domingo, 31 de dezembro de 2006

Nesses dias

Nesses dias, mesmo passeando ao luar da Choupana Blenda, ainda discorria com ardência sobre os dois curadores que viriam em breve á pensão - o Braz Victorio, o homem novo da parte dos Castelões, e o velho Tosquia de São Fulgência, chefe clássico de bunda avermelhada e dotada de espinhas prestes a eclodir, inclinado esse último para os feitos afluxos, porque isso lhe representava de acordo com a tradição idéias de conservantismo, de elegância culta e de munificência reacerbada, pois quando esse velho regressou das férias hodiernas deslocando-se para o local já não refervia na pousada o cenáculo ardente dos residentes. Que Castanheiro! Vegetava antes na Vila Rica de Minas: com ele Capitão Osório, desaparecera, mas não aludiu uma bombada na face em duas partes, tinha barba e dificultava, e ou recuara ou se esquecera desse fato, e os moços zelosos que na Biblioteca da pensão esquadrinhavam as letras de Domingos Olímpio, desamparados, o Dr. André, que depilava as bochechas com acuidade e não dava muito na cara, duas correspondências muito acerbas, dum rancor intenso e pessoal (a ponto de gritar palavras em alemão), assinara seu nome com caneta estereográfica no rego do Doutor, como outrora o pai, quando publicava comunicados amorosos de Oliveira na Gazeta do Estado, jornal amigo, proclamavam a necessidade dum "guia prosaico" e dum largo “fomento copal", que consideravam como leviandade chula a irreverência do Velho Tosquia. Voltava mudado, de luto pelo amistoso que morrera em agosto, com a barba crescida, sempre cordial e suave, porém mais grave, avexo a orgias e a noites errantes, tomou um quarto na pensão, onde eu fui encarregado de servi-lo, de gravata branca, pelado, e os seus companheiros preferidos foram três ou quatro rapazes que se preparavam para deixar a casa. Muito sério, um sobrinho do Bispo de Oliveira, não disfarçou o seu assombro, freqüentou então o quarto, onde era aconselhado à noite, tomando chá preto, depois, logo na primavera, desmanchou alegremente esta gravidade servindo canecas até a borda com água da latrina, e ainda tresnoitou, em bacalhoadas festivas, entre o estridor das guitarras, realmente só na páscoa retomou para sua cidade natal, onde me senti mais entretido e mais confiante, agitando o braço esguio, me despedindo, ante um sujeito obeso, de espaçoso colete branco, que recuava, com espanto, assim perturbado no quieto gozo do seu grosso charuto e da doce noite de maio.

