sábado, 10 de dezembro de 2005

Puzú-Titiká - conto infantil.

Puzú-Titiká nasceu em Ferminus, lugar onde todos possuíam mostarda no nariz, os meninos tinhas três pernas, as meninas duas e meia e os mais velhos tinham meia perna, pois perdiam-nas todas com o tempo. É certo que ele veio sem mostarda e para mais espanto, com quatro pernas curtas da grossura de um dedo e com corpo de galinha (dando a impressão que sua cabeça era imensa), tinha os cabelos longos, encaracolados e pretos e cada olho com uma cor diferente do outro. Em Firminus não havia muitos lugares para se brincar, mas tinha a véia Gorgeera que soltava pum quando lhe enfiavam o dedo na orelha (Toda a criançada sabia que não podia exagerar senão ela ficava brava!), além dela, havia o Jamyãnn que era o barbudo mais vermelho, gordo e feio, que dava conselhos e que mais falava palavras com F da aldeia. Esse era muito chato, mas eles tinham que brincar com ele, pois os mais velhos diziam que ele era legal. Esse gordo dizia que Puzú-titiká podia ser um aviso sobre o inicio dos tempos. Em uma dessas seções de conversas Jamyãnn contou uma longa história sobre o “texugo kinineyepi” que tocava sanfona oito baixos e era o único que tinha uma conexão direta com o Deus Gramanny. Todos os velhos queriam ter contato com o texugo gigante que vivia dentro de um lago verde lotado de pirilampos rosas onde não tinha como ter acesso, pois ficava do outro lado da colina. O chefe da aldeia se chamava Fgeusça e era chefe por ter perna nenhuma e nem metade da barriga - os que mais gastavam suas pernas tinham mais experiência. Ele não gostava do garoto galinha e resolveu reunir o conselho formado por uma banana, uma seriema e uma azeitona preta. O chefe disse que o conselho chegou à conclusão que Puzú devia procurar o Texugo para ver a mensagem que ele teria para a aldeia e tentar se curar, na verdade queria se livrar do nosso camarada, pois tinha medo dele. Jamyãnn tentou esconder o garoto, mas não deu e disse que iria prosseguir viagem com ele. O conselho não deixou, mas ele foi assim mesmo. Podiam, pelas regras, levar apenas quatro coisas da região. Jamyãnn levou um estilete, uma rabeca, um Box de banheiro e um frango assado com batata frita, farofa, arroz e pimenta malagueta (o que ofendeu um pouco nosso amigo). Puzú levou uma folha de palmeira, um maço de cigarros mentolado, roubado de sua avó, uma lata de milho verde e uma lancheira do pateta.
Caminharam três vezes à volta do ponteiro grande e chegaram em uma casa em forma de lata de cerveja. Saiu um velho – “Pere Jumbolêaue Jôá” – disse ele gritando e abrindo os olhos. puzú-titiká olhou feio e o velho disse: “calma, eu estou feliz como você”. “Como assim, porque está feliz?” disse Jamyãnn. – “Oras, eu esperava uma visita. Entrem, tenho uma surpresa”.
