sábado, 10 de dezembro de 2005

Era apenas a amiga da minha irmã e ela...

Chutava ferozmente a lateral da calçada e batia um galho fino contra o poste ao mesmo tempo. Havia perdido a locomoção. O ônibus que realiza o trajeto Vila Sibila/Lapa não passaria mais. Ficou pensando antes disso que talvez o ônibus atrasasse três minutos de igualdade como ele, mas o passado pentecostal, diziam as igrejas, permaneceu fixo a ponto de devolver três novas batidas ao pensamento em direção ao poste. Bateu a mão e gritou.
Era o cara que pensavam ter se espairecido totalmente mais constatido estava como nunca. Sinal grosseiro para a velha foi constante durante seis vezes. Durante seis vezes foi constante, ou se constante não fosse, talvez, seriam duas, pois. Ele era legal, dizia a vizinhança. Pessoa humilde, gritava caralho de vez em quando mesmo sabendo a existência de várias crianças no ambiente, mas era um sujeito legal. Poucos amigos, poucas mulheres, uma irmã e dezessete assassinatos registrados na vizinhança. Como bebia o desgraçento. Fazia questão de passar mal e mão. Como era legal nosso amigo Juvenal.
Juvenal tinha uma irmã, muito feia, de nome Constantinopla (Era feia de verdade, botem fé) e que devido ao fato, faz deste um conto intimista. Persuadida pelo pai autoritário, se dava ao luxo de lhe regar os lábios peludos do bigode de seu progenitor com os lábios peludos que Deus a dera. Somente de vez em quando e ninguém nada sabia. A casa, dois quartos, um cômodo, beliche e cozinha foram pintados de azul propositalmente pela falecida Dona Epinhamonas que já não se fala mais tanto. Juvenal odiava a cor da casa, mas não pronunciava.
Chegou em casa. O pai autoritário perguntou e marcou-se castigo durante a semana. Tinha ele quatorze anos de idade e tinha que ser Doutor. Sua aspiração era ter um tostão para ir comprar revista. Ele então perguntava o valor e voltava satisfeito e o capital continuava pro pai. Ela, a irmã, sorria todo momento e sentia necessidade filantrópica. Ninguém ajudava. Somente o pai. Eram os três e iaô levando o barco.
O ônibus era especial. No bairro da Lapa se encontrava a namorada de Juvenal que conhecia-o somente por cartas. As vilas eram afastadas e não valia tanto a pena, sendo que nem por telefone a comunicação era possível. Não era a amiga da irmã. Infelizmente é outra.
É de manhã, sol, pingos dela e o dogão em frente amanheceu pichado. Não dava para entender. Em direção á escola (havia repetido a segunda série duas vezes) ia cambaleando tentando acordar quando trombou numa véia que lhe conhecia e causou risada no seu Ademar, idoso da frente que ficava em uma cadeira até as duas da matina vendo o movimento. Treze horas até o intervalo, pensou, mais eram três, vejam bem vocês. Ouvia os comentários dos amigos sobre as mais putas da escola e infelizmente a mais cotada nas conversas era justamente a que ele era apaixonado: Maria Cristina ou Maria Boca-gulosa segundo outros.
A diversão dos mais velhos no pátio era enfiar gelo na cueca. A autoridade era constatada através disso. Thiagão era quem mais colocava, a molecada corria de medo quando ele vinha com gelo na mão. Juvenal estava puto com a perda da merda do ônibus, a namorada sem rosto, o castigo de uma semana, a beleza da Maria Cristina ou Maria Boca-gulosa e mesmo assim foi o escolhido. Ao contrario do que os amigos esperavam, ele levantou e gritou “Caralho! Seu Viado.” Thiagão ficou vermelho e... chorou. Deu um murro no nariz de Juvenal que desatou a sangrar em excesso.
Quinze minutos depois. Os dois na diretoria. Devido ao fato da diretora ser feia como o capeta, Juvenal pensou em suborná-la como via o pai fazer com a irmã, pois não podia levar outra suspensão já solta novamente. Pediu para retirar Thiago da sala e conversar a sós com o dragão de autoridade. Ela disse “pois não”. Retrucou dizendo que uma penetração tudo bem. A diretora passou a chorar. Suspensão duas semanas.
Como era legal nosso amigo Juvenal, pois vejam: Todas às vezes na saída da escola ajuda o mendigo com um garfo na mão e nada na outra lhe dando um biscoito. Seu Adélio, colega da molecada. Fedia muito.
Após comunicar ao pai autoritário esperava que o castigo se triplicasse, porém a irmã havia acalmado o sujeito. Tão esparramado estava no sofá que além de não dar castigo nenhum ainda liberou Juvenal do castigo inicial. Sem escola, sem castigo, sem porra nenhuma pra fazer, podia pegar o trajeto Vila Sibila/Lapa sem nenhum interrogatório. Esperou ansiosamente as horas irem à paz. Quando a paz chegou já era horário do ônibus. No ponto encontrou uma mulher de cabelos negros, lisos, longos, pele tatuada e mascava um chiclete com uma filha nas mãos e um gordo fumando um cigarro do lado. Pediu um cigarro embora fumasse raramente e calmamente fitou a moça “se eu pudesse ler seus pensamentos saberia de tudo que já aconteceu até ela estar aqui no mesmo ponto que eu esperando o mesmo ônibus que eu e então poderia eu fazer uma breve comparação com a minha.” E de tanto eu e de tanto minha, ficou a rir tragando e olhando a locomoção parar.