segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Armário

Abri suave o armário, sempre abro e fecho duas vezes ou mais, para ver se consegue pegar vento na cara, e dou três chutes na sobra, como um ritual completo, “me levanta e sacode a cabeça”, como de contínuo vi nesse armário, que eu pintei violetas amarelas e colei impressões, textura rubro fosca, minha fantasia de homem-rã, uma calça ocre, meu chapéu de aba larga e uma caixa de charutos onde guardo fotos com ex-habitantes da casa e badulaques. Lá estava ela, a fantasia, ainda salpicada delicadamente de sangue seco, de que lugar mais colocaria o manto sobre a face e sentiria o cheiro de minha respiração daquele dia, fato, ainda senti o odor da urina de Fernanda, talvez fosse o cheiro de mofo da madeira, ou ainda o malogrado na minha escovada de dentes, enfim, vesti-me apressadamente e saí no corredor, em mando, ao aposento da elegida que me trepou de pronto, assim que abri a porta, com veracidade, já nua, enquanto eu ainda estava de pé na porta e repetindo movimentos frenéticos gritava espumando, o homem-rã abalizadou por blindagem. Joguei-me bruscamente, de quatro no chão, ao consumar o fato, cuspindo o aparelho da respiração, se que um fio de saliva dimanou-se de minha boca e tocou o piso como plumagem, ela segurou meus testículos por trás de mim e deu umas palmadas fortes, virei de frente, deitando de costas no chão, e repeti que abrisse a cortina, pois tinha sol demais no meu pé e estava eu com frio, deitou-me sobre mim e enfiou o dedo médio em minha orelha esquerda, fazendo movimentos circulares, lambeu meu supercílio. O quarto começou a abafar inda mais, a porta ainda aberta, observei uma sombra, semelhante a um javali cabeludo, mas era a governanta pedindo, Fernanda se afastou, e o antes porco montês levantava a saia preta e sentava sobre minha virilha, meu pau assaz pusilânime e moribundo não dava sinais, e no bombeamento de inda e vinda comecei a sentir calor forte na glande, quando a dita se desfez em êxtases, mesmo sem penetração aparente, deitou-se depois sobre mim e pude apreciar como a bocada de respirar é deleitosa, levantou, dando-me alívio, e ficando eu sentado, vi que mais de dois terços de pele da minha glande tinham se espalhado pelas minhas coxas, assado e ardendo, cabisbaixo, voltei até meu quarto, pendurei o homem-rã no armário e acenei pela janela, Honório tomava sol pelado nas hortas, havia um chapéu em suas prestes, abri a janela e saltei, tomei impulso correndo e chutei sua cara.