terça-feira, 28 de julho de 2009

O Abilolado (Pequeno momento cênico)

Peça para ser apresentada durante o intervalo de uma apresentação cênica, sem aviso prévio que a mesma ocorrerá.

Damásio (personagem principal)
Hermínia (Puta)
Rav (O detetive)
Zenaang ( O leme)
Ed ( O herói)

Cena única
Rav - Precisamos descobrir.
Damásio - Já descobrimos.
Rav - Como dito tá aí. Ela castiga as entranhas, anhas, anhas.
Damásio - Vejo-lhe puta.
Hermínia - Olá, oi, me aparto. És lícito saberes do meu parto?
Zeenang - Sabemos.
Damásio - Saibamos... Foi de aparecer costelando ecunbrências.
Rav - Não quero rimas.
Damásio - Não ás terá. A puta que vos falo sadeifica.
Hermínia - Não sei se é lícito por o nome de Sábado.
Zeenang - Talvez.
Rav - Bom dia é bom nome.
Zeenang - Não é breve. Moto passou aqui e desejou vidro.
Rav - Não quero saber de rimas.
Zeenang - Vidro tenho.
Damásio - Envoque o nazareno.
Zeenang- Bati a cabeça.
Damásio - Sangrou? Esbareijo, por quê nos proíbem.
Hermínia - Conselhos. Castiga as entranhas, anhas, anhas. Me passou rápido.
Damásio - Sei como é.
Zeenang - Façamos não sei como. Não dá pra imaginar se servirá.
Ed- Eu vim como o outro e da minha pessoa confiarás.
Damásio - Quem és tu?
Ed - ED, O JUSTO.
Hermínia - Hoje lambisquei os seis de fadonha.
Ed - a rima é fraca, os olhos puros. Vá para o lado
Zeenang - Eba (vai para o lado)
Damásio - Oba (vai para o lado)
Rav - Leve ele, breve.
Ed- consertado ficou, consertado está. Adeus.
Damádio - E o quintal?
Ed- Chame um carpinteiro e lave-se de imediato.

FIM

domingo, 19 de julho de 2009

Postagem 111

Na técnica e discordância é preciso mais do que a espera. A palavra não seria bem depressivo. Seria não saber a palavra. Mais forte que a palavra é o que vem junto dela. Mais forte que a palavra é o que vem junto dela, é o que vem dela. Mais forte que a palavra é o que junto vem dela. O que vem junto dela.Agora me encontraria? Não, o correto é agora me encontrarei e talvez saindo dessa palavra encontre a serenidade. Forçar a minha própria forca. Fechei alguns silêncios, cliques e diminuições para me encontrar como sempre: a passos rápidos. Tome um riso na cara. de faca. Se for internada, voltaremos somente á noite.A composição se desenvolve na redundância, pois quebrei o assoalho do chão com um taco de golfe em dois fragmentos. Um grande. Outro dois terços. Quantas coisas feitas em cor de banana. Fui embora levando estalos na orelha e ainda era por outro motivo. Seu cabelo era crespo e roupas conhecidas pelo esteriótipo. Parecia que ia oferecer artesanato hippie, mas só tinha uma mala. Ofereceu um gibi. Contei apenas oito árvores. Todas diferentes. Qual foi a melhor trepada de sua vida? Meio quilo de carne moída, seis claras de ovos em um vaso de gargalo fino. Contei apenas oito árvores e já havia andado oitenta e seis quilômetros.Um homem corre com sangue na camisa. na camisa um homem corre em sangue. o homem corre na camisa. o homem corre. há sangue na camisa. há sangue no homem. que corre. A carta de um morto vista antes de saber que estava realmente morto, antes de saber que vivia para um dia estar morto, era escrita pensando no enforcamento. Seria doloroso? Existem pessoas que arranham o pescoço desistindo de última hora. Escrevia para depois se matar e nunca mais parou de escrever. é mais um dia comum sem o café no açucar concorrendo á informações. conhecendo os códigos do dia. Brasas sujam a sala porcamente e me viro mais para a esquerda em direção ao feixo de luz que deve, pode, (não sei), vir do sol. É mais um dia comum. E se nos bastasse, já vai o tempo em que a gente podia ser comum. Herbácias no meio do dia, cara e âmagos e seu ventre que beijo e idolatro cego e infantil fedendo a cigarro fedendo a escarro a campainha o cachorro o carro meu chinelo a vassoura encostada na pia ao abrigo de aracnídios. é mais um dia comum. E se não bastasse, já vai o tempo em que a gente podia ser comum. O espaço bonito flagelou o homem simples que estava de terno terno. Vou jogar uma bomba nessa bateria que não é poesia, não é alegria, não tenho tanta alergia vadia maria. Coças a barba, nariguda? Sabes que não sou portuga e não me escondo. Bateste no meu cacete com tão demasiada força que sucumbi. Me apertaste tanto o caraco que sorri de velho. Pega no balango. Finge que é lango-lango. Ontem mesmo eu tentei tanto te procurar, mas outro ser te empetecia. Olhos seus olhos; me olhe o olho lúgubre, luz, lanterna, se valha a navalha lhama. Se Dharma chama reclama o olho-lago que a espera é longa que o ato é falho. Quisesse você ser uma espátula e suas lentes corretivas fossem ovos, eu choraria. eu chororovos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A surpresa da realidade

