terça-feira, 14 de novembro de 2006

Amanda

Sempre nos encontramos com a vontade de matar alguém lentamente, bem ternamente. Pois, pensando eu em várias imagens, ainda não sabia como dar cabo a vida de Amanda, aquela que sorria todas as manhãs quando eu me encontrava disposto ou indisposto, cheirando vinagre, procurando o fim da cama, ao urinar todo dia de manhã levando um copinho para exame de rotina, de qualquer modo, deveria ser um jeito que orgulhasse Dona Alva. Agora em minhas mãos tal beldade se dispunha e para meu encanto, podia fazer a minha cabeça funcionar com desenvoltura e sagacidade usando clássicos sem beirar o banal, uma obra típica do classicismo francês em sândis, quadros de abelhas. No mais, preferi não pensar ao deixar alguns objetos preparados, talvez quatro, cinco que fosse, mas a soma algoz de uniões objetos-contextuais deveria porvir da busca de plenitude, certo que sentei Amanda nua em uma cadeira, confortavelmente, enquanto esperava ela acordar do clorofórmio, tratei de pôr o Réquiem de Domenico Cimarosa, pois a perfeição estaria em completar a minha obra quando a música acabasse. Fiz a escolha, cautelosamente e com muito carinho: Um martelo, óleo, um cano oco, pregos, álcool, fita, bola de tênis, uma furadeira, frigideira, arame farpado e colher. Ao que Amanda acordou em vã surpresa, dispus da colher de sopa em minha agora pasta especial e encaixei cuidadosamente em seu olho direito, tentando afundar enquanto ela gritava, mas a cartilagem era extremamente dura, vendo isso comecei a martelar a colher até que fincou inteira, num só movimento, e pude arrancar aquele caroço semi-despedaçado. Era hora da mordaça, não sem antes colocar cuidadosamente uma bola de tênis em sua boca, mas fiquei com medo que ela engasgasse com o sangue e aprontei uma fita com pequenos furos. Seus gritos agora eram abafados, não que precisasse, mas me fazia ter maior concentração. Enchi de álcool o olho arrancado e coloquei de volta na órbita. Contemplei um pouco a cena, liguei minha furadeira, no meu quarto haviam várias tomadas, e comecei a cutucar o umbigo devagarzinho, encostando, tirando, encostando mais forte, tirando, com muita plenitude, e iam soltando pequenos fiapos de carne que dançavam e pairavam pelo ar em um espetáculo peculiar. Cessei a furadeira quando percebi que estava indo longe demais e talvez cometesse óbito próximo, não era hora. Levantei suas pernas encharcadas de sangue, amarrei para cima, e peguei um cano oco enrolado com arame farpado introduzindo-o inteiro em seu cu. Deixei ali, desamarrei a mão esquerda e segurando dela com muita força, fritei numa frigideira até ficar com alguns pedaços com aspecto de um saboroso hambúrguer, onde comi uns nacos e enfiei alguns em seu nariz, depois disso, voltei ao cu, tirei o cano primeiro, segurando para não escapar o arame e depois puxei o arame com força e rapidez. Por fim, era vez do meu último elemento, já haviam passados os principais movimentos de Cimarosa e iniciava-se o Benedictus, peguei um martelo e comecei a pregar lentamente no nariz esquerdo e no direito, martelando ora um, ora outro. Ao chegar até a haste, percebi que ela desmaiara, mas continuava com leve pulsação. Descarreguei o vidro de álcool em seu corpo, agachei de joelhos e fiquei olhando fixo em seus olhos, um fechado, outro quase saltando da órbita, podendo jurar que vi, no meio do movimento final, o Communio (Lux aeterna), sua alma se esvair. Coloquei-me de quatro a apreciei o sabor de todo o sangue no chão, ao levantar, era tudo tão belo, tão lindo que quebrei a obra para satisfazer o ego maldito. Foi que deitei sobre seu corpo ainda quente, penetrei, e olhando fixamente ao único olho aberto, o depositado, gozei quase que instantaneamente sem fazer ao menos um movimento. Levantei, beijei sua testa e fui comunicar a Dona Alva que tudo havia sido demasiadamente perfeito.