segunda-feira, 23 de julho de 2007

segunda nota

Toda a desgraça montada num circo entre os dedos frios de meu pé descoberto, não sei se existem frieiras psicológicas, mas a verdade é que ardia tanto que comecei a socar a parede com tanta necessidade que a pele se rompeu e rapidamente um percurso de sangue se formou até meu cotovelo. Tanto medo da vida, mas ela está aí, a morfética, sorrindo todo dia com seus dentes amarelos e seu ramo coxo; por mais que eu tente me esconder nunca vou conseguir. Estou vivo... sem sorte, sem porte, sem norte, sem corte, esporte, transporte, mas vivo... cercado das vivas coisas entrelaçadas, serpenteadas no bafo forte do dia.

Eu tinha um professor que repetia constantemente os nomes de várias plantas dipsacáceas (acho que é assim que se escreve pelo que me lembro), achava muita graça naquilo e morreu de câncer aos cinqüenta anos. Escapou da vida? Não, a maldita tá ali ainda, vomitando a personalidade daquele velho, por osmose, em todo mundo que o viu fazendo piadas sem graça e fingindo ensinar matemática.

Eu queria nascer morto, torto, no seio do conforto, exposto apenas ás bactérias da decomposição, talvez assim calar a boca da existência, essa diarréia do mundo, que impõe a dor inevitável e fode todo ou qualquer objeto da nossa afeição.