domingo, 8 de janeiro de 2006

O anão e o palhaço Faustino

Sentado na cama, o palhaço Faustino punha munição em sua arma com o cigarro apagado na boca. Tremendo a mão deixou cair duas balas. Apanhou-as de volta, colocou-as e apontou para o anão pelado arrancado á força do banho. Estavam dentro do trailer do Circo Mascavo.
- Eu vou te matar, anão desgraçado. Vou te matar.
- Fausto, somos amigos á quase trinta anos, não faça isso.
- Amigos? Não me fale essa palavra. Ajoelha. Ajoelha. Quero acertar sua cabeça, filho da puta. Vai, ajoelha.
- calma... Pronto ajoelhei, não faça nenhuma besteira.
- Besteira? Besteira é o que fez comigo, filho da puta. Filho da puta. Quase trinta anos de circo, seu filho da puta. Quase trinta anos!
- Desculpa, Fausto. Desculpe.
- Desculpa? Fausto não. Palhaço Faustino.
- Desculpe, palhaço Faustino.
- Porque fez isso, seu desgraçado? Confiava em você. (deu dois chutes no estômago do anão)
- Calma, Fausto.
- Calma o caralho. (pow, tiro na perna esquerda)
- Ahhhhh.....
(pow, tiro na perna direita)
- Howwwww....
(pow, tiro no ombro direito)
- Gréééé.....
O palhaço pegou a mão direita do anão “Essa mão, que me aprontou... toma.” Deu um tiro nela.
- Huuuu.....
Acendeu o cigarro, abriu a geladeira enquanto o amigo agonizava no chão e pegou duas cervejas. “Toma” Deu uma pro anão. Propôs o brinde, mas o anão cuspiu em seu rosto. “Filho da puta” E chutou o anão na barriga, quando ouviu alguém bater na porta. “Fica quieto, anão desgraçado. Quem pode ter vindo bisbilhotar?” Abriu lentamente e porta e viu Cirilo, o domador de leões acompanhado de metade do circo. “Está tudo bem aí? Ouvimos tiros” “Pow” Deu um tiro na cabeça do domador e entrou. Espanto do povo que saiu correndo. ”Tá vivo ainda, seu filho da puta?” O anão tomava cerveja e chorava sentado em uma poça de sangue. “Virão atrás de você.” O palhaço pegou na mão direita baleada e apertou, gritou no meio do grito “Anão desgraçado, morre!” “Quantos sermões já ouvi de você, palhaço! Quanto coisa aturei pra acabar sendo morto! Posso mijar?” “Mijar, anão desgraçado? Se você conseguir se levantar, pode.” E o anão mijou sentado. “Vou morrer pelado e mijado!” (Íon) Merda. A polícia. Enfiou a cabeça pela porta: “Tenho um refém” Voltou, abriu a geladeira e pegou mais duas cervejas. “Obrigado” “Porque fez isso comigo, anão desgraçado?”, “sabe muito bem que meu nome é Astolfo. Obrigado por me chamar de anão desgraçado na hora da minha morte!” “Toma!” Pow. Um tiro do lado da barriga. “haaaaa!” Os policiais ficaram atentos ao que podia estar acontecendo lá dentro.
- Veja, acabou a munição. Mas eu sou um palhaço precavido, sou, sim senhor, tenho mais quatro balas.
- Pra que mais quatro balas? Vai enfrentar a polícia? Eu já estou morto, mesmo. Questão de tempo. – disse o anão cuspindo sangue.
Toma. “Pow.” Deu um tiro no dedão do pé do anão.
- Anão desgraçado. Morre!
Enfiou a cabeça na janela:
- Vou me entregar, mas quero um padre!
- Quantas pessoas estão com você? Estão mortas, feridas? – um policial gritou.
- Tem três pessoas comigo. Uma está morta, as outras intactas. Traga o padre.
- Calma, vamos providenciar.
“Tá vivo ainda, anão desgraçado traidor?” “Não agüento mais de dor.” O palhaço foi até o espelho e removeu a maquiagem e o nariz de plástico.
- O padre chegou! – Gritaram de fora.
- Tragam ele aqui.
“Olá padre.” “Meu Deus. Esse pobre rapaz! Você o matou! Cadê os outros dois reféns?” “Não existem outros dois reféns e ele não está morto!” “Por enquanto, não estou.”
- Fala, meu filho, por que me chamou?
- Abençoe esse anão maldito, não quero que ele vá pro inferno. Foi um grande amigo meu.
- E você? Acho que é quem mais precisa.
- Não fiz mais do que o certo, padre calhorda. Faça isso agora mesmo.
E fez. Toda a cerimônia pro palhaço que chorou. “Obrigado padre, obrigado.” E deu um tiro na testa do padre que abriu um buraco na parede. Descarregou a arma no anão já morto, saiu, foi algemado e voltou pro circo treze anos depois.