Eles entraram e avistaram na sala vários homens velhos jogando baralho em uma mesa. Um estava com a cabeça do outro na mão, que dava palpites e tagarelava, outro com o braço de um, este com o mamilo daquele, aquele com aparentemente um dedo apoiado na orelha. Eles apostavam partes de seus corpos. Quando nossos dois camaradas passaram pela sala, a cabeça disse: “Oba... ensopado de frango! Pode ser com legumes”. O outro, que apoiava a cabeça no colo, respondeu: “isso não é frango, é um sabiá inchado!”. Na outra sala, era uma biblioteca sem livros somente com estantes vazias. Sentaram cada um em uma poltrona e o velho disse: - “vocês tem certeza que querem ver o que tenho para mostrar”? – eles olharam um para o outro e afirmaram com a cabeça. O velho então tirou as botas que grudavam em seu pé, segurou as duas meias amareladas, torceu-as, limpou a testa suada com elas e jogou uma em cada um no meio da cara. – “Isso é o espírito, a verdade, o resto é um martelo de bater bife” e jogou o martelo de bater bife na cabeça de Jamyãnn que desmaiou por algum tempo. O velho de olhos estalados ainda disse: - “Você, meu amigo com asas, um dia irá sentir a onipresença do Deus Gramanny em sua jornada. Boa caminhada Lory Unnsy Medeiros e leve as meias com vocês, estão abençoadas”. Quando passaram pela sala, dessa vez desacompanhados, os homens que jogavam cartas já não estavam lá e quando nossos camaradas abriram a porta para sair, ouviram: “Hei, não me deixem aqui sozinha.” Voltaram e viram uma boca de bigodes encima da mesa. – “Eles me esqueceram, levem-me com vocês!” e assim fizeram prosseguindo viagem e em menos de meia hora Puzú-titiká não sabia mais o que fazer com a boca, pois ela falava demais. Jamyãnn achou isso um bom sinal. Pararam em uma fonte que jorrava suco de manga e foram saciar a sede quando a boca avisou que não podiam beber pois continha veneno. Jamyãnn não acreditou e tomou assim mesmo, Puzú preferiu esperar para ver o que ocorria com Jamyãnn que foi ficando cada vez mais vermelho e tonto até soltar um grande arroto e emagrecer cento e trinta e cinco quilos. Puzú não acreditou e quis tomar da fonte para ver se virava um menino de Firminus normal. A boca não deixou pois controlou através da conversa a boca de Puzú-titiká que relutava. No meio dessa briga de vontades, Jamyãnn começou a passar mal novamente e arrotou tudo o que já comeu em toda sua vida e sumiu. A boca e Puzú-titiká nada entenderam, mas o garoto chorou a perda do amigo e agradeceu a boca. Agora eles não sabiam o caminho, tinham que seguir a intuição. Ele falava que era para a esquerda e ela dizia ser para cima. Foram para baixo cavando um túnel com a lancheira do pateta que nosso amigo carregava e foram parar em uma fábrica de torneiras.
Avistaram uma mulher com olhos em forma de salsicha que repetia sempre a mesma coisa: “precisamos cortar o gás, precisamos cortar o gás”. Puzú perguntou o motivo e ela respondeu “precisamos cortar o gás” a boca disse: “você só diz isso?” ela respondeu a mesma coisa. Nisso passou um operário anão que disse “sai daqui, vamos colar o ar” e antes de mostrar o caminho, deu uma mordida no olho da mulher. Na saída, ouviram uma grande explosão, mas não ligaram para isso. Depois de uma breve caminhada, um anão pelado passou correndo e perguntou se eles tinham notado uma explosão, responderam que sim, o anão se desesperou mais ainda e falou: “tenho que passar sabão em alguns lugares cantando e não tenho como conseguir torneiras móveis”. A boca lhe contou sobre a fonte que jorra suco de manga, era só ele não beber e o anão disse que era boa a idéia. Perguntaram o caminho para encontrar o texugo kinineyepi e ele deu risada dizendo que ninguém nunca havia lhe visto, mas que ouviu dizer que ele vivia junto de pirilampos “azuis ou rosas, não me lembro. Se o texugo existe, ache os pirilampos e o achará” e saiu correndo tapando suas vergonhas, cantando e passando sabão na mata. Puzú-titiká sentou no chão e começou a chorar. Iria ficar perdido para sempre. A boca vendo o menino triste, pulou no buraco e sumiu. Mais sozinho ainda, de suas lágrimas surgiu um pé de pés sem unhas. O garoto roeu todas elas e de um broto apareceu uma menina loira e cega com o corpo parecido com o do velho. “Quem é você?” “Eu sou a menina salgada, apareço em pés de pés demasiada quando necessitam de minha ajuda, não chore. ande e rodeei na sua.” - disse a menina que olhava para o lado. “Não sei para onde ir” “você está abençoado, não se esqueça. Apertou? vá da cara e cheire a meia.” “Qual é seu nome?” “isso não interessa, cruzaremos novamente sem ter pressa.” E desapareceu na terra. Puzú pegou alguma mudas de pé de pés e disparou incentivado pela menina cega. Ficou com medo do silêncio que havia sem a boca e pensou em amarrar a meia no pescoço, mas ele não tinha braços e decidiu levá-la atrás do cabelo. Em menos de oitenta passos avistou uma imensa árvore com uma janela no topo, procurou uma entrada e não achou nenhuma. Estava indo embora quando ouviu da janela “Adeo Prekpobyne Genipó...” era o velho de olhos estalados que jogou um objeto lá de cima. Puzú tentou segurar e quando percebeu, era o martelo de bater bife que se chocou contra sua cabeça.
