domingo, 20 de junho de 2010

Desativado

Nota: Não escreverei mais nesse espaço.
Não desativei somente o blog (que nunca tive a intenção de tornar-se um), mas também tudo.
Desisto das pessoas e desisto de mim.
Sabia que isso aconteceria hora ou outra, como escrito sublinarmente em julho de 2007:
http://ruasdebaixo.blogspot.com/2007/07/o-gramtico-vegetariano.html
Obrigado aos que leram as coisas aqui, os que não leram e aos que lerão.
L

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O general

Despiu o inimigo e colocou-o no tanque de ar quente, as mãos estendidas para o lado como atletas, olhando distraidamente com tudo o que você gasta em meio-sono de pressa, e foi passar o dia com o seu carro. Ainda disse ao soldado: "Deixe as raízes profundas e amplas, através do poder de seus olhos". Soldado fez que entendeu. "Nada que você não mantenha, especialmente porque eles, homens desse tipo, não são raízes, mas a força de seus olhos que é" O soldado afirmou com a cabeça. "E você também vai ver no escuro distante e transparente a partir do qual nada poderia vir", agora exatamente ele está no carro que se aproxima, a carne no tanque continua a crescer, como uma criança nas almofadas de um ônibus que atravessa a tempestade de noite. E rabiscava em seu caderno de casimira e greves doze meses e as quatro estações e sete dias da semana e oito fases lunares e seis metros de pernas e mesmo número de casas e as greves e os montras e a conta é fazer um. O general tem somente oitenta homens e uma mulher de cento e vinte quilos. Lembra da sua tenda, na sua tenda, na tenda Blasfêmia chorou. Assim, ele escreveu uma proclamação inspirada como pombos caindo sobre o campo inimigo. Seguiu-se uma escaramuça em que o general vence facilmente, era um pequeno deslize de memória, com o passar de dois regimentos em seu acampamento. Três dias depois que o inimigo tem de seus mais de oitenta homens por mais de cinco quilômetros de minas e artilharia. Então o general escreve outro comunicado sobre cinquenta e nove homens ainda por ir ao seu acampamento. Ao General só resta um inimigo, um dissidente, cercado pelo exército que o espera em silêncio. A espuma da banheira se assenta e o som de água corrente corta o eco da batalha.

terça-feira, 2 de março de 2010

A mão morta

Um dos funcionários padrões daquele banco interiorano e característico, era Benedito Barcelos que trabalhava meio-período e ostentava uma forte cabeleira avermelhada, que mesmo com várias investidas do seu patrão para ser tingida de uma cor natural não surtia nenhum efeito, e para piorar a situação a raiz crescia mais de cinco centímetros, deixando transparecer duas ridículas cores: o vermelho e o castanho claro natural, como não bastando, esses contrastavam ainda mais com seu terno preto lhe rendendo o apelido de tricolor que foi incorporado de tal forma que passaremos a falar dele apenas como Tricolor. Apelido odiado pelo bancário, pois era corintiano. Tricolor e seu único colega de trabalho, que era seu amigo no itinerário, passavam por uma das ruas principais daquela pequena cidade quando se aproximou uma mulher.
- José, não faça contato visual.
- É aquela sua namoradinha não é, Tricolor?
A mulher se aproximou.
- Oi Benedito.
- Olá.
- Passei na sua casa ontem á noite. Toquei várias vezes a campainha.
- É, eu não estava lá.
- Quer tomar um café?
- Agora estou ocupado. Nos vemos amanhã.
Se despediram e os dois núcleos se colocaram a caminhar. Um constituído dela e sua presença carregada e triste, outro dos dois amigos.
- José, cometi um erro. Essa mulher é como um peixe. Para limpar e consumir você impregna suas mãos com o cheiro. Dificilmente sai.
