quinta-feira, 29 de maio de 2008

Emergindo tardio e inesperado da massa é descoberto mais um paranoial.

A testa está tão retorcida e encharcada que os olhos ficaram totalmente vermelhos, irritados pelo banho constante e inevitável provindo do escorrimento da transpiração facial incontrolável e abundante. Suando frio, pálido e sentindo-se tonto, olhando há quase meia hora fixamente para o caderno que está com quase três linhas rabiscadas á lápis numa ortografia ilegível para a grande maioria, ainda não fez um só movimento durante essa meia hora, costas curvadas, um fino e transparente fio de baba escorre de sua boca semi-aberta. São duas horas da tarde e o sol bate cheio, generoso, em sua janela fechada. Talvez a única janela fechada numa extensão de quinze quilômetros. Uma mosca-varejeira de um verde metálico pousa no caderno. Seus olhos saem da parede bem divagar até a fitar. De repente, num espasmo, ele grunhe mordendo a língua e dá um tapa barulhento nela. Não sabe se conseguiu acertar o golpe ou se o inseto esquivou-se. Na verdade não importa. Importa que o barulho acabou. Pega o lápis, risca, rabisca, risca novamente e então pausa olhando de novo a parede. Os ciclos repetem com variações pequenas, singelas até que atingi a madrugada. No meio da cidade aberta, cinza e sonolenta, é revelado mais um paranoial.