Estava pensando sobre uma declaração que li sobre um escritor que dizia ter-se salvo por parar de escrever "literatura" e passar a narrar fatos da realidade com frases simples, diretas e objetivas. Casos que contavam seu amigos ou fatos que o próprio tinha vivido. Os conceitos e idéias substituídos pela vitalidade. A salvação através da tentativa do espelho. O romance é na verdade sensorial em essência. Pensando em escrever ensaios por capricho, comecei essas palavras podres pensando que tal tema poderia ser um estudo sobre esse gênero para que eu possa começar a trabalhar nele. Acabo de ver algo na televisão: A pessoa tem três filmes, oito livros editados e cinco séries de Tv escrita por ela. Sinal de sucesso comercial? Me desculpe a merda cabeçal, mas ninguém pode escrever nada de bom tendo sucesso em vida, por enquanto não vi exceções a não ser algumas raras em termos de romance, aliás, as coisas realmente boas estão ainda nas gavetas, coisas de avôs, destruídas, mortas, nas mãos erradas, mal escritas caligraficamente ou então, atualmente, deletadas. A vergonha é o sinal de que a coisa está pura e bonita. Falando em bonita, há uma concepção em cada um de nós, talvez a minha mais próxima seja a de Baudelaire, francesinho, que é ela ter imortalidade e ao mesmo tempo característica mortal, deve ser histórica em termos de geração, porém sem a concepção de perfeição geométrica, que tanto defendem os que tentam universalizar a beleza. A beleza não é geométrica, ela é irregular. A maior prova disso é que algo realmente belo é circunstancial. A imortalidade de um segundo. A transformação da massa em termos pessoais, moldadas com o tempo daquele mesmo momento. Pro diabo com os formalistas russos.Impossível saber também a linha de pensamento de cada leitor de um texto. O resultado de tudo é a soma dos fatores intrínsecos ao texto com a capacidade imaginativa do leitor. As variantes são quase infinitas. E a projeção do leitor preenche os vazios do texto. Por isso tantos finais sem conclusão no realismo fizeram-se notáveis.As hipóteses levantadas pelo autor são como opções de uma prova vestibular, a grosso modo (desculpe a tosca comparação, mas serve), aonde não há respostas certas, porém a questão pode estar fechada (a,b,c,d,etc) ou aberta (escrita livre), esse último resultado extremamente complexo na obtenção, deixando apenas seu porte para os vulgos grandes escritores. Meu mestre, Sandro, dizia sempre um negócio que me impregnou de um modo que luto até hoje pra me ver longe disso: Grandes escritores escrevem frases de mais de uma página e meia. Não é bem verdade, vejo hoje, mas ele também dizia, assim como Ubaldo Ribeiro, que livros bons são livros que param em pé. Era um tarado esse meu professor, isso sim. Babava letras pela cueca. Tenho pensado muito em manias para escrever e estou procurando uma atualmente, rio muito com elas, as que já existem e que tem dono, na verdade acho todas românticas demais, pensei em várias, igualmente bregas. Estou pensando em pagar prostitutas para escrever sobre seus corpos, sobre folhas amassadas. Não tocá-las nem nada. Apenas escrever. Imagino as reações e consequências. De qualquer modo, ao final, talvez eu obtenha um livro caro e de bom cheiro, escrito inteiro sobre o corpo de uma mulher deitada, nua e triste.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Márcia

