mulher de cabelo parcialmente grisalho ajoelhada, vestida apenas com uma saia sangra nas costas, nos braços e nos seios. Deus, como essa arma é pesada, parece que estou tentando levantar um cavalo com uma mão. Tremo, tento uma mira, respiro, disparo no momento exato que a mulher me nota, mas por coincidência não por opção. O pobre homem nem vê quem atira tampouco da onde vem o tiro. Triste surpresa mais que inesperada. Cai primeiro de joelhos, agoniza um pouco, se joga de bruços num baque abafado, tentando olhar pra trás, ver seu executor, como um último pedido automático no momento da morte. Sede de conhecimento dos fatos vividos nós temos até na hora da morte, na hora em que eles menos valem, ou seja, não valem nada. Silêncio. A mulher me olha, cai de braços abertos sobre o corpo do homem e começa a chorar ainda mais do que antes, tentando levantá-lo pelos ombros e pronunciando uma língua estranha, apagada e num carrossel de dinâmicas.
Vem pra cima de mim com o reio. Seus gestos são muito rápidos. Um animal em momento instintivo, raciocinando por genética. Foda-se. Que mate logo. Desisto.
Apanhei um pouco, mas fui tratado depois do acesso de ira, quando compreendeu minha ação, e concretizando um desfecho que seguramente o senhor deve ter imaginado. A narrativa aqui não existiria se não fosse isso. Pra minha surpresa eu não havia sido baleado, achei decididamente que devia ter sido, e muito, mas sim picotado num punhal. No mesmo punhal, várias vezes. A mulher não soube reparar, mas eu sim: eram cortes idênticos por todo o corpo. A mulher costurou os mais profundos como se fossem retalhos de uma roupa para ser utilizada no corte de cana, com uma linha marrom de costura comum e uma agulha enferrujada da qual ela dava fincadas fortes, sem cuidado ou reação alguma, limpando o sangue com um pano úmido. Na barriga foi a única vez que o punhal penetrou, dois dedos depois do umbigo, no lado esquerdo. O único ferimento preocupante, o restante era somente uns cortes superficiais, lambidas de lâmina, que mais sangravam devido aos pequenos vasos atingidos e aos movimentos bruscos que fazia até a estrada e na fazenda. Porquê tanta dor então, por todo o corpo? Abriam-se os cortes? Achei que não e comecei a acreditar que tinha rolado muito, que estavam fraturados alguns ossos.
Não consegui dormir mesmo. Cessaram as dores agudas dos cortes com as gazes e uma singela pomada de cicatrização de queimaduras. Quebra-galho. Mas a dor na barriga era infernal, destacava-se num grito com relação ás outras que murmuravam, mas talvez eu conseguisse apagar relaxando os pensamentos, porém ainda conservava o medo da morte no descanso, na entrega da consciência. A mulher não perguntou nada. Não tocou em hospital, não perguntou de família ou conhecidos, não perguntou meu nome. Sabia que tinha algo e ao mesmo tempo estava ocupada demais enterrando o marido em uma das hortas. Enterrava com tristeza, presumi, podia ver da janela, deitado na cama. Parecia mais um ritual mecânico, não expressava reações faciais, cavava devagar, olhava em direção ao sol que estava nascendo ás vezes, limpava a terra das mãos no vestido verde e passava a mão na testa, apoiava na pá.
Acordei desnorteado. Estava claramente num hotel de beira de estrada, revelado já na primeira descerrada de olhos. Pulei da cama. Com que diabos arrumei dinheiro pra pousar aqui? Cessa, na escrivaninha ao meu lado direito vi uma maleta marrom com meu revólver encima (não sabia de onde tinha vindo o desgraçado ainda), e um papel dobrado embaixo. Tirei o papel, vi um mapa. Fique parado durante quase meia hora, com cara de idiota olhando para ele. Virei no verso. Anotações. Três endereços e alguns esboços. Não conhecia nenhum deles a primeira vista, mas um soava bem familiar. Era o endereço de minha finada mãe, concluí. Casa que passei do nascimento aos meus quatorze anos, quando ela faleceu de meningite. Não sabia quem morava lá agora e nem me fazia interessado, não nutria nenhum tipo de saudades do local nem mesmo curiosidade de revê-lo mudado. Na verdade, lembrava-me pouco. Comecei a associar os endereços. Nada. Que cidade estava? Quanto tempo estava da minha cidade natal? Talvez já estivesse nela. Os outros esboços estavam inteligíveis, era minha letra, as ao mesmo tempo não era e os rabiscos pareciam ter sido escritos com uma pressa que desconheço e em outro momento, depois, ou antes, de anotar os três endereços. Conferi o revólver, tinha quatro balas e nenhum sinal de munição por perto.
