sábado, 14 de janeiro de 2006

Lola

Estou com saudade, Lola. Estou com saudades. A porra das bitucas fedendo o quarto. A merda dos pensamentos e as mesmas frases. A falta de segurança emocional, o desejo de te ver todo minuto, pois você é a única coisa nova de todo o velho. Mostrou o mundo de utopia. A noite, as moradias, os semelhantes, o jantar feito por cinco pessoas de vinte e três anos na média. A cerveja depois disso, a amizade sem compromisso, o apartamento... Tudo isso exala você. Sabor de sonho. Não sei se me remete a essa idéia ou participa dela. Depois de uma chapada de vários elementos distintos, por várias vias, entrar no quarto ás seis horas da manhã quase não conseguindo andar, me controlando para não vomitar e você lá. Deitada na cama com um pequeno espaço minúsculo para eu poder me deitar. E deito. E você acorda e me abraça. E você me beija. E você dorme. E você acorda de novo. E eu durmo. E você dorme. E nós acordamos uma hora depois e transamos. Mesmo com outra pessoa dormindo no quarto. E tomamos banho e dormimos, e deitamos e você com minha camiseta suja de anteontem e você vai embora ás cinco da tarde e esquece os óculos. Você almoça. Você me chama de “lindinho” só pra encher o saco. Você. Você. Você acentua meus defeitos, você me mostra o quanto sou burro, você diz que gosta muito de mim, mas não diz que ama embora dissesse há um tempo. A gente fica um tempo sem se ver. Se vê de novo e você chora. E eu choro. E vou embora. Ando três quarteirões, volto, choramos e tudo fica bem como se fosse máscara forçada. Mas eu não sei. O sabor, o momento, A raiva e inveja que sinto com sua liberdade e intelecto. E a sua naturalidade e o seu desejo. Estou com saudade, Lola. Estou com saudade, Lola. Você chegava a casa nos mesmos dias, ás vezes um dia antes, ficava dois fins de semana, ficava um dia só, mas ficava. Diz estarmos juntos, diz estarmos indiferentes, diz não saber, critica, maltrata, ama, geme. Impede de eu tomar banho contigo e depois toma dois, impede de eu lhe comer, me beija forte, me beija fraco, aperta no corpo, aperta no colo, deita entre minhas pernas enquanto conversa com o amigo gay. Liga tarde. Liga cedo. Não sei mais de nada Lola, não sei mais de nada. Nada. Eu tenho medo. Você dizia ter medo, não dizia ser certo. E ficávamos bêbados juntos comendo brigadeiro temperado, aditivado. E não conseguíamos olhar uns pros outros de tão chapados que estávamos, porque a história era estranha. É estranha. E eu te conheci enquanto dormia. Quase dois anos antes, quando você me acordou com um amigo meu para irmos a uma festa. E eu te olhei. Soube que gostava de Piazzola e eu te desejei. E fomos em dois grupos. E eu te desejei, você ficou com um cara depois de duas horas que eu não tomei a iniciativa e o beijou freneticamente, amassou, empurrou, lambeu. E hoje estamos aqui, ali, comemos lasanha juntos e você diz que gosta muito de mim depois de um mês sem nos vermos. Mas fala isso depois de umas doze horas juntos. Estou com saudade, Lola. Estou com muita saudade.