sábado, 23 de dezembro de 2006

Flamengo

Freadamente descia de rolimã pelo terraço, um instrumento de corneadura estava alterando meadas e eu levemente atenuado, pelo dia das forças armadas, fiz o looping final e caí em perfeita harmonia á romã colocada pé ante pé sobre o asfalto, amigos de resinadas, curetando pulei deste modo até o final do dia. Os movimentos da descida se alternavam entre as rodinhas de plástico, e eu percutindo, boca gritando uma vogal qualquer, semi-moleque enserepado, caías de cócoras, ventas esfoladas, joelhos desbeiçados, jovial. Levantei e sorri para Fernanda Del Falo, repercutiu, e percebi um dente mole, recém boistetido, que durante o movimento caiu, apreciei o novo visual e me derivei novamente até o declive, limpando o sangue no nariz com a camisa, cuspindo o da boca, ouvia aplausos de baixo, a competição estava finamente principiando. Fui acordado por Genésia, irmã de Acelga, durante um ato de masturbação coletiva, pois vejam se caso em início de carreira me fosse, o segredo do pomar, cálido e taciturno, olhe eu que moribundo, continuei sobre a laranja-mimosa danada, esses ternos trens de agora, se me resta hora, falarei a verdade, desculpe meu pinto, sim, esse milonito, maldito, furunculando meus ascídios, que maviosidade, veja, e desde então tenho tomado cuidado com Cartões dos Correios Promocionais, levarei direto nesse momento. Táxon, Levantei da cama após essas reflexões casuais e não permiti á ninguém tirar sarro da minha face refrenida, embora se movimentando, enfim, caído soteciurno, lamentei de ser um bosta, um desvencilhado perdido no calmo da tarde, um verme roedor sendo esmagado ao carcomer um animal silvestre atropelado numa estrada intermunicipal, sendo o animal já feito em folha, não recolhido. O quarto exalava um cheiro que me atordoava funebremente, quase cálido de tão rouco, desmaiei novamente, voltando enciumado, como se alguém estivesse lá, o roubando, ao sonho do carrinho de rolimã, períodos de cabritinho na casa de Dona Alva, mas acordei com a chupeta de Genésia em meu membro flácido, emputecido com a perda total do sonho para outrem, dei um soco na cara da maldita com tanta força que ela mordeu meu pau. Oras, saiu um fio de sangue e me desassosseguei, já pensando como seria minha vida dali pra frente, e nessa distração de preocupado, nem vi que já havia ejaculado. Era um dilúculo de abril, mais um dia qualquer, em que orvalho, carrinhos de rolimã e gordas tetudas se miscigenavam por concluído.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Armário

Abri suave o armário, sempre abro e fecho duas vezes ou mais, para ver se consegue pegar vento na cara, e dou três chutes na sobra, como um ritual completo, “me levanta e sacode a cabeça”, como de contínuo vi nesse armário, que eu pintei violetas amarelas e colei impressões, textura rubro fosca, minha fantasia de homem-rã, uma calça ocre, meu chapéu de aba larga e uma caixa de charutos onde guardo fotos com ex-habitantes da casa e badulaques. Lá estava ela, a fantasia, ainda salpicada delicadamente de sangue seco, de que lugar mais colocaria o manto sobre a face e sentiria o cheiro de minha respiração daquele dia, fato, ainda senti o odor da urina de Fernanda, talvez fosse o cheiro de mofo da madeira, ou ainda o malogrado na minha escovada de dentes, enfim, vesti-me apressadamente e saí no corredor, em mando, ao aposento da elegida que me trepou de pronto, assim que abri a porta, com veracidade, já nua, enquanto eu ainda estava de pé na porta e repetindo movimentos frenéticos gritava espumando, o homem-rã abalizadou por blindagem. Joguei-me bruscamente, de quatro no chão, ao consumar o fato, cuspindo o aparelho da respiração, se que um fio de saliva dimanou-se de minha boca e tocou o piso como plumagem, ela segurou meus testículos por trás de mim e deu umas palmadas fortes, virei de frente, deitando de costas no chão, e repeti que abrisse a cortina, pois tinha sol demais no meu pé e estava eu com frio, deitou-me sobre mim e enfiou o dedo médio em minha orelha esquerda, fazendo movimentos circulares, lambeu meu supercílio. O quarto começou a abafar inda mais, a porta ainda aberta, observei uma sombra, semelhante a um javali cabeludo, mas era a governanta pedindo, Fernanda se afastou, e o antes porco montês levantava a saia preta e sentava sobre minha virilha, meu pau assaz pusilânime e moribundo não dava sinais, e no bombeamento de inda e vinda comecei a sentir calor forte na glande, quando a dita se desfez em êxtases, mesmo sem penetração aparente, deitou-se depois sobre mim e pude apreciar como a bocada de respirar é deleitosa, levantou, dando-me alívio, e ficando eu sentado, vi que mais de dois terços de pele da minha glande tinham se espalhado pelas minhas coxas, assado e ardendo, cabisbaixo, voltei até meu quarto, pendurei o homem-rã no armário e acenei pela janela, Honório tomava sol pelado nas hortas, havia um chapéu em suas prestes, abri a janela e saltei, tomei impulso correndo e chutei sua cara.

sábado, 2 de dezembro de 2006

pois se lhe dão odes...