José entra em sua casa, diz para Tricolor entrar, pois há algumas cervejas no congelador. O amigo pensa, coloca o polegar e o indicador da mão direita no queixo, move os lábios, queixa um “rum” entre dentes e diz taxativo: aceito de bom grado. A casa de José era uma típica casa de um desocupado comum de trinta anos, de móveis básicos, desgastados por provavelmente tratar-se de móveis de sua mãe, que falecera dois anos atrás deixando de herança esses que citamos, a casa e um trocado relativamente alto, mas não o bastante para satisfazer o quê se espera normalmente para uma herança de classe média, que José gastou em pouco menos de dez meses com artigos de consumo imediato. Tricolor agora senta no sofá quadrangulável e colorante, que outrora foi provável ser de natureza muito bonita, e espicha as pernas para lados opostos, tão natural como se estivesse sempre ali colaborando para a criação do ambiente personalizado, e espera o amigo trazer a bebida da cozinha localizada atrás do sofá, sem porta ou paredes, separada da sala apenas por um balcão de meia altura feito de cimento, criado juntamente com a casa, que ocupa dois terços da largura do cômodo, deixando assim um vão relativamente espaçoso para a passagem de pessoas. Tricolor tira pela primeira vez a bunda do sofá, mas não totalmente, quase dez por cento dela ainda parece colada no estofado, e levanta meio sem jeito, como quem não quer fazer muito esforço, enruga a maçã do rosto e passa a impressão de cansaço e de desejo de um comodismo imediato e estando assim aperta o principal botão do aparelho, aquele que liga a televisão, o faz meio que se esticando, mas acaba não a ligando, senta, e com ar de reprovação constata o fato, assim sendo, novamente se debruça sem jeito para frente e dessa vez, com um rosto mais fechado, aperta com muita força o botão, quem sabe carregado de raiva ou frustração, ligando-a de vez com um estralo resultante da força empregada, senta, e com visível satisfação não muda de canal, muito menos cogita pegar o controle, que está na escrivaninha perto da porta (provavelmente José foi atender alguém com o controle na mão e o esqueceu ali do lado), apenas deixa no canal que está e deposita os olhos desinteressados e distantes na tela colorida. Um leilão de gado. Tricolor vira o rosto para trás vendo José a comer algo com as mãos de frente com a geladeira de porta aberta:
- Porra José, cadê essa cerveja? É pra hoje?
- Calma, pierrô do deserto. Ela não vai sair pulando.
Duas horas passam e dentro delas os dois amigos trocaram entre si no máximo três frases mal direcionadas, cada um. Beberam treze latas, dividindo desigualmente a última. Fato corriqueiro e entendível para quem se vê todos os dias. Vale lembrar a máxima que quanto mais proximidade, mais silêncio, a saber, que há a relevante natureza desse silêncio típico que não contém nenhum tipo de constrangimento, ao contrário de pessoas não muito intimas. Esqueceram também de jantar. Tricolor levanta meio cambaleando, se apóia no sofá e coloca a mão esquerda na testa, diz que levantou muito rápido, está meio tonto, mas que logo a sensação se vai. José parece nem ouvir, ou ouve e não paga opinião, faz que tanto faça no mais. O bancário nega o convite de pousada e depois de uma longa caminhada chega a casa, finalmente, diz, sentindo os pés doloridos e uma mediana dor nas costas em consideração, por caminhar de mau jeito, colocando o peso no tronco superior frontal, e ao adentrar definitivamente na casa, apóia nas paredes até chegar ao banheiro, aonde engole um pouco de pasta de dente, lava o rosto com água molhando levemente a blusa, por fim tira a camisa e pula na cama acabando por dormir de calça e sapatos.
Acorda no dia seguinte de ressaca e jogando sua cabeça para frente ao caminhar lentamente, como submerso em gelatina, e deste modo arrasta os pés até o banheiro. Levanta molemente a mão esquerda para pegar a pasta de dente dentro do armarinho que sempre deixa aberto impensavelmente, por morar sozinho, mas sente algo estranho: sua mão está completamente dormente, não se move por mais que ele se esforce. Ele apenas consegue jogá-la para cima e ela cai novamente na mesma posição de repouso. Não a sente nem ao menos formigando, é como se ela não existisse, e assim sendo acaba por julgar ter dormido encima da mão, provavelmente um pequeno problema de circulação que logo passará. Esquece. Precisa ir ao trabalho. O primeiro infortúnio que sente é o de colocar o terno. Colocar um terno com uma