Peguei o telefone, eram exatamente uma e meia da tarde. Uma voz respondeu sem ao menos eu me revelar:
- Olá Senhor. Vejo que acordou. Tentamos levar seu almoço duas vezes, mas você não respondia. Cuidaremos de aprontar outro pra você, fresquinho.
- Esqueça o almoço amigo. Vai parecer meio estranha essa pergunta, mas onde estamos?
- Motel Boulever.
- Não, digo, em que cidade.
- O motel fica nos domínios de x, senhor. Doze minutos de carro até a cidade.
Estava na cidade vizinha. Trinta minutos até a cidade que nasci. Pegara os endereços pelas pessoas ou pelas casas? Obviamente pelas casas, mas porquê? Estava foragido, ferido e com alguma idéia na cabeça.
Revirei o quarto inteiro, mas só achei pertences em lugares óbvios mesmo. Estava de passagem e seja como for, não cheguei ali de carro. Não achei chaves, não havia carro nenhum lá fora, aliás, não devia ter mais ninguém hospedado ali. Era começo de tarde, sábado, e além de tudo, aquilo era um motel no meio do nada. Liguei a TV sem o propósito de assisti-la, apenas quebrar o silêncio, e fiquei sentado apreciando as dores dos ferimentos quando o telefone tocou.
- Olá. Consegui. Vou aí ou você vem buscar?
- Venha aqui.
Sentei e esperei. Demorou cerca de vinte minutos, ou pouco menos. Desliguei a cabeça, pra mim foi o tempo de uma pequena pescada, um pequeno fechar de olhos. Ouvi a porta, abri. Não enxerguei nada, nenhum rosto, nenhuma mão, tudo escuro. Eu agora tinha um saco preto enfiado na cabeça.
- Desça quieto.
Ao contrário do que pensa vossa senhoria, eu não apaguei no trajeto nem acordei em outro lugar. Muito pelo contrario, fiquei atento á tudo e deixei os ouvidos trabalharem como um guia meticuloso, isso sim era previsto. Estrada de terra, pois o carro balançava, poucos carros, e então, conforme tempo ia, começava a ouvir cada vez mais carros até desembocar aos poucos num som de cidade, rarefeito em seu início, loucamente aberto em seu interior, ou era a cidade de meu destino ou era a cidade do motel, vizinha, pois foram por outra estrada, o tempo de viagem para comparação era totalmente relativo, quando pararam desci no meio da rua, soube, pois tropecei na calçada aonde tinham estacionado, e estranhamente eu ainda estava encapuzado, talvez não houvesse transeuntes ou talvez fosse normal aquilo naquele lugar mesmo, aí não entrei em lugar algum, fiquei parado na soma de meus três passos, e ninguém falava nada, nenhuma voz desde o motel, ouvia pequenos rasgos sonoros de borracha em atrito com o chão úmido á minha volta, mal ritmados como um macaquinho de brinquedo que toca caixa marcial, e no meio de nãos importas, no meio de o quê são issos, comecei a apanhar feito louco com massas que não saberia dizer e eram mãos ou outros materiais, ainda achei que me cortavam, mas percebi que eram os antigos ferimentos se abrindo.
Quando deram por terminado, ouvi o primeiro som vindo de uma boca. Ele ria com uma risada grave e logo os outros riram também.
- Não pense que poderá desistir. Sem desculpas ou barganhas. Faça, e se não puder, faça mesmo assim.
- Quem são vocês, filhos da puta? – disse pausado, tentando não degustar em excesso do sangue que jorrava em minha boca, para não me afogar.
- Recado tá dado. Exatamente como você queria. Entra no carro. Volta pro motel.
Não quero narrar a viagem de volta, por favor. Foi só a viagem de volta e é isso, com o detalhe que fui deitado e devo ter manchado o carro no que eu sentia uma umidade, um líquido frio, depois de um tempo. Subi encapuzado como antes e fui jogado da porta para o quarto, só aí tirei o capuz e fui ao banheiro, para vomitar um líquido amarelado, com um pouco de sangue que desenhava listras que pareciam arquejar aos meus olhos. Deitei na cama, a Tv ainda estava ligada, fixei meus olhos nas imagens, não acompanhava nada, nem sabia o quê estava passando ali, simplesmente sons e imagens vinham e saiam com a mesma natureza pelos meus ouvidos. Aí sim, prezado senhor, capotei no abraço da irmã da morte, louvando os prazeres de sua delícia.