Puzú acordou com o cheiro de própolis e com abelhas no nariz (descobriu então que todos tinham mostarda no nariz para espantá-las), lembrou da folha da palmeira, fez três furos, cobriu seu rosto e deu uma olhada na região. Não havia nenhuma árvore, apenas um campo florido e muitas abelhas. Agradeceu por ter corpo de galinha, pois as abelhas não picavam. Nisso ele viu surgir um sujeito com o mesmo tipo de corpo da menina e do velho de mochila verde, bermudas, camisa cavada, chinelo de dedo, cabelos castanhos compridos com centenas de abelhas enroscadas nele e com um cigarro preparado na mão. “Isso faz mal” – disse Puzú apontando para o cigarro. “Eu também faço. Nós também fazemos. Todos fazem.” “Você viu pirilampos rosas por aqui?” “Vejo todo o tempo. Eles me seguem.” “Porquê?” “Porque eu comi a carne de Deus! Se eu vejo você, Ele está comigo.” “Você comeu a carne do Deus Gramanny?” “Dele e de todos os outros. Você também pode dar uma experimentada. Siga-me.” E andaram durante um bom tempo nesse campo onde não havia como ver seu fim. Pararam em frente a uma planta amarela cheia de pontas tortas. O rapaz disse: “Esta é a carne de Deus” “Qual deles?” “Todos.” Pegou um punhado delas e deu para Puzú mastigar. Ele mastigou umas também. “O que achou?” “Que gosto esquisito, parece geléia de amora com sumo de limão”. O rapaz apenas sorriu e deu-lhe uma tapinha na cabeça. Puzú olhou assustado e viu em sua mão uma raquete “pare de me dar raquetadas”, o rapaz respondeu: “Se você não ficar deitado, não dá para espumar.” Puzú ouviu uma música, a música mais linda que já ouvira, e começou a chorar de felicidade, o vento massageava como nunca havia antes e o céu ficou amarelo como o solo. O rapaz de mochila ficou com fome e atacaram a lata de milho verde que Puzú tinha. “Isso tem o sabor mais gostoso do mundo” – disse o rapaz enquanto comia. Puzú começou a ver as flores caminhando junto com as abelhas, tudo se mesclando em uma coisa só e acrescentou: “como tudo possui uma harmonia tão linda”. Após dizer isso os dois começaram a rir juntos e não pararam mais. De tanto rir, Puzú botou um ovo. As risadas cessaram para observar o ocorrido. O rapaz colocou o ovo na mão e ele desmanchou como areia. Começaram a rir novamente e Puzú disse: “E agora o que vamos fazer?” “Vamos dar uma volta” e caminharam sem previsão de nada, cada qual com seu caminho. Puzú viu uma abelha passar e dizer “bom dia”, outra, depois outra, até ele começar a passar mal, suas penas começaram a cair, sua visão entortar e de repente, ele deitou no chão. Uma das sementes de pé de pés caiu com o impacto e deu origem á menina cega. “Puzú você está bem? Vejo que sua visão está além” “Eu... comi... a .... carne.... de De..us” “Isso é um erro estonteante. Vou te ajudar a ser novamente ignorante.” E dizendo isso ela jogou pó de mico na orelha do nosso camarada e foi embora. Ele começou a tremer e se coçar até virar um menino com o mesmo corpo da menina, do velho, e do rapaz, com dois braços, duas pernas, dois olhos, duas orelhas, tudo igual e proporcional. Melhorou totalmente mas quando tentou levantar, caiu novamente por não estar acostumado com o corpo e começou a se arrastar como uma cobra. Observou o rapaz de mochila verde lá no fim do horizonte, que gritava e pulava histericamente, pediu ajuda, mas ele nada ouvia. Saiu então se arrastando até onde o rapaz estava e chegando lá perguntou: “Como faço para andar?” “Você não precisa andar, ninguém precisa” “Como saio daqui?” “Diga o motivo de sair daqui” “Quero encontrar o texugo kinineyepi” “O que toca sanfona oito baixos e tem ligação direta com o Deus Gramanny?” “Sim.” “Não sei, não preciso saber, mas se quiser sair daqui use a descarga que está ali e siga o caminho azul para chegar aos pirilampos.” Havia realmente uma descarga ali que Puzú não havia reparado. Agradeceu o rapaz entregando-lhe o maço de cigarros mentolado que roubara de sua avó “Valeu. Não tenho fogo, mas aceitarei assim mesmo” e deu um tapa na orelha em seu amigo, dando risada em seguida.