única mão é uma tarefa complicada por demais. No trabalho, ainda estranha o fato de não conseguir mover os dedos, consegue mover apenas o braço, sentindo-o pela parte acima do cotovelo e digita apenas com a mão direita. Interrompe ficando de modo estático e por um minuto a digitação. Olha para os lados conferindo se há alguém observando e em seguida espeta a ponta de uma caneta tinteiro que estava em sua frente. Nada. Um fio de sangue indiferente que nasce numa pequena bola de sangue na palma da mão cresce aos poucos e vaza em um único fio na seqüência. Ele observa o fenômeno sem expressar reação e não sente a mínima dor. Aos poucos o itinerário temporal de trabalho se completa. Ele volta para casa negando o convite de colegas do trabalho para uma bebida. O braço continua exatamente na mesma condição. Chegando a casa, tenta dormir mais cedo e consegue após três horas deitado. Certifica-se que não dormirá encima da mão atando-a levemente com fita adesiva. Tem certeza que acordará melhor amanhã, caso contrário irá num fisioterapeuta. Amanhece. Ao abrir os olhos, Tricolor sente-se extremamente bem disposto. Dormiu muito e ainda acordou cedo. Desata a mão ainda deitado e fica eufórico ao constatar que ela ainda se encontra sensorialmente imperceptível. Levanta num só impulso e tropeça. Tenta levantar novamente, mas percebe que apenas a perna esquerda responde ás investidas. Sente então a perna direita totalmente ausente. Como se não a tivesse. O pânico começa a obstruir seus pensamentos. Lembra-se de um par de muletas que pertenceu á seu irmão, quando quebrou as pernas, e que guarda no porão. Vai quase que se arrastando até lá. Pega as muletas, sobe e faz um curativo com gaze a fim de disfarçar. Incrível dificuldade em amarrar as bandagens. Depois do trabalho irá visitar um profissional. Não há motivo para desespero. Esquece. Precisa ir ao trabalho. Os infortúnios são dobrados. Esquece da calça, coloca um blazer para não ir totalmente informal. O quê acontecerá amanhã? Caroços na corcunda? Deveria pedir no farol, como tendo as deformidades como maior tesouro, como se fosse aqueles dejetos resultantes da depuração de um deus não existente, pensa. Vai ao trabalho e no corredor todos perguntam sobre o acontecido que ele responde com tamanha pontiaguda humildade que chega até a ofender, porém despropositável e com certa ingenuidade, pois a única coisa que passa em sua cabeça é a dificuldade de sustentar muletas com um único braço, se não fosse o fato de controlar o braço esquerdo acima do cotovelo a tarefa tornar-se-ia impossível, enquanto isso responde automaticamente uma história que bolara no caminho e que convence devido á natureza cerrada, tão fechada que não pareia com muitas perguntas, e depois de livre das indagações e de seus representantes se sente ultrajante. No final da tarde brota uma comoção com a própria dor devido á coloração que sua pequena mesa nutre da janela. Uma gama de proscritos.
- Hei, Tricolor, qual é o problema? Desanimado? Liga não, rapaz. Tomar uma cerveja em casa hoje á noite, já acaba o expediente.
- Porra José, to mals. Sei não.
- Digo Bora.
José dá dois tapinhas nas costas do amigo como de costume, o gesto que sempre causou irritação para Tricolor, mas devido á inédita situação aquilo tomou uma proporção descomunal a ponto do próprio almejar intensamente, de forma quase incontrolável, uma situação de extrema retaliação á aquele gesto ardiloso e inflativo, e assim olhou o grampeador em sua frente e o imaginou cravado no crânio do amigo, ou mesmo grampeando seus lábios enquanto a mão livre segurá-lo-ia pelo colarinho. Aquilo passou em pouco tempo e acabando o expediente, José ajuda o amigo a caminhar e se vão assim como dois irmãos semi-adolescentes, mas nenhum dos dois articula palavra nenhuma e agora bebendo no sofá pensa quais iguarias supuram em seus interiores de carne, assim divaga, assim adormece. Cedo e pesado. José, sabendo que amanhã irão trabalhar tenta acordar o amigo que não responde á nenhuma das tentativas, mesmo as mais apelativas e de maldoso caráter, concluindo que José abandona toda e qualquer possível investida, Tricolor acorda quase no final da madrugada, no período exato que ela adquire aquela coloração mais acinzentada, típica anunciação visual do seu término, desenculatrada da época do ano, acorda sentindo um inédito formigamento pelo corpo, e sente-se tão cansado que não se move, nem abre os olhos, até o momento que o formigamento diminui em uma específica, precisa e