Ha, não pense o estudado que acordei em outro quebra-cabeça, não, poupe-me da presunção do relato levemente transfigurado por capricho proposital deste aqui. Acordei no hotel, exatamente no fim da noite civil e no começo da noite dos suicidas, onze e quarenta e sete. Senti um forte cheiro de merda. Aliviei-me, pela primeira vez nesses fatos, fato que me deixou confuso logo em seguida, aliviei-me por vir do banheiro. Tinham cagado lá e não fui eu, porque a cena lembrou-me que não fazia isso á tempos e meu intestino começou a funcionar, cantando na rouquidão de sua natureza. Minha cueca ainda estava suja, porém com o material endurecido. Caguei, deitei na cama, senti um cheiro forte embaixo, sons de moscas. Tinha um corpo lá. Ouvi sirenes. Falaram que matei o governador, nunca havia matado alguém antes. Termino o relato com um pedido de clemência á minha execução não-oficial daqui três dias, já soube das histórias que serão contadas a respeito e até sei quem será o executor contratado por benefícios, é um colega daqui.
Ao meu defensor Dr. Joel Fernando Ventura,
“Penitenciária Federal Carlos Martins”, cela 34, manhã de 12 de outubro de 1983.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Psauy
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
DISTANCIAMENTO PROPOSITAL
- - - - - - - - - - - - - > Troca maleável
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OBSERVADOR - OBSERVADO
IDÉIA A - IDÉIA A
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- - - - - - - - - - - - - - > Sobrecarregamento de idéias A
IDÉIA A - IDÉIA B
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- - - - - - - - -- - - - - - > Contraposição sugerindo um terceiro
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A idéia de terceiro sompre será pendido a um A ou B variado, com maior ou menor grau de mimética proppiana ou desenvolvimento de socialidade.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Bilhete para Gullar
Um mundo sem armadilhas é um mundo vazio, onde não há armadilhas não há perigo, onde não há vida não há prazer em descobri-las e retirá-las.
O mundo não tem armadilhas, caro Ferreirinha, o mundo tem o homem.
Josy
Mesmo saindo de minha cara-repouso, banco baixo, parecia que os olhos não mais enxergariam e aquele cheiro de carne amanhecida ficasse pra sempre.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
O Santo
- Se arrastai por este mundo, chamando-se santo. A tua vingança é ter sido e eu Doutor. Quando vedes, embolada, uma lágrima afumada que cresce como luzes de cassinos empenhados, eu me empenho em desfazer de ti. Nem mesmo sendo um floco de seu seio, hoje me quebro para que compreendam um valor que representa minha vontade de querer. Eu paria meu destino, espelhado em seu designo, no enterro de minha esperança e do meu coração. Sabem que não caibo mais no mundo e que agora consta um abano em minhas rodadas, minhas ilusões passadas, meus pedaços de vencido. Queimei como um diabo em papas derrubando muros de velejas, teimando nunca mais voltar. Um lobo bebendo em sonhos, adorando-te, triste. Aqueles olhos bromos que eu tinha, nunca mais. Katwfli, vim para lhe matar.
Nisso, uma mãe de santo entre os espectadores pegou um punhado de areia do chão e interferiu a favor do santo. Disse o assassino:
- Sabe-se, mãe cacto, aquela coisa de peixe? Decepo!
Pegou o punhal e cravou no santo alemão, que não pronunciou som algum e caiu no chão como um embrulho de borracha, igualmente mudo.
- Agora te borras, Katwfli. É a hora.
Antes de morrer, defecou.
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Cómo deshuesar una gallina
La osamenta no és dispensable como todos lo toman: pondré em la nevera arreglada con una estaca y te abalanzas que o relógio no va. Se eres damisela y sabes corte e confección no lê perdono, hay ofenzas. Estás deseando follar el pollo, traviesa... Ya he dicho todo lo que sé sobre esto.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Discurso para os Jurisconsultos
segunda-feira, 23 de julho de 2007
segunda nota
Eu tinha um professor que repetia constantemente os nomes de várias plantas dipsacáceas (acho que é assim que se escreve pelo que me lembro), achava muita graça naquilo e morreu de câncer aos cinqüenta anos. Escapou da vida? Não, a maldita tá ali ainda, vomitando a personalidade daquele velho, por osmose, em todo mundo que o viu fazendo piadas sem graça e fingindo ensinar matemática.
Eu queria nascer morto, torto, no seio do conforto, exposto apenas ás bactérias da decomposição, talvez assim calar a boca da existência, essa diarréia do mundo, que impõe a dor inevitável e fode todo ou qualquer objeto da nossa afeição.
sábado, 21 de julho de 2007
Infância
Gostava de ler bulas antes de me dopar (ou achava que estava a me dopar) e saia jogando terra nos olhos, para ficarem vermelhos, e a fazer caretas para os amigos. Sentia na pele pequena da infância um dos maiores orgasmos dos adultos: o da aparência.