Quando se viu na floresta de novo, Puzú sentiu a vida sem graça e amaldiçoou sua volta. Queria que o texugo fosse plantar batata, mas tinha que encontrá-lo caso quisesse ver seu pai e sua mãe novamente. Não viu nenhum caminho azul e decidiu se arrastar. Ouviu uma rabeca e achou estranho. Olhou através da mata e viu Jamyãnn, gordo e feio como antes, tocando. “Jamyãnn?” “Quem é você?” “Sou eu, Puzú-titiká!” “Você está perfeito” “Estou esquisito!” “Perfeito” “Esquisito”. “O que aconteceu com você, Jamyãnn, depois de tomar aquele suco de manga envenenado?” “Descobri que aquilo não era nem suco de manga e nem estava envenenado, era o sangue do Deus Gramanny.” “E você sumiu, foi parar aonde?” “Não sumi! Virei um micróbio e depois um pirilampo rosa. Fui levado até o texugo kinineyepi e depois não lembro mais de nada.” “Você se lembra do caminho?” “Mais ou menos, vamos!” foram andando (Puzú se arrastando) até trombarem com uma marmota de óculos e fitas de vídeo na mão dizendo sorridente: “Desculpem, este caminho está restrito. Somente para pirilampos azuis” “Rosas você quer dizer...” “Não... Os rosas passam por cima. Qual o motivo de vocês quererem passar por aqui? Vocês nem ao menos são pirilampos!?” “Jamyãnn vai formar um dueto de rabeca e sanfona oito baixos com o texugo kinineyepi” disse Puzú-titiká. “Não vai, sei disso” Jamyãnn então deu um frango assado com batata frita, farofa, arroz e pimenta malagueta (o que antes ofendia um pouco nosso amigo Puzú) para a marmota que sorriu e disse “Vocês podem passar, mas terei que acompanhá-los”. Nossos dois camaradas não curtiram a idéia, mas aceitaram e em menos de uma hora chegaram em uma placa que dizia: “Fim de Firminus, volte ou entrará em Cannus.” Jamyãnn já tinha ouvido falar de Cannus, que era uma terra melada e fedida, habitada apenas por seres noturnos. A marmota entrou na terra gosmenta e foi, nossos amigos pensaram e Jamyãnn decidiu que era melhor Puzú morder sua batata da perna. Aí eles dispararam. De repente, surgiu um monstro feito de batom, tamancos, olhos e canetas. Comeu a marmota lentamente e pegou Puzú pelos cabelos. O monstro virou mandioca frita pois tinha tocado atrás do cabelo de Puzú, onde se encontrava a meia abençoada. Então eles comeram a mandioca frita e seguiram viagem sempre indo em linha reta. Mas a mandioca deu dor de barriga e eles então descobriram o motivo da terra de Cannus ser daquele jeito. Era necessário ter cuidado. Anoiteceu e os havia gritos na mata de origem abafada, eram, segundo Jamyãnn, os sapos Berllô-zõys com dor-de-cabeça que não gostavam de gente esquisita, nem de serem incomodados. Era só não pisar em nenhum, não invadir sua área e nem fazer cara feia, mas eles eram pretos e muito camuflados. Não demorou muito para Jamyãnn que era gordo e desajeitado pisar em um. O sapo ergueu-se inflou, inflou, inflou, (sempre fazendo o mesmo barulho resmungado: “Zrrstttastttstszzretst...”) inflou e ficou enorme. Jamyãnn foi engolido de uma vez só e Puzú-titiká começou a correr, mas como andava agachado, foi engolido também. É... os sapos Berllô-zõys eram complicados de se vencer, todos sabiam, sorte o Jamyãnn ter levado o estilete que explodiu o sapo por dentro e arremessou nossos dois amigos para mais longe, próximo ao lago verde. Chegando lá, avistaram um cogumelo imenso com um andaime e uma faixa dizendo “temos vagas para construtor de chaminés.” Passaram reto e ouviram “Janéy Timo! Como vai Lory Unnsy Medeiros?” não é necessário falar quem era. Era o velho.