multiplicativa proporção até seu desaparecimento, uma variação tão nova e presente que impõe um nome inaudível e uma inquestionável individualidade própria, característica, para só então Tricolor abrir os olhos, ou seja, após a passagem total da entidade de ação e manifestação corporal, sentindo sede tenta levantar, mesmo sentindo-se inexplicavelmente bem deitado, e ao tentar se colocar de pé, não sente o corpo, a cabeça, não sente absolutamente nada, não sente ao menos um mísero músculo Se desespera e tenta gritar sem êxito. Começa a pensar se há alívio na frustração do toque. Paralisias já tivera, durante o sono e de curta duração, mas algo semelhante á essa, nunca, e ele fica por muito tempo sem mover com êxito qualquer um dos membros ou mesmo algum músculo do rosto, tentando inseminavelmente, até que seus pensamentos tomarem toda a sua atenção, pondo de lado as tentativas: pensa se batera algo na noite anterior e deste modo perdeu os movimentos, ou então um provável tumor cerebral, ou uma disfunção do sistema nervoso, coisa de coluna cervical, ou se é apenas um paralisamento provindo do sono, de extraordinária duração, e consequentemente pensa no futuro, no caso de nunca mais se mover e se alimentar por aparelhos, nem ao menos falar, tornando sua situação ainda pior do que a de um paraplégico comum, porém pensa também num futuro não tão distante, um futuro de minutos: não conseguir respirar, perder o controle da respiração e não conseguir retomar o processo. De todos os pensamentos, essa última preocupação toma o primeiro plano, porque notou que sua respiração parece ter vontade própria, como se ele apenas a observasse, ouve e sente, mas a ação em si não parece vir dele. Mas vem. A maior comprovação da independência é o fator de que mesmo ficando ainda mais nervoso com tais reflexões perturbadoras, sua respiração não sofre nenhuma alteração desde o minuto que acordou, ainda com o coração calmo como num espreguiçar de fim de tarde. Em pouco menos de uma hora, tempo enormemente maior em percepção, ele levanta abruptamente e começa a andar em direção á cozinha, pega um saco de café e começa a preparar a bebida, e apenas nesse momento nota uma diferença: nada do que faz exteriormente é ordenado por si mesmo. Seu corpo parece ter vontade própria pondo sua consciência na condição de observador, fazendo-o tomar um choque psíquico de quase inconsciência. Recobra-a ao sentir o gosto do café. Não controla o corpo, mas o sente. Tenta falar e não consegue. José acorda, se aproxima, e Tricolor sente seus lábios abrindo em demorados movimentos, quase quadro a quadro, mas acaba por notar-se soltando um sonoro, elegante e grave “Bom dia, José”, como se o tempo se desdobrasse em duas percepções simultâneas.
- Deu de falar bom dia?
- Acordei bem disposto hoje. Vou tirar as bandagens logo mais, ao terminar o café.
A fala é bem coordenada e precisa, talvez como nunca antes, e sai assim sozinha, de uma fonte desconhecida e própria, deixando Tricolor com a sensação de que a voz vinha de um terceiro elemento, invisível. Novamente tenta falar algo, chegando a gritar na imaginação da emissão da voz, mas nada acontece. De repente, o corpo que esperava a água esquentar, começa a pegar o coador e despejar o pó preto com maestria e certa graça. Ele próprio observa tudo atentamente, sente os materiais na mão: o plástico, o pano, a quentura do líquido na leiteira dispersando calmo em seu rosto. Dá, sem perceber, um valor impagável ás sensações do corpo, sem perceber que já se agarra á esse indiscutível resultado comportamental óbvio se dada qualquer especulação e argumentos para buscar uma definitiva e unânime conclusão. Após tirar as bandagens no sofá, enquanto assobiava, e colocar-se então á caminho do trabalho, conversando muito e animadamente com o amigo, mesmo sem ter idéia nenhuma do assunto ou então de trechos quaisquer, sentindo apenas os pés calçados tocando o chão, a sensação de seu peso, a brisa leve na face, as vibrações da fala alheia nas bochechas, mas da conversa em si não presta atenção nenhuma, não assume a ação da palavra, anda como quando três amigos caminham juntos, sendo ele aquele único que anda antecipado na frente, ou atrasado atrás, cabisbaixo, com as mãos no bolso, sempre com a mesma distância dos outros dois que vão conversando e gesticulando particularmente enquanto ele não participa de qualquer maneira, em verdade assim vai mantendo a mesma medida de afastamento enquanto movimentam-se, porque mantêm a mesma