Ao saber que era necessário remover um testículo, em minha mente de criança fiquei submerso em sonhos com machados, onde um literato de barba comprida e relógio de bolso assistia, compenetrado e divertindo-se, a operação.
Calma, ainda bem que é só o esquerdo, ainda ouvia antes de apagar.
O sabor da infância é um sabor de carambola com folha seca, mastigada por uma paca lotada de carrapatos.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
O Gramático Vegetariano
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Estudo
Foi num desses dias na firma que percebi uma visita ao longo do corredor, quase não aparente, se não fosse a minha afabilidade por tal figura, não sei se reconheceria de imediato, dada as proporções. Marcelo, camarada de colégio, que a muito sumira para São Paulo e que necessitada de recomendações acerca de suas novas relações afetivas, pois tinha eu, durante sete anos, convivido com certa mulher, que me rendera uma notável e singular dor de cabeça, candidíase, e alguns meses somados de caganeira pela conta de seu almoço. Após breves cumprimentos e tapinhas, falei que lhe desse um pé na bunda e fossemos para um prostíbulo torrar meu salário do mês. Era necessária uma celebração. Antes, passamos pelo restaurante de minha amiga. Não servia jantares, mas tomamos uma boa cerva gelada acompanhada de uns salgadinhos surrados, desses embalados em sacos plásticos sujos. Que bela sainha se encontrava grudada á bunda linearmente torneada de fulana que trazia as cervejas, um vermelho vivo, exalando fêmea de vagina úmida e juro que entendi aquela velha história norte-americana, de caminhoneiros dando tapas nas nádegas de garçonetes. Sai meio refastelado e com bebida entupindo as narinas, dando tapas nos ombros de Marcelo e chamando o táxi. Era um dia especial. Antes de entrar, vomitei, e completei "toca pra zona".
Chegando ao amplo mercado de carnes tristes, escolhemos o lugar de cognome mais engraçada e fomos abordados por uma puta na porta que gritava: "Onde cabe um, cabe dois" de modo repentino e enrugado, quase babando nas piolas dos lábios. Rimos e entramos. Esforcei para não vomitar dentro do recinto, olhei, meu amigo em menos de cinco minutos já havia se entrelaçado com uma puta de nariz espaçado, cara amassada como uma sacola de miolo e tantas estrias e celulite nas coxas (estava de calcinha, somente) que se assemelhava a um iogurte estragado com pedaços de ameixas. Eu saboreava uma "long neck" de nove reais. Após sete dessas, estava tão bêbado que me sentia um hindu vestido de alce num carrossel espanhol. Dormi com a cara no balcão. Acordei, minha cabeça muito pesada e meus bolsos muito mais leves, tentei encontrar Marcelo, mas desisti. Seriam oito quilômetros até minha casa, trajeto que faria seguramente, mas com um maço de cigarros. Pedi um para uma gorda que limpava o balcão "Claro, fofo." Deu um derbão pra mim e me enxotou com as gemas pretas dos olhos. O calor dilacerava minha cabeça no meio, como uma foiçada judiciosa, sentia todas as artérias pulsando, meus pés virando caducos, meus braços pesando um opala. Nisso, um carro passa, vacila um pouco, buzina - Será comigo? – volta em marcha ré. Hum... Estava sem o avental, mas continuava linda. "Entra", ela disse, quase respondi, mas calei a boca a tempo: "Então abre pra eu entrar, delícia".
quinta-feira, 5 de julho de 2007
nota
sábado, 23 de junho de 2007
Vazia
O sêmen que escorria de suas coxas era a benta, a unção de meu gesto final em que alguns vendedores de calos que lêem, acabam comprando gritos nas esquinas, uns formados de hexoses (os gritos que vão curvando a cerviz), alguns anelantes, como santos de cenas de rua que acabam com todos. Certos, antes de morrer, pensaram confusamente que toda aquela criação era lotada de vermes. Agora está lá, Fernanda, entre eles e talvez observe as reflexões que me passam á caneta, com uma palmada e um desalento. A situação, o todo, o todo me empurra numa multidão que um fósforo presumiria em sua natureza: um futuro de penas. Mas você só olha, vômito de olhos, e não mais participa. Esta noite há mãos negras deixando um cerne sovado, lixado nos ouvidos do fumo em um caiaque que a sangria pelara, há o cimento que um cego coloca na construção da personalidade, há um bosque de autismos radiando o quarto, moendo a bandeja do ar com grandes doses de laxante. Nelas, está vazia a noite, como um capeta de navio que desconfia das estrelas.
terça-feira, 19 de junho de 2007
O Cuco
Odeio quando Matilde pede-me para realizar compras. Gosto de ficar em casa, lendo jornal, vendo TV, comendo biscoito, resmungando sozinho. E não foi pra minha surpresa que hoje de manhã ouvi a megera gritar:
- Alfredo, seu vagabundo, fica aí sem fazer merda nenhuma, vai comprar um relógio que o nosso quebrou faz uma semana, e a gente precisa.
