sexta-feira, 17 de julho de 2009

A surpresa da realidade

Estava pensando sobre uma declaração que li sobre um escritor que dizia ter-se salvo por parar de escrever "literatura" e passar a narrar fatos da realidade com frases simples, diretas e objetivas. Casos que contavam seu amigos ou fatos que o próprio tinha vivido. Os conceitos e idéias substituídos pela vitalidade. A salvação através da tentativa do espelho. O romance é na verdade sensorial em essência. Pensando em escrever ensaios por capricho, comecei essas palavras podres pensando que tal tema poderia ser um estudo sobre esse gênero para que eu possa começar a trabalhar nele. Acabo de ver algo na televisão: A pessoa tem três filmes, oito livros editados e cinco séries de Tv escrita por ela. Sinal de sucesso comercial? Me desculpe a merda cabeçal, mas ninguém pode escrever nada de bom tendo sucesso em vida, por enquanto não vi exceções a não ser algumas raras em termos de romance, aliás, as coisas realmente boas estão ainda nas gavetas, coisas de avôs, destruídas, mortas, nas mãos erradas, mal escritas caligraficamente ou então, atualmente, deletadas. A vergonha é o sinal de que a coisa está pura e bonita. Falando em bonita, há uma concepção em cada um de nós, talvez a minha mais próxima seja a de Baudelaire, francesinho, que é ela ter imortalidade e ao mesmo tempo característica mortal, deve ser histórica em termos de geração, porém sem a concepção de perfeição geométrica, que tanto defendem os que tentam universalizar a beleza. A beleza não é geométrica, ela é irregular. A maior prova disso é que algo realmente belo é circunstancial. A imortalidade de um segundo. A transformação da massa em termos pessoais, moldadas com o tempo daquele mesmo momento. Pro diabo com os formalistas russos.Impossível saber também a linha de pensamento de cada leitor de um texto. O resultado de tudo é a soma dos fatores intrínsecos ao texto com a capacidade imaginativa do leitor. As variantes são quase infinitas. E a projeção do leitor preenche os vazios do texto. Por isso tantos finais sem conclusão no realismo fizeram-se notáveis.As hipóteses levantadas pelo autor são como opções de uma prova vestibular, a grosso modo (desculpe a tosca comparação, mas serve), aonde não há respostas certas, porém a questão pode estar fechada (a,b,c,d,etc) ou aberta (escrita livre), esse último resultado extremamente complexo na obtenção, deixando apenas seu porte para os vulgos grandes escritores. Meu mestre, Sandro, dizia sempre um negócio que me impregnou de um modo que luto até hoje pra me ver longe disso: Grandes escritores escrevem frases de mais de uma página e meia. Não é bem verdade, vejo hoje, mas ele também dizia, assim como Ubaldo Ribeiro, que livros bons são livros que param em pé. Era um tarado esse meu professor, isso sim. Babava letras pela cueca. Tenho pensado muito em manias para escrever e estou procurando uma atualmente, rio muito com elas, as que já existem e que tem dono, na verdade acho todas românticas demais, pensei em várias, igualmente bregas. Estou pensando em pagar prostitutas para escrever sobre seus corpos, sobre folhas amassadas. Não tocá-las nem nada. Apenas escrever. Imagino as reações e consequências. De qualquer modo, ao final, talvez eu obtenha um livro caro e de bom cheiro, escrito inteiro sobre o corpo de uma mulher deitada, nua e triste.