marcha, reflexivo, e codifica o diálogo dos dois restantes como apenas um fundo sonoro imprevisível, mas ao mesmo tempo tão repetitivo e solitário em timbre como um mantra. Ao chegar ao trabalho, após se sentar, sente um cansaço inexplicável e descondizente com a disposição do corpo que assina, examina, lê e autoriza nos papéis com uma velocidade e através do que escreve expõe uma clareza de idéias inédita, e assim Tricolor dorme enquanto observa, acordando só no final do expediente. Ao acordar sente uma confusão mental de lugar, tempo e situação que só é superada em menos de dez segundos, ao notar na mesa em sua frente a revelante prova que Tricolor-corpo fizera todo o trabalho que normalmente demoraria três ou quatro dias enquanto o Original-tricolor dormia. Tenta falar ou tomar controle dos movimentos corporais, sem êxito. Avancemos seis meses. Nenhuma alteração na última condição do bancário que falamos, tornou-se claramente definitiva. Se enumerarmos ou descrevermos os pensamentos, teorias e diferentes tentativas de Tricolor durante esse tempo, tomaríamos muito do já entediado leitor. Resumiremos alguns aconteceres que antecedem a conclusão colocada aqui. Uma das, que deixemos claro. Tricolor fez mais amigos, foi promovido e tornou-se um exemplo do conceito de vencedor da sociedade, sendo abertamente invejado e com relação á isso respondendo sempre com um humor e uma indiferença igualmente notável e não-inspecionáveis, também transou diversas vezes com a mulher que o perseguia de longa data, dando tudo de si na execução, com largo sorriso e de bom grado, mesmo que em pensamento o verdadeiro Tricolor se sentisse enojado e ansioso para o término da cópula presidida exclusivamente por seu corpo. Entremos no verdadeiro e relevante presente. A real entidade e consciência de Benedito Barcelos acostumou-se tanto com a vivência e a conseqüente certeza que não controlaria mais seu corpo que passou a acreditar que o controlava. Hoje chega a acreditar tanto que ele é o responsável por seus movimentos e atos que chega a prever os movimentos do seu eu físico. Não sabemos se é porque agora existe uma sutil comunicação entre os dois ou se Tricolor-mente apenas entendeu bem a personalidade do corpo com o sutil passar do tempo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Yasunari

Alguém pegou aquela chave. Tendo feito isso, ele deveria ter entrado em outra sala. Mas ele permaneceu sentado. Eu era como a mulher tinha dito: o som das ondas era violento. Era como se estivessem batendo contra um precipício alto, e como se esta pequena casa estivesse cambaleante em sua borda. O vento levou o som de aproximação do inverno inexistente, talvez por causa da casa em si,talvez devido a alguma coisa no velho homem. No entanto, era bastante quente o suficiente apenas com o único braseiro. O bairro por si próprio era um local quente. O vento não parece ser a condução que deixa atrás de si um rastro de maiores proporções, e tendo chegado atrasado, eu não tinha visto o tipo de país que a casa estava dentro... Mas havia o cheiro do mar. O jardim era grande para o tamanho da casa, com número considerável de pinheiros e bordos e castanheiras e lúpulos e limões.As agulhas dos pinheiros leigos cegavam fortes contra o céu de janeiro. Com a chave ainda na mão, ela acendeu um cigarro, pegou um edredom ou dois e quis colocá-lo pra fora. Mas um segundo ele fumou até o fim, pois era quem menos estava ridicularizando-se para a apreensão fraca do que estava ciente, ou seja, de um vazio desagradável. Ela normalmente tinha um pouco de uísque antes de ir para a cama. Ele era um sono leve, dado a pesadelos. Nas noites sem dormir ela costumava repetir, como uma oração, que a noite oferece sapos e gatos pretos e os cadáveres dos afogados. Lembrando que agora, ele questionou se a menina dormindo... não, colocada para dormir .. não, o quarto ao lado pode ser como um cadáver de um afogamento. Sim. E ele sentiu alguma hesitação em ir para ela. Ele não tinha ouvido que a menina tinha sido colocada para dormir. Ela seria de qualquer modo, em um estupor natural, e não teria consciência dos acontecimentos ao seu redor, e é assim que ela pode ter o lamacento, pele de chumbo de atormentado por drogas. Pode haver círculos escuros sob seus olhos, suas costelas podem mostrar-se através de uma seca camada, enrugadas de pele. Ou ela pode estar fria, inchada, bolhante. Ela pode ser um ronco, ligeiramente, com os lábios entreabertos para mostrar as gengivas arroxeadas.