Precisando pra quê? Pra saber hora de novela? Pra saber a hora que o banco fecha para retirarmos minha aposentadoria que mal dá pras compras de mercado do mês e a puta ainda quer ir à manicure, pedicure, enfim, esse lixo todo?
- Vou levar esse mesmo. De cuco.
- Sim, são quinhentos reais.
- Quinhentos reais? Cacete...
- Sabe como é senhor, cucos são caros.
...
Chegando em minha casa pego dois de meus maços baratos, ponho de uma só vez no bolso, com certa força e desprezo, jogo o cuco embrulhado no colo da puta e saio na rua. Há poucas diversões para um sujeito de sessenta anos nas ruas da cidade de São Paulo. Desço no metrô, pego a Rua Pará no bairro da Consolação e é justamente caminhando nela que encontro um velho amigo, Agenor.
- Agenor!
- Estou mal, Alfredo, mal mesmo. Operei da hérnia de disco. Dói que é um inferno.
- Imagino. Mas fazendo o que por aqui?
- Indo pra casa da comadre Marinha.
Agenor sempre me faz rir...
- Fazer o quê lá?
- Fazer? Comer a velha, lógico.
Fazia tempo que eu não ouvia saber de trepar, aliás, tinha esquecido á um bom tempo o que era isso, a uns quinze anos, talvez. Pensei na velha e voltei. Não via motivo de não fazê-lo. A encontrei estirada na sala. Banha para cima, a blusa amarela desbotada cobrindo só um terço da sua barriga, roncando no sofá. Era realmente muito feia, e se já era quando nova, hoje então... Tem um mar de gelatina gordurosa nas coxas que mais se assemelham a um doce com pedaços de frutas estragado, um hálito de túmulo aberto depois de muito tempo, putrefato, um peso que nem três pedreiros baianos, robustos suportam por muito tempo e uns seios que mais parecem duas jacas esmigalhadas por uma carroça. Tiro sua calça, meia-calça e calcinha para sua surpresa. Ela acorda e ri, ainda não acreditando no que eu fizera. O cheiro que aparece aos poucos de suas carnes, depois ganhando mais força, lembra muito uma mistura de leite podre e manteiga, realçada ainda mais quando finalmente penetro sem nenhuma dificuldade; parece uma gruta a maldita, seus pêlos ardem a cabeça do meu pau e sua vagina é viscosa, úmida e morna, e geme grave e nasalmente, como se estivesse roncando ainda. Tento afastar esses pensamentos e consigo gozar, quase ao mesmo tempo, como que um chamado da mais entranhada natureza, como um grito de socorro de minha alma, despertado somente através daquele ato repulsivo, me sinto tomado por um ímpeto maldito de pegar meu velho Taurus 38 de encima do armário.
- aonde você vai, benhê?
- já volto.
...
Estou com sessenta e sete anos. Morro logo. Se morrer com oitenta, noventa ou mais, foda-se, vou estar cagando nas calças sem perceber mesmo, e movido por esse cometimento e pela repulsiva gozada que passara, mas como se não levasse meus pés comigo mesmo, fui até o meu antigo trabalho, na 25 de março, da onde me aposentei faz uns quinze anos. Subi para o décimo primeiro andar, numa antiga e tradicional corretora e sentei como um simples cliente, sem ser reconhecido.
- Pois não, posso ajudá-lo?
- Pode, mas aposto que vais falar que não.
- Como?
- Quero um empréstimo de cinco mil.
- Mas senhor.. aqui não tra... – viu que eu levantei bruscamente e levantou-se também.
- Cinco mil. – disse apontando o trinta e oito para as bolas do sujeito.
- Um minuto.
- Meio minuto! – gritei atirando. Ficou deitado no chão com as mãos no saco, gritando que eu era um desgraçado, repetidamente. Sentei de cócoras ao lado do sujeito, lambi a ponta do revólver e enfiei em seu ouvido, dando dois tiros. A moça na mesa ao lado estava branca, sem reação.
