sábado, 10 de dezembro de 2005

Pintado ao molho de Scargot

O caso era que Afrânio era compadre de Majestosa. Também de Solupan, Neprozac, Neosoro, Troni, CG, Sal de fruta e tudo mais. Na casa nada faltava. Um dia, outro e estavam na sala.

- Majestosa, mude de canal. Cansei de ver futebol.
- Mas você sempre gostou de ver futebol até o fim.
- Mas não é o meu time.
- Qual é seu time? Não me lembro.
- São Paulo.
- Chove lá.
- Que?
- O que?
- Esquece.
- .....
- Afrânio, larga de mania de velho panrrudo. Lembro-me que gostava de correr balançando o saco no muro.
- Quero uma cerveja, velha. Pega uma cerveja.
- Você não toma cerveja faz vinte anos.
- Não trepo também?
- Bem menos.
- Marisgelo gostava de você.
- Isso quando em tinha peitos que não roçavam o umbigo.
- Como era belo esse tempo.
- Pare com isso, sou sua comadre.
- Na mocidade não era.
- Como era belo esse tempo.
- E a minha cerveja?
- Tem certeza que quer uma cerveja, Afrânio?
- E uma para você também.
- Meu filho deve ter algumas na geladeira. Vou ver.
- ........
- O que eu ia fazer mesmo?
- Cerveja.
- Há.
- Ser uma cerveja.
- ?
- Esquece. Quero propor um brinde.
- Que?
- Á nós?
- Uma noz?
- Sim.
- Glub.
- Gluck. Puáá...
- Que foi?
- Está azeda.
- Deve ser sua ponte, Majestosa. Deve ser sua ponte.
- Não, ela está realmente azeda.
- Sua ponte?
- A cerveja.
- A sua.
- Claro que é a minha, a sua não tomei.
- Que?
- Me deixa ver.
- Puáá... Viu? Está azeda! Falei que estava azeda.
- Mas que porcaria, Majestosa. Não está.
- Como pode saber? Não toma faz vinte anos.
- Que?
- Cerveja.
- ......
- Afrânio, fala comigo.
- Bleraghstki!!!
- Você vomitou em meu vestido, Afrânio. Meu Deus, que nojo!
- Pega meu Prozac.
- Que?
- Esquece. Cerveja tem validade?
- Será que está estragada?
- Prefiro uísque. Isso tomo sempre.
- Toma na boda.
- Uísque? Mas como?
- Nada. Ainda não mudou de canal?
- Gosto de futebol.
- Já acabou o futebol.
- ...
- ...A gente podia comer um bolo de laranja.
- Pega outra cerveja.
- Você não disse que estava azeda? Eu até vomitei.
- Acho que não estava não.
- Certo Majestosa, como queira.
- Quero.
- Toma.
- Tomo.
- ........
- Lembra de Lurdes Barbosa?
- Que?
- Essa moça da tevê me lembra ela.
-... Que?
- Me lembra...
-?
-... Lurdes Barbosa.
- Lembra nada.
-...
- Minha cerveja acabou.
- Você quer outra? Quer morrer de azia?
- Não.
- Então pegue você mesma.
- Pego.
- Então pega.
- Lurdes Barbosa? Meu Deus, como parece.
- Parece quem?
- Lurdes Barb... Esquece.
- Vou tirar esse vestido.
- Tomando cerveja?
- Está cheio de vômito.
- De quem?
- Seu, oras.
- Eu vomitei?
- Vomitou e tem cheiro de ovo.
- Não comi ovo.
- Que?
- Não comi ovo.
- Comeu ou é a mistura.
- Que mistura?
- Que cheira ovo. Muda de canal que eu já volto.
- .........
- Não mudou de canal, Afrânio?
- Essa apresentadora me lembra alguém.
- Já falei que é a...
- Maria Rosa?
- Lurdes, Afrânio, Lurdes, Lurdes, Lurdes!!!
- Lurdes? Que?
- Quero outra cerveja.
- Pega.
- Pego.
- Isso como chama que está na mão?
- Um dia chamou-se pinto.
- Engraçadinho. Refiro-me ao que está na outra mão, não a que coça o saco.
- Hum... É um bilhete de loteria.
- Ainda vale?
- Vale.
- Corre quando?
- Hoje acho.
- Quer mais uma?
- Quero.
- Toma.
- Glub.. glek,... Yeragh,.,,,
- Que?
- Quase vomitei, Majestosa.
- Então parou. Só eu tomo agora.
- Toma.
- Tomo.
- E esse bilhete?
- Que?
- Bilhete.
- Sim.
- Sim que?
- Que?
- Esquece.
- Muda de canal.
- Quero lembrar quem essa mulher parece.
- Eu já falei quem ela parece, dá o controle.
- Toma.
- Tomo, sim senhor!
- Esse canal serve?
- Para com isso Majestosa, qualquer um está bom.
- Qualquer um esse?
- Sim.
-?
- Sim.
-?
- Sim já falei.
- Gosta de programas de culinária?
- Isso é culinária?
- É.
- Certeza?
- Sim.
-?
- É sim, Afrânio. Que coisa.
- Certo, deixe aí. Essa mulher me lembra alguém.
- Vou pegar outra cerveja.
- Cuidado pra não atropelar o carpete.
- Tááááááááááá....
- Falei.
- Faz tempo que não bailo.
- Eu faço tempos também.
- Agora sim.
- Desliga o aparelho, põe um Gardel.
- Desligar? Está bêbada?
- Não.
- Que?
- Não.
- A cerveja está doce.
- Doce?
- É. doce.
- Como doce?
- Afrânio, larga de mania de velho panrrudo. Lembro-me que gostava de correr balançando o saco no muro.
- Lembro.
- Lembra? Então vem relembrar nessa velha aqui, vem.
- Que?
- Vem, Afrânio. Vem!
- Não, começou a novela.
- Começou?
- Sim.
- Que novela?
- Essa.
- Essa?
- Sim.
- Que?
- O que?
- O... Nada.
- Esquece.
- Esquece...