Ele com sessenta e sete anos, passara noites feias com as mulheres. Na verdade, as noites feias eram mais difíceis de esquecer. A feiúra não teve a ver com a aparência das mulheres, mas com os seus dramas, suas vidas deformadas e patéticas. Ele não queria acrescentar mais um episódio como, na sua idade, para o registro. Então, correu os seus pensamentos como um carteado elegante. Mas não poderia haver nada mais feio do que um velho deitado no meio da noite ao lado de uma menina? Se ela não tivesse vindo a esta casa, casa que procuram o melhor da fealdade da velhice? Foi até as cortinas de veludo vermelho. O vermelho foi ainda mais fundo na penumbra. Era como se uma fina camada de luz pairasse antes das cortinas, como se estivesse entrando mergulhada em um fantasma.Havia cortinas sobre as quatro paredes. A porta estava com cortinas também, mas a haste fora amarrada por trás. Ele trancou a porta, puxou a cortina e olhou para a menina. Ela não estava fingindo. Sua respiração era do mais profundo sono. Ele prendeu a respiração. Ela era mais bonita do que ele esperava. E sua beleza não foi a única surpresa. Ela se deitou no seu lado esquerdo, com o rosto em sua direção. Ele não podia ver seu corpo, mas ela ainda não tinha quatorze anos.
Sua mão direita e do pulso estava na borda da colcha. Seu braço esquerdo parecia estender-se diagonalmente sob aquele pano. Seu polegar direito estava meio escondido sob seu rosto. Os dedos no travesseiro, ao lado de seu rosto, estavam ligeiramente curvados na suavidade do sono, embora não o suficiente para apagar as cavidades delicadas, onde se juntam no final dos eixos de carne. A vermelhidão quente foi progressivamente mais rica da palma para os dedos. Foi bom, mão branca brilhante. Ele sabia que não iria abrir os olhos. Sua mão ainda em seu irmão, contemplou o rosto dela. Que tipo de? As sobrancelhas foram tingidas por cosméticos, os cílios foram fechados mesmo por pincéis para esse trato. Ele pegou o cheiro do cabelo. Depois de um tempo o som das ondas foi maior, pois seu peito vazio tinha sido levado cativo. Despiu-se resolutamente. Observando que a luz veio de cima, ela olhou para cima. A luz elétrica veio através do papel japonês em duas clarabóias. Como se tivesse mais calma do que ele na reunião, ele se perguntou se era uma luz que partiu para a vantagem de veludo carmesim, e se era a luz do veludo que partiu da pele da garota, da carne da garota, do silêncio da garota. Mas a cor não era forte o suficiente para mostrar a sua pele. Ele tinha se acostumar com a luz. Acostumado a dormir no escuro, mas, aparentemente, ele não poderia ser desligado. Ele deslizou silenciosamente ao abrigo, com medo que a menina que sabia dormir poderia despertar definitivamente. Ela parecia estar completamente nua. Não houve reação, não curvar os ombros ou ir de forma abrupta, puxando dos quadris, para sugerir que ela sentisse sua presença. O pensamento fez evitar tocar-lhe como ela esticara. Seu joelho foi ligeiramente para frente, deixando as pernas numa posição embaraçosa, mas ele não tomou nenhuma inspecção para lhe dizer que não teve seu joelho direito apoiado em seu lado esquerdo. O joelho direito foi puxado para trás, a perna esticada, e o ângulo dos ombros, enquanto ela estava deitada em seu lado esquerdo, e dos quadris, que parecia uma variação, por causa da inclinação do seu tronco, fazia parecer que ela não era muito alta. Agora, desviado pelo rosto, ele sabia que os homens de idade que para cá foram convidados vêem com uma facilidade melancólica, quase morna e aquosa, uma tristeza muito mais profunda do que ele tinha imaginado. É algo, que apesar dos outros residentes, não iria voltar a qualquer lamento, que não seria curado no entanto os esforços extenuantes. A noite, bruxa experiente, era uma virgem na marca da relação dos homens velhos e de suas promessas que a cerne sombria aproximava de seu declínio. A pureza da menina era como a feiúra dos velhos. Talvez a mão sob o rosto teria se entorpecido. Ela comprou-o sobre sua cabeça e, lentamente, fez flexão nos dedos duas ou três vezes. Ele tocou a mão, ainda na sondagem através de seu cabelo. Ela tomou em sua vida. Os dedos se gelavam para esmagá-los. Aumentar seu ombro esquerdo, voltou-se mais de metade. Ela trouxe-lhe o braço esquerdo para cima e arremessou-a por cima do ombro como se fosse abraçá-lo. Foi sem força, porém, e não ter o pescoço em seu abraço, produziu uma secreção morta. Seu rosto, agora voltado para ele, era muito