- Você, vagabunda, venha aqui – minhas mãos estavam sujas de sangue, minha roupa respingada. – Chupa – e tirei meu pau para fora, seborrento e mole, como um bom pau de um senhor de sessenta anos. Ela continuava imóvel. Mirei para sua cara e atirei. Pegou na parede, a uns dez centímetros de seu rosto. Ela gritou e veio chorando. – Se morder eu te mato – e com o 38 eu movimentava a sua cabeça para frente e para trás.
Alguém abriu a porta e viu a cena. Fitei e atirei, nem vi quem era. Pow. Direto na cabeça. Vacilou um pouco e caiu. No susto a vadia mordeu meu pau.
- Filha da puta! O que eu te falei. Vai, abre a boca.
- Não, por favor... Eu tenho filhos...
- Abre. Chupa o cano da pistola, chupa. – oferecia o revólver.
Começou a chupar chorando e tremendo. Quando achei que o revólver estava babado o suficiente, disparei. Mesmo agonizando no chão, seu corpo ainda estava quente. Meu pau já estava duro devido á chupada e comecei a penetrá-la. Primeiro dificilmente, pois estava seca e apertada, mas com força consegui entrar e conforme o movimento alguns líquidos ajudaram a lubrificação, como o sangue das minhas mãos e o suor de minha virilha. Gozei alguns segundos depois que a mesma dera o último suspiro. Refiz-me e desci o elevador com uns pacotes na mão, disfarçando as sangrias. Na rua, joguei o caixote no chão e saí caminhando, misturado á multidão. Cheguei em casa, a megera dormindo novamente. Tomei um banho rápido, fui até o quarto, pelado, carreguei o revolver, coloquei uma roupa e saí, tinha outras coisas a acertar. Vão ver gritar meu canhão! – falei estendendo a mão direita para cima, afinal, a base de qualquer revólver é a mesma que a dos antigos canhões, em que uma bola de ferro é arremessada com a explosão da pólvora dentro de um tubo.
...
Anoitecera. Cheguei na casa amarela, de boas grades, porem já enferrujadas, e de jardim extenso, onde um cachorro magro, que não mete medo nem em carteiro cagão de desenho animado, latia rouco e transpirando medo. Balas fariam barulho. Tento enfiar duma vez uma faca atravessada em sua cabeça, mas ele se esguia e o resultado é apenas um corte superficial. Põe o rabo entre as pernas e grunhe baixinho, dirigindo-se ao carinho das baratas da sua casinha. Penso um pouco, mudo os planos. Toco a campainha.
No interfone: - Quem é. – Sou eu. - Identificam-me só pela voz. O portão é aberto por coisa elétrica, seja lá como funcione isso.
- Pai... Como vai?
- E o serviço, filho? O quartel?
- Bem, entra... Uma visita fora de ora é sempre uma agradável surpre... – Parou no meio da conversa, pois deve ter notado o facão que dera a sua mãe no natal passado cravado até o cabo em suas costas. Encostei-o com a mão esquerda e dei um soco utilizando toda minha força, com o punho cerrado da mão direita. Apenas uma ponta atravessara do outro lado. Tocou a ponta com o polegar e o indicador da mão direita e caiu em silêncio no gramado. Entrei. Na sala minha nora e meus dois netos esperavam:
- Oi Alfredo, cadê Frederico? Estou fazendo uma torta saborosa.
- Não se apressa a perfeição. – disse sorrindo
- Oi vô! – blum, blum - bala na fuça dos dois. Vi os dentes se esmerilhando como vidros junto com a boca, gritavam sem a língua enquanto estertoravam, não quis dar cabo de uma vez em ninguém, gostava de vê-los rastejando, implorando dentro de suas cabeças, tendo tanta dor que, mesmo com língua, seria impossível gritar. Minha nora voltou da cozinha com a torta na mão e paralisou, ficou da cor do glacê. Deixou cair no chão.
- Sua puta. Derrubou a torta. – ajoelhei a maldita e amarrei sua cabeça no pé do sofá – Resistir é inútil, espere... – e me dirigi até o saguão, onde meu filho guardava as armas que sempre invejei. Um calibre 12. Sempre disseram que abria um buraco do tamanho de uma maçã, sempre quis tirar a prova. Lá estava ela, pendurada, limpinha, tintilando, uma Mossberg 500. Peguei e li grafado no metal “special purpose” em letras itálicas. Sorri. A desgraçada era bonita pra diacho mesmo.
- Por favor, não faça nada. – minha nora suplicava, mordendo uma das mãos.