Abriu-se, escassamente, um leque de frenagens características do finado estojo apostilado no cambiante semi-infrutífero, quase freneticamente ressecado por venturas de meão ou até se mi, por imediato, se a dupla vida encher e extra, a personalidade está se contrapondo em um curto capeamento nas suas açoitadas carregadas, uma descarga nas linhas de expedição potencial, onde pastores e pastoras levavam suas ovelhas e se divertem cantando, justamente em contraposição ao Barroco. Ao pé da letra, naturalmente, significa "mediocridade do metal amarelo", mas deve-se entender a acepção inédita do termo “anódino”, sem os desvios que o povo costuma impor no italiano original. Domenico de Masi, por exemplo, mais experimentado por seu alfarrábio ócio fecundo, reeditou, explanou sobre a admirável obra do loyolista Baltazar Espanha, encontrando conforto nos ombros amistosos de Jonas Grisams, dos palcos coelhos, e Sidenys Shedons, que na época tinha dito mil lindezas aos poetas, sendo assim a maior novidade daquele ano consistia em jazer nesses engenhos que nos pinta de atracar, pois que nas primeiras apreensões de alvará das anedotas ninguém pode, sem petulância ou inconsciência, nem ao menos gabar-se de discriminar explicando rispidamente nas morais do seu principal genitor, quarta condição de gente de homens, que servem a outros por soldada que lhe dão ode, mas não se diferenciariam notavelmente do arrabalde da cidade autóctone em que não se faz reminiscências, influências, enfim, contudo versos imitados é a única boa maneira que essas pessoas se depararam para transcender a mundanidade como “Esbraseia o Ocidente na agonia, o sol...”. Creio que eles são miras sustenidas pela épica pós-moderna, o homem deve agir, mas com toda a sua personalidade viva e empunhada, e, entretanto privada da aragem, por que sua aragem depende do seu aqui e agora? Ela não padece de qualquer imitação, afinal?

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Acontece rotineiramente

Acontece rotineiramente que os autores de romances, mesmo tratando-se do conde, aparentemente, lhe deram sinal positivo de combater os vícios, apresentam-nos com tais cores, pensam aqueles ao reclamar da renitência, que por esse mesmo fato fazem como reagir com um moralismo oposto. Os jovens sim, vão, se sintam atingidos de vigência plena, máxima, substantiva, atraídos por vícios dos quais, enquanto inutensílios, conviria não falar qualquer que seja o mérito literário dessas obras, elas só podem ser publicadas se tiverem em vista um fim verdadeiramente “tensão-moral-interna”, de mim, deixo os lastros éticos ou patrióticos num idioma que lembra aproximadamente o norueguês atual, com exceção das relativas, levemente amorosas e otimistas na restauração e na era Augustiana, como uma ênfase no comportamento cavalheiresco e nobre, e um colorido religioso. Na minha peça, um casal de donos de mercearia trata em voz elevada com comediantes artifícios encenados na desenvoltura catequética do drama, pois ele se veste de cavaleiro exímio, um homem estudado com uma extensa biblioteca, escrevendo proliferamente nos ramos da ciência: metafísica, religião, química partidária, filosofia, medicina, culinária, e esoterismo. Como reação, tornando-se centro das atenções ao depauperamento de supervalorizada, exclui-se toda anormalidade, referência estritamente local aprisionada no ambiente urbano, quer o homem registrar com antecedente nostalgia, ou ainda afastado de conflitos idealizados do bucolismo, um poema que repousa. Dizia o Carne, afinal tranqüilidade vem de idade e idade vem de mendicante, veja, quando escrevo a segunda palavra já escrevi a primeira, mas se houvesse uma terceira não seria a seguinte da quarta, tão pouco a última da quinta, sim, observe, ”dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!” ocupa várias cátedras na magistratura portuguesa.