próximo, uma branca desnucada pelos olhos de idade. Mas as sobrancelhas muito grossas, os cílios lançando uma sombra muito escura, as pálpebras cheias e as bochechas, pescoço longo, os dedos de pêlos ouriçados, todos confirmaram a sua primeira impressão, a de uma veemente mulher volátil italiana, porém do oriente. Os seios cederam um pouco, mas estavam muito cheios, como amamentantes, e por ser uma japonesa típica os mamilos eram grandes demais, inchados. Passou a mão para baixo de sua coluna e sobre suas pernas que foram esticadas a partir dos quadris. O que parecia uma desarmonia entre as partes superior e inferior de seu corpo pode ter a ver com ela ser virgem. Agora, calmamente, olhou para o rosto e pescoço. Era uma pele significava que assumia um reflexo fraco da carmesim das cortinas de veludo. O corpo dela tinha sido tão usado por homens de idade que a mulher da casa havia descrito pelo expediente, e ela ainda era virgem. Foi porque os homens foram senis e porque ela estava em um sono profundo. Pensamentos na vontade quase paternal vindo para ele como se o próprio se perguntasse o que essa menina tinha de vicissitudes enfrentadas ao longo dos anos pela frente. Neles havia provas de que era demasiado velho. Não poderia haver dúvida de que a menina estava aqui por dinheiro, pensou, tampouco houve qualquer dúvida de que, para os homens de idade, dormindo ao lado de uma menina, não era explicável ou comparável á uma felicidade deste mundo. Porque a menina não iria despertar, os convidados com idade não precisavam sentir vergonha de seus anos. Eles estavam completamente livres para entrar em sonhos ilimitados e memórias da mulher. Foi por isso que não sentiram nenhuma hesitação em pagar mais do que para a mulher acordada? Ela dormia. E os velhos estavam confiantes, sabendo que as meninas postas para dormir para eles, na verdade, não sabiam nada sobre eles. Nem os velhos sabem nada das meninas... Nem mesmo as roupas que eles usavam... A dar indícios de posição e caráter. As razões foram além das questões tão simples como inquietação sobre as complicações de mais tarde, eles foram uma estranha luz no fundo de uma profunda escuridão. Mas a idade ainda não era usada para manter a empresa com uma menina que não dissesse nada, uma menina que não queria abrir os olhos, que não lhe deu reconhecimento. Anseios vazios não o tinham deixado. Ele queria ver os olhos de uma garota. Ele queria ouvir sua voz, para falar com ela. O desejo não era tão forte para explorar a menina dormindo com as mãos. E no entanto, ela só dormia de pernas abertas. Na verdade, ela tinha uma certa frieza, tendo sido surpresa para rejeitar todos os pensamentos de violar a regra secreta que ele iria seguir para os caminhos dos outros homens de idade. A menina esta noite, embora dormindo, estava mais viva do que a menina da outra noite. A vida era lá, definitivamente, em seu perfume, em seu toque, do respeito floral, da maneira que ela se mudou.
Como antes, dois comprimidos para dormir ao lado de seu travesseiros leigos. Na segunda noite ele pensou que não iria dormir imediatamente. Ele ficaria sentindo ainda um tempo maior para a menina. Seus movimentos eram fortes, mesmo em seu sono. Parecia que ela devia girar mais de vinte ou trinta vezes no decorrer de uma noite. Ela virou-se para longe dele, e logo voltaram. Ela sentia levantamentos por ele com o braço. Ele estendeu a mão para um joelho e trouxe-a para ele. Ela estava falando em seu sono, de seus sessenta e sete anos. Ela tem em seu sono mal previsto e notável em seus movimentos, ou então estaria sonhando ter sido maltratada por algum homem mais velho em alguma outra noite? O seu coração batia mais rápido ao pensar que, embora o que ela dissesse, que estava em pedaços e fragmentos, ele poderia ter algo parecido para essa conversa com ela. Ela não disse nada e adormeceu. Talvez na parte da manhã ele pudesse despertar nela. Mas ela tinha realmente ouvido falar dele? Não era menos do que suas palavras o seu toque que a fez falar em seu sono? Ele pensou que se ela explodisse numa impressionante inteligência, ou beliscada nas dobras. Mas ao invés disso ele levou-a lentamente em seus braços. Ela não resistiu, nem se fala. Ela parecia ter dificuldade para respirar. Seu hálito doce veio contra o rosto do homem velho. Sua própria respiração era irregular. Ele estava excitado novamente por essa garota que era sua para ele bem fazer o que quisesse. Que tipo de tristeza que a assaltaria de manhã?