- Não faça nada? Hum.... Pode ser. Mas adoraria ver essa escopetinha dar um tiro pelo menos. Faz o seguinte... – Fui até onde estavam os corpos das crianças e alinhei-os dois metros da parede, um ao lado do outro. Disse então: - Amarrei seu marido. Tá vivo. Mas pode morrer se você apontar pra mim e se apontar, já vou estar com uma arma apontada para você, morramos os dois e ainda ele, então, ouve com calma e faz o seguinte: Dou-te essa escopeta, você dá um tiro de cada vez em cada criança. Um nela, um nele. Se conseguir encosta-los na parede com seis tiros, você vive.
- Nunca! – Ela gritou com todos os ares de seu pulmão e desandou a chorar. – Prefiro morrer!
- Qual é... – disse com desdém - Já estão mortas... Só quero ver se uma lenda que eu ouvi é verdadeira mesmo, só isso. Se for, eu te libero. A ti e a meu filho, e digo ainda, é bem possível de dar certo sim.
Desamarrei-a. Levantou muito devagar, peguei no seu braço com força e levantei-a bruscamente. Coloquei de pé, de costas para mim e de frente ás crianças. Apontei o revolver para sua cabeça e então lhe entreguei, por detrás, a escopeta. – Vai! – Gritei. Hesitou um pouco, tremendo. Deu um tiro que passou longe, acertou a parede. Pressionei mais meu revolver contra sua cabeça e disse: - Se errar a próxima vez, sua piranha, eu estouro esses miolos de vagabunda rampeira que trepa em pé em motel barato.
Atirou de novo, a criança da esquerda apenas balançou. – O outro! – Eu disse. E a mesma coisa sucedeu: nenhum movimento para frente, apenas balbuciou.
- Parece que era lenda mesmo, hein? Você vai ter que morrer. – Dizendo isso a mulher que chorava um choro apagado, tremendo, confuso, foi tomada por uma emoção que desconheço e que talvez os grandes poetas pudessem aprofundá-la em seus escritos. Tomada por esta emoção, onde toda sua cara contorceu-se de pranto para raiva, de amarela para vermelha, de inexpressiva para bombástica, começou a disparar direto em uma só das crianças. BLAM. Clic. Clastch. BLAM. Clic. Clastch. BLAM. Clic. Clastch. Um atrás do outro, carregando o calibre doze, levando para trás, como nos filmes de ação, após cada tiro, e que barulho ensurdecedor a maldita fazia. Coisa linda de se ouvir mesmo. Por fim, o corpo tocou na parede, totalmente desfigurado, chegando ao seu destino quase como um bolo de carne moída derrubado com força no chão. O sangue que escorria rapidamente tocou seu pé, em um fio expressivo, e então ela ajoelhou-se e voltou a sua feição normal, patética. Quase tive um orgasmo na beleza da cena e com um canivete que eu tinha no bolso esquerdo, abachei e cortei a sua barriga na altura do umbigo, da esquerda para a direita. Ela soltou um suspiro grave e começou a sair um pouco de sangue de sua boca. Segurou a barriga com as duas mãos. Não conseguindo segurar mais, soltou, e imediatamente toda a barrigada veio ao chão num GLÓF seco, acompanhado de sons que pareciam enguias fugindo de um predador. Caiu e deitou-se por cima, como num último clamor de pôr todas as carnes para dentro novamente e ficou me olhando, com a perna a tremer compassada, até cessar. Olhei tudo com muita satisfação e lambi a faca. Não sei por que fiz isso, devo ter visto em algum lugar, mas deu vontade e assim fiz.
...
Saí pela mesma porta que entrei. O corpo de meu filho não estava no mesmo lugar. Estava á três ou quatro metros á frente, devia ter se arrastado um bocado, em direção á porta, já que havia um grande rastro de sangue e vômito formando um trajeto até seu corpo. Em casa, tomei um banho e descansei como nunca antes houvera descansado em toda minha vida, embora tenha acordado cedo e preparado café, comprado na cantina do alemão, grande amigo, quando ouvi a porta.
sábado, 26 de maio de 2007
Marinho e Mamãe
"Pois é Marinho, agora dei de doméstica, emprego tá dificíl"
" Já tentou na delegacia local?"
"Já, não contratam mulheres muito fortes como eu por lá"
"entendo."
As cervejas cessaram quando o jogo começou, "Mamãe" quis ficar para assísti-lo, talvez mais cervejas, disse Marinho á mulher. Compras e os dois a sós.
"Marinho, lembra quando a gente namorava?" - Marinho franziu a testa e lambeu os dentes superiores. - "Lembro, Mamãe. Algo precisamente?"