O velho veio correndo na direção de nossos amigos e perguntou se alguém tinha um alçapão para emprestar. Puzú disse que não e Jamyãnn disse que só tinha um Box de banheiro e uma rabeca. “Me dê então o Box”. Pegou o Box de banheiro e saiu correndo em direção ao cogumelo quando bateu de frente com uma bisteca gigante. Nossos dois amigos ficaram preocupados e lançaram a meia em direção a ela, que partiu em disparada. O velho devolveu a meia (passou ela entre os dedos do pé algumas vezes) e olhando para esta, disse “Isso é o espírito, a verdade, o resto é um martelo de bater bife” e jogou o martelo para cima atingindo a própria cabeça. Os dois olharam o velho desmaiado com os dois pés próximos a nuca e seguiram viagem cada um com sua devida meia (a de Jamyãnn estava mais abençoada). Faltavam aproximadamente duzentos passos para chegarem ao lago verde (verde mesmo!). Chegaram até uma placa dizendo “Vocês saíram de Cannus, agora é o período de seca.” Entraram nesta nova terra meio árida e seus olhos começaram a secar e saltar das órbitas. Cada um colocou sua meia nos olhos e seguiram. Em menos de três passos, suas gargantas ficaram secas, suas orelhas avermelharam, eles começaram a emagrecer muito, Jamyãnn podia agüentar, mas Puzú era pequeno e iria sumir rapidamente. Jamyãnn então disse: “Puzú-titiká, me coma e assim terá mais carne para queimar e agüentará dar os duzentos passos”. Puzú não viu outra alternativa e assim o fez. Ficou enorme e quando chegou no lago tinha voltado ao tamanho normal. Ajoelhou na frente do lago (que era pequeno, do tamanho de uma mesa) e chorou. Um pé de pés surgiu e junto a ele a menina cega e boba. “Me diga o motivo por estar chorando? Você achou o lago.” “Perdi meu amigo” “Esqueça isso... entre no lago e ache o texugo kinineyepi. Tome, leve essa mortadela, talvez precise!” E assim fez Puzú. Mergulhou e logo percebeu um cardume de insetos que passaram dizendo em coro “Isso não é importante” e seguiram viagem. Imagens apareciam com turgidez na água: Um sujeito raspando o sovaco, galinhas com corpo de menino, O Conselho de Firminus, a marmota sorridente comendo frango, uma velha com a orelha inchada, Fgeusça coçando a metade da barriga e a parteira gritando ao olhar para Puzú. Ficou tonto com elas e desmaiou.
Acordou e estava no fundo do lago, onde não havia água, olhou para cima e viu milhares de pirilampos rosas dizendo juntos “não vale a pena, isso não é importante” sentiu o chão macio e percebeu que estava encima do texugo kinineyepi que possuía uma sanfona oito baixos em seu colo. Desceu e estarrecido perguntou-lhe “O que o Deus Gramanny tem a dizer para Firminus?” o texugo nem olhou, permaneceu fixo com o olhar. “Você tem contato com o Deus Gramanny?” o texugo continuou sem responder. Puzú esperou um pouco e perguntou “Você já viu o....” Arrrrrroooooouuuuutttttttt!!!!!!! – o texugo soltou um arroto de trinta e cinco segundos que cheirava a mortadela. Puzú-titika lembrou que carregava uma mortadela no bolso e ofereceu para o texugo. Ele nada fez. Puzú perguntou novamente “Você poderia me dizer o que o Deus Gramanny tem a dizer para minha aldeia” e o texugo nada respondeu. Puzú ficou tão nervoso que jogou a rabeca de Jamyãnn na cabeça do texugo. Saiu do lago, sentou na beira e chorou esperando a menina. Ela não apareceu, ninguém apareceu e ele voltou para a aldeia com um novo corpo, mas sem resposta nenhuma.
Quando estava no meio da mata, próximo de Firminus, após cruzar Cannus, ouviu uma rabeca tocando uma canção bela. Era o velho.