"Mãe". Era como um gemido baixo. "Espere, espere. Você tem que ir?”
"O que você está sonhando? É um sonho, um sonho". A tristeza em sua voz o esfaqueou. Seus seios foram prensados planamente contra ele. Seus braços movidos. Ela estava tentando abraçá-lo, pensando em sua mãe. O braço da menina sobre seus olhos. Se em algum lugar havia uma lenda estranha exigindo uma heroína, esta era a garota para ele. Ela estava viva durante o sono. Ela tornou-se um corpo de mulher, sem mente. E era tão bem treinada que a mulher da casa chamou-lhe 'experiente'.
Não havia nada para ela colocar o braço esquerdo. Provavelmente porque era estranho para ela esticá-la ao longo do tórax ela meio que virou o rosto novamente e levou as duas mãos juntas sobre o peito com os dedos entrelaçados. As mãos não foram postas como na veneração, mas ainda assim sugerindo macia adoração. Fechou os olhos, provavelmente em nada mais do que a tristeza de um homem velho tocar nas mãos de uma menina jovem ao dormir. No terceiro dia ele ouviu as primeiras gotas de chuva a noite cair sobre o mar calmo. O som distante parecia não vir de um automóvel, mas a partir do trovão do inverno. Não foi fácil de apanhar. Abriu a mão da menina e olhou para os dedos e endireitou-los um por um. Ele queria levar os dedos longos e finos em sua boca. O que ela pensa, despertar na manhã seguinte, se havia marcas de dentes no seu dedo mindinho e o sangue escorrendo dela? Assim trouxe braço da menina para baixo ao longo de seu corpo. Ele olhou para os seios ricos, os mamilos grandes, inchados e escuros. Ele levantou-lhes, gentilmente cedendo como estavam. Eles não eram tão quentes como seu corpo, aquecidos pelo cobertor elétrico. Ele achava que para trazer a fronte ao oco era preciso a retira pelos cheiros. Ele virou o rosto para baixo e desta vez levou ambos os comprimidos para dormir ao mesmo tempo. Na visita anterior, ele havia tomado um comprimido, e depois levado o outro quando ele tinha acordado de um pesadelo. A voz da menina chorando o despertou. Então, o que soou como soluços fora alterados para o riso. O riso foi de coloração cobre. Ele colocou o braço sobre os seios dela e apertou. Havia algo de sinistro no silêncio que se seguiu ao riso, e fez tudo o que podia fazer para sentir o relógio em seu travesseiro. Eram três e meia. Os tambores do festival foram ecoando na noite e ela não iria ouvi-los. Esticando as orelhas, ele pensou que poderia ouvir uma tarde fraca de outono e o vento soprando para baixo sobre as montanhas atrás da casa. O sopro quente da menina em seus pequenos lábios entreabertos chegou ao seu rosto. A luz ofuscante da cortinas de veludo carmesim fluiu para baixo, dentro de sua boca. Não lhe parecia que a língua da menina seria como os outras, sobre o frio e o aguado. A tentação foi ainda mais forte, o impulso em direção a um delito mais emocionante do que colocar um dedo em sua língua, e assim piscou, e talvez, seduzido pelo costume e pela ordem, um senso de mal ficou claramente dormente. Que tipo de vida que ela tem, ele se perguntou. Seria uma calma e pacífica, uma, apesar de ter conseguido nenhuma grande eminência? Ele esperava que ela iria encontrar a felicidade por ter dado conforto para os velhos daqui. Ele quase pensou, que, como em antigas lendas, ela era a encarnação de um Buda. Histórias onde não há idade em que as prostitutas e cortesãs estavam encarnando vários Budas de vagina? Ele pegou os cabelos soltos levemente na mão. Mas foi a mulher de seu passado, que flutuava em sua mente. E o que ele lembrava com carinho não tinha nada a ver com o comprimento de seus negócios, e sim sua beleza, sua graça, o fato de dormir como se estivesse realmente morta.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Feliz velho ano novo

Ínicio da primeira tinta impressa. Um cordame de comparativas concessões acastanhadas pela amestrada amestiça desertora. Não confiamos nas indolentes exibições das exigências labirínticas. Igualo em ilação recidiva, a soma é solúvel. Das quais imediações, uma cama avermelhada de sangue dos lábios de uma protetora especialista, vestida de preto azulado, e de suas festas no reinado da carne. As transformações amareladas diversas para que a gente possa estrangular um mísero músculo da noite renegam Marcelo Rubens Paiva feito um pavio na quinta cervical.