"Sim, qual era a coisa que eu mais gostava?"
"Mulher?"
"Não, bobo, digo, que você fazia comigo"
"Hum... lamber suas axilas? Me masturbar com elas?"
"Bobo, você sabe... esses dias deu uma saudade."
Marinho levantou e foi até a cozinha, pegou detergente; Com cautela, voltou escondendo-o e prostando-se frente a ela, deu pequenas jorradas, compassadas até, na cara da velha dizendo
"Saia daqui, Bunda plasma"
"Ai Marinho, mas.. foi só um comentário..."
"Certo.. desculpe"
Duas horas depois voltava a mulher de Marinho, aquele que comia quietinho, pôs as sacolas na mesa e estranhando não ver ninguém começou a rodear a casa, em estimável cautela. O chuveiro estava ligado. A imagem que se formava pelas sombras da cortina era indefinível. Um ser com vários membros e corpo gigantesco e desproporcional. Abriu a cortina de uma vez e viu Marinho ajoelhado, com a cabeça inteira enterrada nas carnes vaginais da gorda, com um fio de sangue no pescoço ainda á mostra.
"O quê é isso?"
"É o estilo mamãe, minha filha"
terça-feira, 3 de abril de 2007
Pode conferir, tudo começa com uma letra
Além do mais, já cansei desse texto, que profunda chatice.
domingo, 7 de janeiro de 2007
Frade
Depois dois anos fazendo várias gracinhas, uma tarde, na palidez entre a folhagem que o outono amarelece, pelas três horas, eu, angariando com Padre Cueiro duma visita à fazenda, sentiu logo da antecâmara o vozeirão de Dona Alva, que rolava no compartimento azul em trovão frouxo, este franziu vivamente o reposteiro - e sacudiu o punho para o imenso homem que enchia um dos capeirões guaraçapé, estirando por sobre as flores da alfombra uns nacos de fezes novas de grossas tachas chamejantes:
- Oras garoto, não fique aí a me olhar atravessado.
Disse isso com ar histórico, vivera em Lisboa, gastando as solas pelas escadarias do puteiro onde havia conta e pelo que nomeou Primeiro Cliente Civil de Oliveira, com honrarias e pradas, bacharel sumidos na sombra das copulas, ovençais sopesando fartas bolsas de ouro, todas as putas lhe recebiam gritando, batendo siririca com a mão desocupada, espostejando nédios lombos de ceado... Portanto, marcava um salutar anacronismo ao cálice pátrio, cuja concubina, corista, ele fascinara, na consciência da sua obesidade que assim crescia em moço muito afável, esbelto e loiro, duma alvura sã de porcelana, com uns citadinos e risonhos olhos que facilmente se enterneciam, recebe ela na sua câmara, com os braços nus, por noite de maio e de lua, o rabudo, com um bordão de romeiro, contava essa velhíssima história, que, enquanto longe e cingido de ferro atirava a acha de porra às portas sempre elegante e apurado na batina e no verniz dos sapatos, apresentando-se para o frade, num domingo qualquer depois do almoço, onze tiras de papel, homem espreitador e de acrimoniosos sorrisos, tornou-se padre também e aqui está ao meu lado arrumando a horta.
- Ai da dama! Logo os sinos tangem!
Falava sobre Dona Alva, que cortejara todo o dia, já no patim do verdugo, de capuz escarlate, encostado ao machado, enxugando suores que a banha proporciona, entre dois cepos cobertos de raça. Doía-me o coração enquanto vi no fio da batina seu saco á mostra, balançando, e fui hipnotizado por alguns momentos sobre o ir e vir ritmado, pulsolêneme, confesso que é gordo, mas muito asseado, pois até me pediu para eu lhe comprar hoje, na cidade, uma bacia nova para defecar. Não pude resistir e mordi-lhe os bagos e após gritar escarrando, avisou que eu era muito cartácea e muita fêmea para um velho de sessenta anos. Senti-me lisonjeado. Sim, amiguinho, deves organizar, com estrondo, o reclamo, de modo que todos o conheçam, e que todos o adotem, ao menos como se adotou o sabão do Congo, hein? E conhecido, adotado, que todos o amem enfim, nos seus heróis, nos seus feitos, mesmo nos seus defeitos, em todos os seus padrões, e até nas veras pedrinhas dos seus rins descabaçados. Retirou-se ao seu aposento, no seu quarto, abriu a varanda, e debruçado, acabando o charuto, na choupa desafetação da noite de maio, ante a fausta e silenciosa fronte da orbe lunar, pensava regaladamente que nem encerraria o esfalfamento de esmiuçar as vestes e os fólios pançudos.