Márcia tinha cabelos lisos, pretos, na altura dos ombros e escorridos como óleo frio que rudavam nos dedos quando eu tentava fazer um carinho no couro. O couro do sofá que estávamos deitados parecia absorver todo o nosso suor de poucos pudores e de farta preguiça. O sol batia tão quente na janela do meio datarde que tentávamos procurar um lugar em comum no sofá que não atesse o sol generoso. Isso nos deixava mais próximos. Seu pai era frânces, sua mãe indonesa, e haviam tantas gerações em suas costas que tantas histórias não se igualariam ás histórias refletidas em seus olhos. Ela nunca me respondeu, permanecia calada, passiva e precisa nos gestos quando se levantava do sofá para negociar um café com um dos índividuos que morava comigo na cozinha, voltava rindo de seu moicano. A liberdade da tribo que falava francês e lutava como ninguém. Discursava então sobre como os índios do norte tanto lutaram e os do sul sempre foram cabisbaixos aos caprichos espanhóis e portugueses. Márcia tinha uma verruga no canto da boca, do lado esquerdo, com alguns pêlos. Enquanto eu quase pegava no sono observava ela cuspindo, ou melhor, passando baba nos dedos para enrolar os três fios de pêlo que despontavam dessa verruga. Parecia pensar sobre o passado, ou sobre previsões do futuro. Já tinhamos conversado que não havia futuro para ambos, que estávamos naqueles viveres por pura gozação momentânia e acho que aquilo no fundo aborrecia a ambos. O fato de sabermos que não demoraria muito não ficaríamos mais juntos. Quando ela se colocava de pé a minha vontade era de cair de joelhos e tentar entender porque o fato de estar tão preso á ela me feria tanto. Também sempre a dizia que eu tinha sorte e muita afeição com nomes terminados com uma consoante seguida da vogal a, e que nunca me dava bem com pessoas cujo nome terminavam com uma consoante isolada, porém essa era uma regra com mulheres. Ela sorria e dizia que no caso dela eram duas vogais no final, eu cerrava os lábios a fim de ser compreendido. Seria ela uma exceção? Não, ambos sabíamos que nossa história não tinha relevância e isso nos maltratava. Gostava dela, e ela gostava de mim, nunca dissemos nada disso para o outro, as pequenas cochiladas á tarde bastavam e dentro dessa certeza de uma pseudo-relação sem futuro, e que essa sina não poderia ser mudada continuávamos até o dia em que ambos nos saturaríamos e esse dia nunca chegava. Recordo-me de que ás vezes eu a olhava fazendo compras e a julgava muito feia, um corpo pequeno, meio gordo, um jeito de criança. Engraçado os diferentes olhares que damos á alguém intimo quando sozinhos, olhando a pessoa de longe. Imaginando estarmos com essa pessoa. Costumava flagrar, sem que a mesma percebesse, quando me olhava também desse modo particular e cíclico em meus momentos de ociosidade, sempre generosos, em frente ao computador. A julgava feia nesses meus momentos de análise, porém nos momentos em que ela estava deitada, á meia luz, enquanto eu passava meus dedos em seus cabelos ensebados, olhando-a nos olhos, julgava se tratar de uma das belezas mais notáveis desse mundo. Márcia, aonde anda, aonde bebe, com quem janta nesse exato momento? Vai pra ti uma partícula do meu pensamento, o estalo do isqueiro no meu cigarro, um clarão de pequena saudade fingida, essas palavras despojadas de interesses.